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Diferentes aspectos relacionados à economia dos cinco países que compõem o BRICS foram debatidos e analisados ao longo desta semana durante o Seminário de Pesquisa e a Escola de Inverno organizados pela Universidade em Rede do BRICS (BRICS NU, na sigla em inglês). As atividades, sediadas no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, contaram com a participação de 15 professores e 60 estudantes ligados às instituições de ensino pertencentes ao bloco. O BRICS NU foi criado em 2016 por iniciativa dos ministérios da Educação de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, com o propósito de ampliar a colaboração científica e acadêmica entre as universidades dessas nações.
O encerramento do Seminário de Pesquisa e da Escola de Inverno ocorreria nesta sexta-feira (9), com três conferências que tratariam dos seguintes temas: “Cultura brasileira e sociedade”, “Juventude nos países do BRICS” e “Desigualdades nos países do BRICS”. De acordo com o professor do IE-Unicamp Bruno Conti, um dos organizadores dos eventos, esta foi a primeira vez que o Brasil sediou um Seminário de Pesquisa, bem como foi a primeira vez que a Escola de Inverno foi realizada no contexto do BRICS NU.
Além de docentes e estudantes dos cinco países do bloco, os eventos atraíram também interessados de outras nações, como Alemanha, Áustria, Estados Unidos, Guatemala, Colômbia, Irã e Tajiquistão. “Ao todo, 18 países estiveram aqui representados, o que nos deixou muito satisfeitos”, afirmou Conti. As atividades, continuou o docente, contaram com total apoio da Reitoria e da Diretoria Executiva de Relações Internacionais (DERI) da Unicamp. “Nós conseguimos oferecer hospedagem para os alunos estrangeiros e custear a passagem de um representante de cada universidade. As instituições de ensino parceiras, por sua vez, bancaram as passagens de seus alunos”.
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Um aspecto rico da colaboração entre as universidades do BRICS, disse Conti, é o fato de os países do bloco terem diferenças, mas também semelhanças que merecem ser pesquisadas. “Brasil, África do Sul e Índia têm um passado colonial em comum, o que faz com que tenham uma inserção na divisão internacional do trabalho muito distintas, por exemplo, dos países europeus. Por outro lado, Brasil e África do Sul estão experimentando o mesmo fenômeno na atualidade, que é o da desindustrialização. Estas e outras questões foram discutidas durante o Seminário de Pesquisa e a Escola de Inverno”, relatou.
A cooperação entre as universidades do BRICS, no entender do professor do IE-Unicamp, abre novas perspectivas para as pesquisas realizadas por essas instituições de ensino. “Nós devemos continuar tendo colaboração com Alemanha, Estados Unidos e França, mas a parceria com nossos pares do BRICS abrem outros campos de investigação, que são importantes para refletirmos sobre os desafios comuns aos membros do bloco. Como disse um colega sul-africano, o BRICS NU tem que remodelar o conhecimento global, dado que esse conhecimento é hierarquizado. Normalmente, o mundo ouve mais o que é dito pelos países centrais que pelos periféricos. Precisamos nos esforçar para mudar esse quadro”.
Desafios e oportunidades
O também professor do IE-Unicamp Célio Hiratuka, igualmente organizador dos eventos, ministrou uma das palestras da programação. Segundo ele, os países que integram o BRICS apresentam estruturas muito diferentes, mas também são complementares em diversos aspectos. Ele lembrou que Brasil, Rússia e África do Sul dispõem de importantes recursos naturais, enquanto Índia e China, especialmente esta última, sofrem com a escassez de matérias-primas. “Nesse aspecto, precisamos optar entre nos aprisionarmos numa relação assimétrica ou utilizarmos as diferenças para nos desenvolvermos”, analisou.
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Avançar da direção e uma relação mais simétrica, observou Hiratuka, exige a definição de uma estratégia de discussão que envolva tanto o setor privado quando o governamental dos cinco países. “A atuação do BRICS fez com que ele tenha alcançado, durante o período em que os países se organizavam para isso, um relativo poder econômico. Atualmente, existem muitas divergências internas. Entretanto, o bloco tem grande potencial de crescimento, podendo se transformar numa importante força comercial e política”, considerou.
Instado a olhar para o papel do Brasil dentro desse contexto, o docente disse que o país tem mais desafios que oportunidades à frente. “Um desafio está relacionado à posição do atual governo brasileiro, que fez um alinhamento quase automático com os Estados Unidos. Isso pode fazer com que deixemos de aproveitar algumas oportunidades. Um exemplo é a captação de investimentos e financiamentos por parte de novos fundos. Espero que isso mude, mas o peso que o BRICS está tendo na política externa brasileira é reduzido. Temos que manter boas relações com os Estados Unidos, mas também precisamos apostar em outros espaços”.
O BRICS NU está organizado em seis eixos estratégicos: Estudos dos BRICS; Informática e segurança informacional; Ecologia e mudança climática; Economia; Energia; Recursos hídricos e tratamento da poluição (https://nu-brics.ru). A Unicamp participa dos eixos de Economia e Estudos dos BRICS.
![O professor Célio Hiratuka do IE-Unicamp O professor Célio Hiratuka do IE-Unicamp](/unicamp/sites/default/files/2019-08/atu_brics_20190809_capa.jpg)