O ki vc acha do internetês?
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possu fik nm + 1 min com vc
sintu mt mô + naum podi sê
moru em jaçanãnnnn
xi eu perdê essi trem
ki sai agora as 11 hr
só amanhã di manhã
MANUEL
ALVES FILHO
O
compositor Adoniran Barbosa, nome artístico do valinhense
João Rubinato, jamais poderia imaginar que uma das suas
mais conhecidas obras, a música Trem das Onze, clássico
do cancioneiro popular brasileiro composto em 1965, um dia
seria traduzida para o internetês. Mas foi. A nova linguagem,
própria do mundo virtual, ganha proporção à medida que novas
levas de pessoas são incluídas no espaço digital. Por conta
desse avanço, despontam na web comunidades linguísticas
favoráveis e contrárias a essa forma de expressão grafolinguística.
“Há um movimento de identificação com esse tipo de linguagem
e com o modo como ele é usado no âmbito da informatização,
embora também seja possível identificar resistências a ele”,
analisa Marisa Ganança Teixeira da Silva, que defendeu recentemente
tese de doutorado sobre o tema. O trabalho, orientado pela
professora Suzy Lagazzi Rodrigues, foi apresentado no Instituto
de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp.
Em seu estudo, Marisa procurou
compreender os modos de funcionamento do internetês, da
língua portuguesa e da língua brasileira no espaço digital,
bem como os gestos de interpretação daí advindos. A preocupação
em diferenciar a língua portuguesa da brasileira vem da
compreensão da autora, fundamentada na obra da professora
Eni Orlandi, também da Unicamp, de que a língua falada e
escrita atualmente no país é muito distinta da existente
em Portugal, em função dos processos de significação e das
mudanças que experimentou ao longo do tempo. “Fundamentei
minha pesquisa na teoria da Análise do Discurso, visto que
queria considerar não apenas as linguagens em si, mas principalmente
seus sentidos”, explica.
No entender de Marisa, o
internetês é uma linguagem específica do mundo virtual.
O emprego do computador e de programas de edição de texto,
afirma, contribui para a constituição de sentidos. “A especificidade
do instrumento tecnológico induz à utilização de uma linguagem
própria, mais informal e, portanto, mais fluida. Nesse tipo
de linguagem, a brincadeira é permitida”, considera. Nesse
sentido, a autora estabelece uma diferenciação entre os
gestos de teclar e digitar. O primeiro, diz ela, remete
ao internetês, que é favorecido pelo uso de símbolos e caracteres
presentes no teclado, cuja função é criar atalhos para a
transmissão da mensagem. O segundo está relacionado à linguagem
formal, orientada pelas normas ortográficas e gramaticais.
Neste, não há lugar para brincadeiras. “Entretanto, os dois
tipos de linguagens atuam no mesmo espaço e estabelecem
relações entre si”, atesta
Durante
a pesquisa, Marisa investigou 42 comunidades virtuais abrigadas
no site de relacionamento Orkut. Destas, sete tratavam sobre
a língua portuguesa, quatro defendiam a existência da língua
brasileira, uma era contrária a esta língua brasileira,
13 eram favoráveis ao internetês e outras 17 faziam oposição
ao uso deste último. “Eu analisei diversos aspectos relacionados
a essas comunidades. Considerei desde as suas denominações
até as formulações e propostas nelas contidas. Foi interessante
notar que a relação entre línguas e linguagens deixa entrever
um processo de identificação com a língua nacional. No funcionamento
dessas línguas e linguagens no âmbito da internet, os sentidos
produzidos carregam os sentidos inscritos na memória discursiva
da constituição do Brasil como nação”, reflete.
Numa das comunidades que
defendem o internetês, Marisa deparou com a proposta de
criação de um dicionário português/internetês. Também encontrou
sugestões de tradução de poemas e músicas para a nova linguagem,
como no caso da canção de Adoniran Barbosa. “Na versão que
encontrei na web, é interessante perceber que essa linguagem
própria do espaço virtual também traz marcas do chamado
português formal, como a observância às regras de acentuação.
Ao mesmo tempo, é uma linguagem que brinca com as normas
ditas cultas, na medida em que cria palavras não consagradas
pelos dicionários”, afirma Marisa.
Ainda nessa linha, a autora
da tese observa que, ao contrário da visão tradicional,
segundo a qual a tradução de um texto requer uma rigorosa
prática de interpretação, no internetês são permitidas variadas
traduções de um mesmo texto. “Essa diversidade nos leva
a concluir que o objetivo não é sanar a completude da linguagem
ou tentar entender o texto. Antes, é uma brincadeira com
a língua; um gracejo com a sonoridade e com a oralidade
da língua”, acrescenta Marisa. Embora não tenha abordado
esse aspecto em sua tese, a especialista revela que tende
a concordar com aqueles que consideram que o internetês
não produzirá uma interferência significativa na língua
formal, ainda que esse tipo de linguagem seja utilizado
ocasionalmente por estudantes em sala de aula, associado
com o português.
Marisa reforça que o internetês
é propiciado principalmente por conta do uso do computador
e dos recursos oferecidos pelo teclado e pelos programas
de edição de texto. Sem essas ferramentas, ele perde, por
assim dizer, muito da sua constituição. “Além do mais, até
que ponto as pessoas vão continuar querendo usar o internetês
da forma como o conhecemos hoje? Como essa linguagem oferece
muitas possibilidades, é razoável imaginar que os adeptos
dela vão desejar inovar, o que os levará a criar outras
maneiras de comunicar o que pensam”, infere.
De acordo com a pesquisa
desenvolvida por Marisa, os smileys podem ser considerados
os precursores do internetês, dado que eles se prestam a
uma linguagem abreviada e universal. O internetês, de acordo
com a pesquisadora, foi criado para a troca de arquivos
e bate-papos no meio virtual. “A utilização dos smileys
tanto em conversas informais quanto em discussões de grupos
me leva a compreender a relação com o surgimento dessa nova
forma de linguagem. Também me leva a considerar a relação
do internetês não com uma língua específica, mas com qualquer
outra língua”, finaliza a autora do trabalho.