
A transformação da área da saúde em autarquia deverá provocar forte expansão nas atividades acadêmicas e assistenciais da Unicamp. Esta é uma das principais conclusões do relatório final do Grupo de Trabalho (GT) designado pela Reitoria para a elaboração de uma proposta a ser levada ainda este ano ao Conselho Universitário (Consu) e, depois, ao governo do estado. De acordo com o estudo, o novo modelo garantirá autonomia administrativa e financeira, sem romper a vinculação acadêmica com a Unicamp.
O relatório aponta que a transformação em autarquia do setor de assistência à saúde da Universidade deverá seguir um modelo já consolidado nas Faculdades de Medicina da USP e da Unesp, em Botucatu. A nova autarquia seria vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (SES) para fins administrativos e orçamentários, mas se manteria associada à Unicamp para fins de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, permaneceria com atendimento integral a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Pela proposta, a nova autarquia será denominada Hospital das Clínicas da Unicamp (HC-Unicamp) e reunirá oito órgãos, entre eles, o Hospital Central (HC) e o Hospital da Mulher.

A proposta do GT estabeleceu fases de implementação. A expectativa é que a autarquização seja aprovada – nos âmbitos institucional e legal – no primeiro semestre de 2026, que a estruturação administrativa e financeira ocorra entre os anos de 2026 e 2027, e a expansão e a consolidação do projeto, entre os anos de 2027 e 2036.
Na proposta, o GT prevê a criação de novos cursos de graduação e pós-graduação, com a abertura de 1.100 novas vagas até 2030. Essas novas vagas seriam criadas em áreas estratégicas em cursos como Medicina, Inteligência Artificial, Ciência de Dados, Energia, Engenharia Biomédica, Psicologia, Fisioterapia e Direito.
A previsão é de crescimento contínuo das matrículas de graduação, alcançando 7.700 novos alunos de graduação e 3. 850 alunos de pós-graduação até 2036. Hoje, a universidade conta com 69 cursos de graduação e cerca de 20 mil estudantes. No Vestibular 2026, foram mais de 60 mil inscritos, cerca de 3,5 mil vagas.
De acordo com o relatório, as mudanças vão exigir modernização curricular, com fortalecimento do conceito de interdisciplinaridade e maior integração entre graduação, pós-graduação e programas de extensão.
Além da ampliação das vagas, a expectativa é de contratação escalonada de docentes e novos funcionários técnico-administrativos. A estimativa do GT é que 13.554 novas pessoas sejam incorporadas à comunidade universitária – entre alunos, docentes e técnicos – até 2036.
O relatório alerta ainda para a necessidade de investimentos para a melhoria e ampliação da infraestrutura dos vários campi, assim como um aporte de recursos para garantir políticas de permanência.
De acordo com o relatório, o novo modelo exigirá investimentos em infraestrutura, como a construção e a modernização de prédios, laboratórios, moradias e restaurantes universitários.

Os investimentos estimados para viabilizar o processo de expansão, decorrerão, segundo o relatório, do alívio gradual da pressão sobre a capacidade de autofinanciamento da Unicamp, já que a Secretaria de Saúde passará a assumir, de forma escalonada, as responsabilidades financeiras relativas às unidades assistenciais. A partir de 2028, está prevista a aceitação gradual do custeio operacional desses serviços, e, a partir de 2031, o início do ressarcimento integral da folha de pagamento dos servidores da área da saúde atualmente vinculados à Unicamp.
O relatório informa que serão asseguradas aos servidores “todas as vantagens e benefícios atualmente recebidos” – como auxílio-transporte, vale-refeição, auxílio-criança, auxílio educação especial, vale-alimentação e auxílio-saúde. Também será garantida a possibilidade de participação em processos formativos, em processos de progressão na carreira e nos prêmios oferecidos pela Universidade.
Hospitais
O relatório lembra que, entre os hospitais universitários do estado de São Paulo, a área da saúde da Unicamp é a única que ainda integra diretamente a estrutura administrativa e orçamentária da universidade. O GT pondera que, embora essa vinculação tenha assegurado excelência assistencial, ela também limita a expansão e a agilidade de investimentos, especialmente quando comparada a instituições que já operam sob modelos de autarquia.

O relatório lembra, por exemplo, que o HC de Clínicas da Unicamp dispõe de 560 leitos para uma população dependente do SUS que chega a 4,2 milhões de pessoas – uma relação de 7.500 pacientes por leito. Já o HC da Faculdade de Medicina de Ribeirão conta com 800 leitos para uma população dependente do SUS de 2,6 milhões de pessoas, numa proporção de 3.300 pacientes por leito. O Hospital de Base de Rio Preto, por sua vez, conta com 900 leitos para uma demanda de 2,4 milhões de pessoas – relação de 2.700 pacientes por leito. Por fim, o HC de Botucatu dispõe de 561 leitos para uma população SUS Dependente de 1,3 milhão, com média de 2,3 mil pacientes por leito.
Impulso
A proposta de autarquização da área da saúde ganhou impulso na primeira semana de setembro, depois de um encontro do reitor, Paulo Cesar Montagner, com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Na reunião, o governador deu sinal verde para o início dos estudos técnicos e de planejamento orçamentário, levando em conta um prazo de transição de 10 anos para a ampliação dos cursos, após a transformação da Saúde em autarquia.
A proposta do GT deverá ser submetida ao Consu e, se aprovada, será levada ao governo estadual para implementação.


Confira as principais dúvidas sobre o processo:
Foto de capa:

