Faleceu na última segunda-feira (19) o professor aposentado Rui Fragassi Souza, aos 77 anos. Embora morasse em Piracicaba, seu corpo foi velado e sepultado em Campinas.
Souza teve uma longa carreira na Unicamp, iniciada com o ingresso como docente na então Faculdade de Engenharia de Campinas (FEC), em 1971. O professor figura entre os primeiros a defender uma dissertação de mestrado na faculdade, ao lado de Ricardo Galvão, atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e do professor colaborador da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) Dalton Arantes. Depois seguiu para o doutorado nos Estados Unidos, na Cornell University, tendo obtido esse título em 1976.
terceiro a defender o mestrado na faculdade
Na Universidade, concentrou-se nos estudos sobre teoria eletromagnética, micro-ondas, propagação de ondas, antenas e comunicações ópticas, com ênfase em rádio digital, telecomunicações e amplificador óptico a fibra dopada. Segundo colegas, Souza foi um dos principais pesquisadores brasileiros na área de circuitos de micro-ondas. O professor ficou na Unicamp até 2002, quando se aposentou pela Feec. Ainda que oficialmente desligado da Universidade, manteve contato frequente com os colegas professores.
“Ele era uma pessoa feliz e um profissional muito organizado, inteligente, extremamente dedicado e um ótimo professor. Tinha um senso de humor muito peculiar. Quando questionado sobre algum parâmetro milimétrico e de pouca importância nas matérias que lecionava, respondia que se tratava apenas de um ‘cabelésimo’”, conta Arantes. “[Souza] me apoiou muito no início da minha carreira na Feec”, comentou o atual diretor da faculdade, Hugo Figueiroa.
Para o professor João Romano, que recentemente deixou o cargo de pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, há uma dívida de gratidão para com Souza. “Devo-lhe uma demonstração concreta de generosidade. Pouco após ser contratado, convidou-me para coorientar um aluno e, já na fase final do trabalho, propôs ser mais justo que eu ficasse como orientador. Foi minha primeira tese de doutorado orientada.”
Tendo dividido o espaço de trabalho com Souza, Evandro Conforti também lamentou sua morte. “Trabalhar 25 anos com ele na mesma sala compartilhada foi uma imensa honra”, disse.
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Confira abaixo os depoimentos dos colegas de Rui Fragassi
“A perda de um amigo querido, como o Prof. Rui Fragassi Souza, é sempre acompanhada de grandes emoções, como tristeza, dor, solidão e nostalgia. No entanto também é um momento de muito aprendizado e reflexão, pois o legado de um grande amigo é sempre um grande legado. Recordar as boas lembranças que ficaram e que moldaram as nossas vidas e nosso ambiente de trabalho tem um valor inestimável. Conheci o Rui Fragassi em janeiro de 1970, juntamente com outro grande amigo, o Ricardo Magnus Osório Galvão, quando iniciamos nossas atividades no Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], a antiga CNAE [Comissão Nacional de Atividades Espaciais], criada pelo professor Aldo Vieira da Rosa. Parece que foi um amor à primeira vista, pois nos identificamos de tal forma que decidimos seguir passos sincronizados durante uma boa parte de nossas carreiras acadêmicas. A convite do Prof. Rege Romeu Scarabucci, com quem temos uma grande dívida de gratidão, viemos os três para a Unicamp em 1971, apostando em um projeto extremamente ambicioso para a Unicamp, para Campinas e para o Brasil. Os primeiros anos na Unicamp, entretanto, não foram fáceis, mas o apoio do professor Rege Scarabucci e de outros grandes entusiastas da Feec [antiga FEC] foi decisivo. Concluímos as três primeiras teses da Engenharia Elétrica no ano de 1972, com artigos publicados em revistas internacionais renomadas. Em seguida, eu e o professor Rui Fragassi fomos trilhar o doutorado na Cornell University, enquanto o professor Ricardo Galvão enveredou pela física de plasma no MIT [sigla em inglês para Instituto de Tecnologia de Massachusetts]. Embora eu esteja falando de três nomes, é com o objetivo de contextualizar e enfatizar o poder agregador e o entusiasmo do professor Rui Fragassi Souza. Ele era uma pessoa feliz e um profissional muito organizado, inteligente, extremamente dedicado e um ótimo professor. Tinha um senso de humor muito peculiar. Quando questionado sobre algum parâmetro milimétrico e de pouca importância nas matérias que lecionava, respondia que se tratava apenas de um ‘cabelésimo’. Pessoa amável, educada e que não tinha desafetos em lugar algum. Uma boa alma, que contribuiu para criar um ambiente de trabalho dos mais agradáveis na Feec. Vamos sentir muita saudade do professor Rui Fragassi Souza.” (Dalton S. Arantes)
“Encontrei com ele dois meses atrás. Ele parecia estar muito bem. Conversamos rapidamente, uns 30 minutos. Ele foi um professor exemplar, muito dedicado e conhecedor profundo da área de eletromagnetismo, em particular da área de propagação. [Ele] me apoiou muito no início da minha carreira na Feec.” (Hugo Figueroa)
“Desejo manifestar a todos os entes queridos do professor Rui Fragassi de Souza.
