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Centro integrará pesquisas clínicas
CPC da Unicamp vai incentivar
e
facilitar o ensino dos fundamentos básicos
O
Centro de Pesquisas Clínicas (CPC) da Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) da Unicamp foi criado em novembro do ano passado,
após convite do Ministério da Saúde (MS) para que o Hospital
das Clínicas da Universidade integrasse a Rede Nacional de
Pesquisa Clínica (RNPC). A coordenação do Centro foi confiada
ao cardiologista e farmacologista Heitor Moreno Junior, também
presidente do seu comitê gestor, constituído por docentes
das unidades do complexo de saúde da Unicamp. Professor associado
do Departamento de Clínica Médica da FCM, Moreno explica que
o CPC visa promover o desenvolvimento, a integração, a facilitação
e o estabelecimento de políticas relativas à realização das
pesquisas clínicas no âmbito da área da saúde da Universidade.
Constitui também seu objetivo proporcionar infraestrutura
adequada ao desenvolvimento de todas as etapas de estudos
clínicos e epidemiológicos em estreita consonância com as
necessidades da saúde pública do país.
Atendendo a missão da Universidade,
o CPC deve também incentivar e facilitar o ensino dos fundamentos
básicos envolvidos em pesquisa clínica nos cursos de graduação
e pós-graduação da FCM, incluindo a iniciação científica.
O professor Moreno lembra que, embora recentemente criado,
o CPC já promoveu um curso de capacitação técnica em pesquisa
clínica e estão previstos outros dois cursos para o segundo
semestre, visando a formação básica de monitores e coordenadores
de estudos clínicos.
O coordenador do Centro faz
questão de deixar claro que os membros da comunidade envolvidos
ou interessados em pesquisas clínicas podem e devem se cadastrar
através do site www.fcm.unicamp.br/centros/cpc, o que lhes
permitirá manter estreita interação com o Comitê Gestor do
CPC-FCM/Unicamp. Além de seu caráter informativo e educativo,
o site permitirá ao usuário acesso a instruções que facilitarão
o registro de estudos clínicos no site www.clinicaltrials.gov,
bem como a instruções para submissão de projetos ao Comitê
de Ética em Pesquisa (CEP) da Unicamp.
O CPC estará sediado em um
prédio de dois andares, com área total de 974 m2, em fase
inicial de construção, com estrutura básica orçada em 901
mil reais. Esclarece o professor que há ainda verba (financiamento
Finep) colocada à disposição da FCM para a posterior montagem
da estrutura interna e compra de equipamentos. As instalações
da unidade devem estar concluídas e em funcionamento no início
de 2012.
Em linhas gerais, o coordenador
do CPC-Unicamp explica que “a pesquisa clínica envolve a investigação
em seres humanos com objetivos de descobrir e verificar os
efeitos terapêuticos dos fármacos bem como seus efeitos adversos
com o objetivo de averiguar eficácia e segurança dos mesmos”.
Acrescenta que a ampliação da pesquisa epidemiológica e o
desenvolvimento de equipamentos e insumos na Unicamp também
são metas do CPC.
O docente enfatiza que a pesquisa
clínica envolve qualquer estudo investigativo que utilize
o ser humano ou parte dele, como ocorre em uma biópsia, ou
informações advindas dele, pois ela pode ser realizada através
de questionários. Ele reconhece que a face mais visível da
pesquisa clínica é a farmacológica, pois os fármacos constituem
uma necessidade presente no dia a dia. Mas ela não atende
apenas ao desenvolvimento de novos produtos, pois se revela
importante também na definição e adoção de fármacos já bem
conhecidos e comercializados a serem padronizados na rede
pública. E acrescenta: “São as pesquisas clínicas que irão,
por exemplo, determinar quais os melhores fármacos para pacientes
com hipertensão de difícil controle”. Ressalta que a RNPC
foi criada com tal propósito, ou seja, realizar estudos clínicos
em vários hospitais universitários, de reconhecidos gabaritos
científicos, cujos resultados possam ser transferidos e aplicados
na melhorar a saúde da população em geral.
