Na fabricação de pias, pisos e revestimentos, a perda de rochas originais pode ser superior a 80%
Rochas ornamentais como granitos, mármores, ardósias, serpentinitos e quartzitos são aquelas transformadas em pias, pisos e revestimentos, embelezando casas, prédios, altares e túmulos. Ocorre que neste processamento pode ocorrer até 80% de perda das rochas originais, desde a extração no maciço (lavra), passando pelo corte, até o polimento. O Brasil é o 5º exportador mundial de rochas ornamentais, com 3,3 milhões de toneladas em 2015, sendo os Estados Unidos o importador principal; já o mercado interno consumiu 6,2 milhões de toneladas, com o Espírito Santo respondendo pela metade da produção.
Contribuir para a destinação mais adequada de pelo menos parte desta imensidão de resíduos minerais, que hoje, em sua maioria, são descartados em aterros, é o que pretende Jeferson dos Santos com sua dissertação de mestrado orientada pelo professor Fernando Galembeck e apresentada no Instituto de Química (IQ). “Uma motivação para a pesquisa é que nossa família possui uma marmoraria em Salto [SP], cidade com forte tradição nessa atividade. Meu pai está com 83 anos e trabalha com rochas desde os 13”, justifica o autor da dissertação. “Sempre ajudei na marmoraria, que agora administro, e me incomodava ver tanto material sendo jogado fora por falta de utilidade.”
![Foto: Antonio Scarpinetti](/unicamp/sites/default/files/inline-images/img_destaque_residuos-rocha_pesquisador_20170424.jpg)
Jeferson dos Santos explica que os granitos e os mármores dominam o mercado de rochas ornamentais. Para sua pesquisa, ele escolheu o granito “cinza corumbá”, que apresenta uma constituição mineralógica mais padronizada, possibilitando melhor análise de suas variáveis para se chegar a uma aplicação desejada. “A primeira parte da pesquisa foi de caracterização do pó gerado no corte e também do pó da britagem do granito cinza corumbá, a fim de estudar a influência desses processos mecânicos na composição e quantidade dos minerais presentes em frações de granulometria diferentes das duas amostras.”
Segundo o autor da dissertação, tanto o resíduo do corte como da britagem são constituídos dos mesmos minerais, mas apresentam propriedades superficiais diferentes – características decisivas para o desenvolvimento de aplicações. “Trabalhei com um conceito atual e importante, a mecanoquímica, que procura responder a uma questão básica: se um processo mecânico (no caso, corte ou britagem) pode transformar quimicamente um material.”
Tanto no pó do corte como da britagem, Jeferson dos Santos encontrou mica, quartzo e feldspato, os três principais minerais que constituem o granito cinza corumbá. “A diferença está na proporção de minerais em frações de tamanhos diferentes. O pó do corte, por exemplo, contém mais feldspato (em frações mais finas) e poderia ser usado na fabricação de cerâmica; já o resíduo de brita, por ter mais quartzo, serviria à indústria de abrasivos (trata-se de um minério duro e piezoelétrico, ou seja, quando uma força lhe é aplicada, gera corrente elétrica).”
![Foto: Antonio Scarpinetti](/unicamp/sites/default/files/inline-images/img_destaque_residuos-rocha_poeiras_20170424.jpg)
Cereja do bolo
Ao supor que os dois tipos de pó, por serem bastante finos, poderiam adsorver poluentes na água, Santos realizou testes com azul de metileno, simulando o tratamento do efluente de uma indústria que utilize corantes, por exemplo. “Com o pó do corte de granito, consegui uma eficiência de 30% na adsorção do corante, enquanto o resíduo de britagem apresentou 93%. Isso significa que a atividade mecânica produziu materiais diferentes, não só na constituição como na superfície. Na verdade, surgiu um contaminante inesperado no processo de britagem e o resultado foi um material que não adsorve a água (hidrofóbico), ao passo que o pó do corte encharca. Foi a cereja do bolo neste projeto.”
Jeferson dos Santos, que também é professor em cursos de engenharia civil e ambiental, tem a expectativa de obter patentes e, por isso, evita revelar detalhes desta pesquisa à qual dará continuidade. “A dissertação me abriu pelo menos três campos de pesquisa: a utilização desses resíduos de granito diretamente na construção civil, como carga em concreto (substituindo a areia); como carga para polímeros; e também como fertilizante – uma ideia do professor Fernando Galembeck, que atentou para o alto índice de potássio, um produto que o Brasil precisa importar para suprir a demanda.”
![Na fabricação de pias, pisos e revestimentos, a perda de rochas originais pode ser superior a 80% Fotos: Antonio Scarpinetti/Divulgação](/unicamp/sites/default/files/ju/2017-04/img_destaque_residuos-rocha_capaJU_20170424.jpg)