Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 14 de maio de 2012 a 20 de maio de 2012 – ANO 2012 – Nº 526Comunicação estabelecida
Sistema de transcrição leva a Língua de Sinais para o ambiente digital
Dados do Censo Demográfico de 2000 indicam que o Brasil possui 5,7 milhões de habitantes com algum grau de deficiência auditiva, contingente que equivale à população do Estado de Goiás. Parcela significativa desse segmento enfrenta muitos obstáculos para ter acesso a recursos computacionais, notadamente os que adquiriram surdez antes de serem alfabetizados. Estes, com frequência, encontram sérias dificuldades para compreender materiais escritos em português. Pesquisa conduzida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp desenvolveu uma tecnologia que pode contribuir para superar esse tipo de barreira. Orientada pelo professor José Mario De Martino, a doutoranda Wanessa Machado do Amaral concebeu um sistema de transcrição capaz de reproduzir, por meio dos gestos de um avatar, os símbolos utilizados pela Língua Brasileira de Sinais (Libras).
De acordo com Wanessa Amaral, existem diversos trabalhos na área da computação voltados à acessibilidade. Ocorre, porém, que a maioria é dirigida aos cegos. Assim, já foram desenvolvidos aplicativos como leitores de tela e até calculadora programável. “Entretanto, há pouco estudo relacionado aos deficientes auditivos. Isso possivelmente está associado à impressão de que eles não enfrentam problemas nesse campo, uma vez que as informações disponíveis no computador são basicamente visuais. Mas não é bem assim. Pessoas que adquiriram surdez antes de terem sido alfabetizadas têm muita dificuldade em compreender material escrito em português. De certa forma, elas ficam excluídas do meio digital”, explica.
Pensando nas dificuldades enfrentadas por esse grupo, a pesquisadora resolveu utilizar os recursos proporcionados pela computação gráfica para transportar a Libras para dentro do ambiente digital. Para isso, Wanessa Amaral concebeu um sistema de transcrição que utiliza o que os especialistas denominam de agente virtual, popularmente conhecido por avatar. A figura, que pode ser alterada de acordo com a necessidade ou conveniência do usuário, reproduz os sinais utilizados pela Libras. Para isso, basta digitar numa caixa de diálogo a palavra desejada. “Como a figura humana é apresentada em 3D, o usuário pode aproximar ou mudar o ângulo do avatar, caso queira compreender melhor a mensagem”, detalha.
Embora possa parecer, num primeiro momento, uma solução simples, tanto Wanessa Amaral quanto o professor De Martino tiveram muito trabalho até chegar ao modelo atual, que o docente prefere classificar de “prova de conceito”. De acordo com o ele, não foi uma tarefa trivial definir o que o avatar precisaria fazer para interpretar uma palavra grafada em português. “Foi preciso descrever com o máximo de minúcias o movimento e a posição das mãos, uma vez que uma pequena variação pode alterar o significado da mensagem. Além disso, no Brasil, o conhecimento sobre aspectos ligados à Libras, como questões linguísticas, ainda é pequeno. É diferente do que ocorre com a língua portuguesa, que vem sendo estudada há séculos. Felizmente, contamos com a colaboração de professores da USP que trabalham com a Libras, que nos ajudaram em muitos pontos”, relata o docente da FEEC.
Na opinião de De Martino, o sistema desenvolvido pela sua orientanda representa um grande passo no que toca à geração e manipulação de dados voltados à acessibilidade. Ele observa, no entanto, que a tecnologia pode e deve ser aperfeiçoada. “É bom deixar claro que estamos apenas no começo. Por analogia, é o mesmo que aconteceu com a conversão texto-fala. Quando ela teve início, a voz empregada tinha aquele tom robótico. Hoje, está muito diferente. Nós já percebemos que precisamos aprimorar algumas coisas. O mais importante, porém, é que os testes feitos com a colaboração de deficientes auditivos comprovaram que estamos conseguindo nos comunicar via sistema. Ou seja, estamos passando a informação”, diz. Conforme Wanessa Amaral, a ferramenta pode vir a ser importante não somente para facilitar o acesso dos surdos ao ambiente virtual, mas também para os ouvintes que desejam aprender Libras. O professor De Martino vai ainda mais longe e entende que o sistema pode contribuir até mesmo para consolidar a língua de sinais no país. “Em algum momento, será necessário definir um padrão e sistematizar a língua. Se a evolução for nesse sentido, espero que o sistema ajude”.