Interesse público
O docente esclarece que os
Ministérios da Saúde (MS) e da Ciência e Tecnologia (MCT)
selecionaram 32 instituições que integrarão a Rede Nacional
de Pesquisa Clínica (RNPC) em hospitais de ensino. A medida
teve como objetivo dar um caráter mais institucional aos projetos
de pesquisa realizados nos âmbitos dos hospitais de ensino
e garantir locais onde possam ser realizados estudos de interesse
público voltados para as políticas de saúde desenvolvidas
pelo Sistema Único de Saúde.
Para ele, a rede possibilita
reunir esforços em ações prioritárias para a população brasileira,
pois o fato de interligar os melhores centros de pesquisa
clínica do País propicia o aumento do intercâmbio entre pesquisadores
de diferentes regiões com interesses comuns. A medida tem
o propósito ainda de que as atividades de pesquisa revertam
em benefício da formação de profissionais e de sua capacitação
técnico-científica.
Para o professor Moreno, a
implantação do CPC-Unicamp deve propiciar a centralização,
organização e gestão da pesquisa clínica da Universidade,
trazendo benefícios para a sociedade, para a comunidade acadêmica
nacional e para os órgãos gestores da saúde no País. Ele constata
que na Unicamp já se faz pesquisa clínica de primeira qualidade,
embora de forma descentralizada e pouco agrupada, não existindo
ainda uniformidade de ação entre esses pesquisadores docentes
de maneira a poder garantir maior agilidade.
Segundo o docente, cada pesquisador
trabalha com seu grupo de pesquisa, resolvendo problemas até
de natureza não propriamente acadêmica. Todos esses pesquisadores
e seus grupos, de posse de certa uniformidade de ações, poderão
centrar seus esforços nas boas práticas clínicas, que devem
obedecer a critérios internacionais. “O Brasil, como signatário
dessas boas práticas clínicas (Documento das Américas), tem
que se adequar integralmente a elas. Embora isso já ocorra,
a adoção das boas práticas clínicas é realizada de forma descentralizada
e sem uniformização ideal. Equacionar essas ações é o que
se pretende inicialmente no Centro, de forma que os resultados
sejam bons para o pesquisador, para a Universidade e para
a sociedade. Estes são os três escopos principais a que o
Centro se propõe”.
Os envolvidos em pesquisas
clínicas passariam automaticamente a se remeter ao Centro,
mas continuariam atuando em seus laboratórios, se assim pretenderem.
O primeiro passo, diz Moreno, é estimular as pessoas a trabalharem
em grupo, aglutinando-as, porque ainda não existe espaço físico
para que isso ocorra fisicamente. O que se pretende durante
a construção do prédio é, afirma Moreno, aos poucos agregar
não só pesquisadores do próprio HC, mas do Caism, do Hemocentro
e do Gastrocentro, com uma concepção uniforme de pesquisa
clinica para, depois, fazer a centralização das principais
ações comuns na sede própria, onde pelo menos funcionaria
o sistema de gestão, que seria expandido para todos os grupos
atuantes de forma homogênea. Ele reconhece que as necessidades
e o próprio caminhar se encarregarão de apontar as melhores
soluções.
Moreno entende que “a preocupação
com um caminhar homogêneo da pesquisa clínica, a garantia
da seriedade no seguimento das boas práticas clínicas e a
identificação das necessidades farão com que os pesquisadores
se aglutinem. Certamente iremos propor, em diversos níveis,
cursos para os pesquisadores que se envolvem em pesquisas
clínicas para que eles conheçam as normas e as exigências
que devem ser observadas e seguidas de forma mais homogênea”.
Em levantamento já realizado
pelo CPC Unicamp junto a grupos que fazem pesquisas clínicas,
procurando detectar problemas e aspectos positivos do trabalho
na instituição, uma das questões levantadas de forma praticamente
unânime relaciona-se ao gerenciamento de pessoal em projetos,
trabalhos e convênios. A expectativa dos pesquisadores consultados
é a da centralização desse tipo de gerenciamento, ao qual
o pesquisador, em geral, não está afeito e o leva a um consumo
de tempo que ele poderia dedicar à pesquisa.