Ele foi meu professor, um professor pelo qual tenho muito respeito e admiração, pela inteligência, pela dedicação e pelo homem gentil e amigo que sempre foi. Orarei por ele e por todos os entes queridos nestas horas tão amargas. Até um dia meu grande amigo professor Rui Fragassi Souza.” (Luiz César Martini)
“Triste notícia. [Ele] é mais um colega da geração que construiu a Feec e que nos deixa, muito cedo. Rui foi professor de minha turma (1977-81). Quando voltei do doutorado, e logo fui contratado, passei a conviver com ele no mesmo corredor. Presença sempre bem-humorada, Rui formou e orientou gerações e era, sobretudo, um professor caprichoso e dedicado. Sua boa escrita e bela letra enfeitaram nossas lousas e deixaram cadernos de teoria eletromagnética, de antenas, que eram prazerosos de consultar. “Devo-lhe uma demonstração concreta de generosidade. Pouco após ser contratado, convidou-me para coorientar um aluno e, já na fase final do trabalho, propôs ser mais justo que eu ficasse como orientador. Foi minha primeira tese de doutorado orientada. Estamos tristes, mas gratos por tudo, Rui. Descanse em paz.” (João Marcos Travassos Romano)
“Com muita tristeza recebi a notícia do passamento do querido colega professor Rui Fragassi Souza. Interagi bastante com o Rui logo que ele voltou de seu doutorado em Cornell, em meados dos anos 70. Ele era um investigador apaixonado pelas áreas de micro-ondas e antenas. Tive também a oportunidade de aproveitar suas notas de aulas, gentilmente cedidas, em oferecimentos de disciplinas da área. Suas notas sempre me chamaram a atenção pelo detalhamento e zelo caligráfico com que eram preparadas e também pela sua excepcional didática. Pena que essas primorosas notas de aulas não tenham se transformado em um livro. O professor Rui deixará saudades entre aqueles que tiveram a oportunidade de conviver com sua sabedoria e seu sempre presente bom humor.” (Max Costa)
“Tive o privilégio de compartilhar da amizade do professor Rui Fragassi por décadas, desde o meu ingresso na Unicamp como docente. Conheci de perto a sua incansável dedicação ao ensino e o esmero com que preparava as suas notas de aula tanto para a graduação quanto para a pós-graduação. Da mesma forma, dignos de nota eram a sua imensa competência técnica, a qualidade de sua pesquisa e o seu apreço na supervisão dos trabalhos de seus orientandos. Além de termos mantido conversas técnicas, com as quais muito aprendi, também falávamos sobre amenidades, quando pude conhecer o seu lado humano. Professor Rui era um ser humano dócil, complacente e de humor fino. Deixará muitas saudades. Descanse em paz, meu querido Rui!” (Michel Daoud Yacoub)
“Até sua aposentadoria, o professor Rui foi sempre muito dedicado à SBMO [Sociedade Brasileira de Micro-Ondas e Optoeletrônica], tendo sido um dos associados fundadores. Formado em 1969 na Escola Politécnica da USP [Universidade de São Paulo], trabalhou durante 30 anos no antigo Departamento de Micro-Ondas e Óptica da Unicamp. Formou inúmeros mestres e doutores, sendo um dos principais pesquisadores brasileiros na área de circuitos de micro-ondas. A SBMO solidariza-se com seus familiares e amigos na saudade e na dor deixadas por sua partida.” (Secretaria da SBMO)
“O professor Rui tinha um rigor técnico tão grande quanto sua dedicação à Unicamp.
Trabalhar 25 anos com ele na mesma sala compartilhada foi uma imensa honra.” (Evandro Conforti)
