O reitor e o coordenador-geral da Unicamp, Paulo Cesar Montagner e Fernando Coelho, respectivamente, debateram em três diferentes instâncias, esta semana, a proposta de autarquização da área da saúde da Universidade. O tema foi discutido com deputados na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), com vereadores na Câmara Municipal de Campinas e com representantes de estudantes da Universidade.
Antes, a proposta de autarquização já havia sido objeto de debate com a bancada dos servidores no Conselho Universitário (Consu) e do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU). A expectativa da Reitoria é ter uma proposta fechada até o final deste mês de outubro.
Na segunda quinzena de setembro, a proposta foi apresentada a diretores de unidades, coordenadores de órgãos e para a bancada docente do Conselho. Antes, no dia 11 de setembro, um workshop organizado pela Faculdade de Ciência Médicas (FCM), reuniu especialistas e gestores de instituições de saúde e universidades para discutir experiências e desafios relacionados à autarquização no setor.
O modelo proposto para a Unicamp tem como inspiração o modelo adotado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e na Faculdade de Medicina de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Em ambos os casos, os hospitais das faculdades de medicina são vinculados à Secretaria de Estado da Saúde para fins administrativos e orçamentários, mas continuam com suas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
A contrapartida da Unicamp seria a criação de novos cursos e a abertura de mais vagas nos vestibulares.
Diretor da Diretoria Executiva da Área da Saúde (DEAS) da Unicamp, o professor Luiz Carlos Zeferino disse aos deputados que o Hospital de Clínicas (HC) e outras estruturas de saúde ligadas à Unicamp estão entre os melhores do Brasil, mas sofrem com as dificuldades de financiamento.
“O HC tem, em 2025, o mesmo número de leitos e a mesma estrutura que tinha nos anos de 1980\90. Só que, neste período, a cidade passou de 750 mil habitantes para 1,2 milhão”, argumenta. “Passadas quase quatro décadas, o hospital não cresceu. Pior: não temos perspectivas de crescimento”, argumenta.
“Temos muito orgulho da nossa área da saúde”, disse o reitor da Unicamp. “E não há nenhum movimento na direção da privatização. A autarquização é uma forma de fortalecer o financiamento público de uma área fundamental que é a da Saúde”, afirmou o reitor durante a audiência na Alesp.
Audiência na Alesp
A audiência na Assembleia Legislativa foi organizada pela Comissão de Saúde da Casa. Presidida pela deputada Bruna Furlan (PSDB) foi realizada na manhã de terça-feira (14) e contou com a participação de ao menos 10 deputados.
O coordenador de Ensino Técnico e Superior, Marcos Nogueira Martins, que representou o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI), Vahan Agopyan, disse que o governo apoia a proposta. “Trata-se de um processo virtuoso. É possível aumentar a oferta de cursos e a saúde também se fortalece. Todo mundo ganha”, disse.
O diretor do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Campinas, Jorge Curi, que representou o secretário Estadual de Saúde, Eleuses Paiva, disse que a transferência da administração para a secretaria vai possibilitar que a Unicamp volte a crescer.
“Com a autarquização e com a relação direta com o sistema de saúde estadual, a segunda maior região do Estado vai conseguir responder à demanda dos nossos pacientes. Precisamos de agilidade. Os pacientes não podem esperar nas filas”, afirmou.
Audiência na Câmara Municipal
Ainda na terça-feira, no período noturno, o tema da autarquização foi debatido na Câmara Municipal de Campinas, por meio de audiência pública conduzida pela vereadora Fernanda Souto (PSOL). O coordenador-geral, Fernando Coelho, disse que a Universidade vive um dilema, pois não dispõe de recursos para cobrir a crescente demanda da área da saúde. “Não há mais investimentos. Os recursos vão apenas para custeio”, argumentou ele.
Presente à audiência, a presidente da Associação dos Docentes da Unicamp (ADunicamp), professora Silvia Gatti, argumentou que antes de se pensar em autarquização, a Administração da Universidade deveria buscar formas alternativas de financiamento. “O nosso problema é o subfinanciamento”, disse ela. “Por isso, precisamos pressionar o governo para aumentar o valor da quota-parte das Universidades dos atuais 9,57% para pelo menos 11%”, afirmou a professora.
Vários representantes do Sindicato dos Servidores da Unicamp se disseram contra a proposta. Segundo eles, o projeto é “privatista”.
Bancada discente
Já na tarde desta quarta-feira (15), a Reitoria discutiu a proposta com representantes do corpo discente. O professor Zeferino lembrou que o modelo de gestão proposto pela autarquia segue os mesmo conceito adotado desde 2010 nas universidades federais. Segundo ele, a rede de hospitais universitários é formada por 51 estabelecimentos ligados a 36 instituições de ensino. Das 51, 45 têm gestões separadas das universidades, disse. Todas as 45 unidades de saúde são geridas pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). “O HC da USP, por exemplo, nunca foi da USP. O Hospital de Botucatu, da Unesp, está autarquizado desde 2010”, reforçou ele.
Assista audiência realizada na Alesp.
Assista audiência realizada na Câmara dos Vereadores de Campinas.
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