Rumo ao social
O professor Moreno ressalta:
“O que queremos de momento é divulgar a ideia de que o CPC
Unicamp vem para propiciar uma centralização, organização
e gestão desse tipo de pesquisa em nossa instituição. Isso
vai trazer benefícios para a progressão da carreira dos pesquisadores
envolvidos e contribuirá para a formação de jovens mestrandos
e doutorandos que se tornarão pesquisadores também”. Com a
divulgação do CPC, a ideia é atrair pesquisadores de forma
a que possam ser traçadas estratégias colaborativas de pesquisas
que levem a propostas de estudos que sejam prioritárias para
os órgãos governamentais, dando respostas a perguntas que
as autoridades da saúde e a sociedade precisam. Enfim, diz
ele, as ações do CPC e a expansão e aprimoramento das pesquisas
feitas pela RNPC devem contribuir para que as decisões envolvendo
políticas públicas não sejam tomadas apenas por administradores
e técnicos, mas passem pelo crivo de pessoas que realmente
entendam e contribuam com soluções científicas para os problemas
brasileiros, através de conhecimentos que atendam às necessidades
da população.
Ele considera que “com isso,
as decisões dos dois ministérios mais diretamente envolvidos
(MS e MCT) poderão ser orientadas por estudos científicos.
A realização deles em hospitais-escola também evita o viés
corporativo que existe quando estudos clínicos são realizados
por indústrias farmacêuticas privadas que, naturalmente, têm
interesse em resultados favoráveis a seus produtos”.
A palavra centralização preocupa
o professor Moreno, que receia que os pesquisadores possam
temer a perda da autonomia com a criação do CPC. O docente
explica que a centralização envolve a organização e gestão
da pesquisa clinica na instituição, pois o que precisa de
uniformidade é a adoção de boas práticas clínicas.
Rede reúne 32 hospitais-escolas
Em 2005, conta o médico
Heitor Moreno Junior, o MS e o MCT criaram o Departamento
de Ciência e Inovação em Tecnologia (Decit) com a função
de conciliar os interesses dos dois ministérios. A ideia
era a criação de um órgão através do qual o próprio governo
propusesse estudos científicos que atendessem aos interesses
e necessidades do Ministério da Saúde. Foi do Decit a
decisão de criar a Rede Nacional de Pesquisa Clínica (RNPC)
para responder às necessidades da saúde do povo brasileiro.
A rede, que inicialmente
se instalou em 19 hospitais universitários, é constituída
hoje por 32 hospitais-escola e respectivos centros de
pesquisa clínica. O professor explica que a criação dos
centros objetivou reunir agrupamentos de excelência em
pesquisa clínica, para que pudessem ser realizados estudos
multicêntricos nacionais, de forma a garantir uniformidade
em cada centro e entre eles em geral de modo que todas
as pesquisas realizadas nesses centros tivessem mesmo
peso, credibilidade e qualidade. Ligados às principais
universidades, esses centros estão disseminados por todo
o país, inclusive no Norte e Nordeste, embora a maior
concentração deles esteja no Sudeste, Centro-Oeste e Sul,
casos da Unicamp, do HC e do Hospital do Coração de São
Paulo, do HC de Ribeirão Preto e do HC de Porto Alegre,
para mencionar alguns.
Além de garantirem uniformização
nas pesquisas clínicas, esses centros passarão a ter informações
privilegiadas a respeito de editais dos órgãos de fomento
à pesquisa nacionais, inclusive do próprio Decit.
Objetivos do CPC/Unicamp,
segundo Heitor Moreno Junior
Consolidar um modelo institucional
de pesquisa clínica baseado nas melhores práticas
Estabelecer estratégias colaborativas
de pesquisa para a proposição de projetos que
atendam às prioridades definidas pelos órgãos
governamentais
Incentivar e facilitar o ensino
dos fundamentos básicos envolvidos em pesquisa
clínica nos cursos de graduação e pós-graduação
e na iniciação científica
Estimular o aprendizado da interpretação
de estudos clínicos relevantes bem como a aplicação
das boas práticas clínicas aos residentes médicos
Propor e incentivar a realização
de disciplinas relativas à pesquisa clínica nos
cursos de pós-graduação
Desenvolver e capacitar recursos
humanos para apoio à pesquisa clínica em âmbito
nacional
Desenvolver e validar estratégias
de gestão em pesquisa clínica |
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