Wanessa Amaral destaca que uma das alternativas utilizadas para levar conteúdos em Libras para o ambiente digital é a produção de vídeos. Esse tipo de solução, porém, apresenta algumas desvantagens. Ela exige condições especiais de gravação, como luz e cenário adequados. Além disso, é preciso garantir a continuidade, ou seja, há que se usar o mesmo intérprete, que obviamente precisa estar usando as mesmas roupas. Ademais, se houver a necessidade de corrigir um erro ou fazer uma atualização no conteúdo, não há outra saída a não ser gravar novamente e submeter o material a nova edição. “No caso do nosso sistema, não há esse tipo de exigência. Como o processo ocorre praticamente em tempo real, basta digitar a palavra e apertar o botão de comando, para que o avatar converta imediatamente o texto em sinais de Libras. Nada é pré-gravado”, detalha.
O professor De Martino informa que o sistema já foi objeto de um pedido de depósito de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), procedimento que teve a assessoria da Agência de Inovação Inova Unicamp. “Nossa expectativa, agora, é que alguma empresa se interesse pelo licenciamento da tecnologia. Penso que a ferramenta pode ser uma forte aliada em ações que tenham como objetivo garantir maior acessibilidade aos portadores de deficiência auditiva aos recursos computacionais”, considera. Na visão do especialista, o sistema pode ser adaptado a quaisquer equipamentos computadorizados, tais como tablets e celulares.
Animação facial
Outra linha de pesquisa coordenada pelo professor De Martino, relacionada à animação facial, também pode vir a ser utilizada para estabelecer um link com o sistema desenvolvido por Wanessa Amaral. De acordo com o docente da FEEC, os estudos atuais buscam cada vez mais conferir sincronia e realismo à movimentação articulatória dos avatares. Desse modo, acredita o especialista, é possível que esse recurso possa contribuir igualmente para facilitar o acesso dos surdos aos conteúdos digitais. “Se conseguirmos transmitir ao deficiente auditivo informações visuais associadas à movimentação articulatória da fala, é provável que facilitemos a compreensão, por parte desse público, do que está registrado em áudio. Uma vantagem adicional dessa solução é que estabeleceríamos uma ponte interessante entre surdos e ouvintes”, avalia.
Outra ideia que o professor De Martino considera exequível em curto prazo é a utilização do sistema de conversão para o registro de conteúdos específicos. Esse tipo de recurso poderia ser utilizado, por exemplo, em repartições partições públicas como postos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ou em agências bancárias. “Nesse caso, nós produziríamos mensagens para esclarecer as principais dúvidas dos usuários e clientes surdos. Por analogia, funcionaria da mesma forma como as secretárias eletrônicas utilizadas por algumas empresas, que fazem o encaminhamento do pedido ou reclamação do cliente à medida que ele vai informando, de forma oral, a sua necessidade. No caso em questão, a fala seria substituída por um toque num botão”, antevê.
Comentários
Comentário sobre a matéria
Gostaria de parabenizar o professor José Mario e a doutoranda Wanessa Amaral pela originalidade da pesquisa.
LIBRAS
Parabéns pelo trabalho.Estou ansiosa para saber quando poderei ter acesso a essa nova tecnologia.
Avatar - Libras
Estou fazendo o curso de Libras oferecido pela AFPU. A matéria muito me interessou. Já está disponível o link?
Parabéns
Parabéns à doutoranda e ao orientador!
Torço muito, muito pelo sucesso dessa pesquisa, e que esse trabalho encontre oportunidade de se tornar realidade concreta para todos os que dele puderem se beneficiar.
O caminho é longo...
Parabenizo os responsáveis pela iniciativa, pesquisa, e elaboração do projeto. Sem dúvida é um passo muito importante para que o Surdo, e toda a comunidade Surda se sinta equalizada quando o assunto é comunicação. A idéia é muito boa, deveriam ver a questão de regionalidade da LIBRAS, e o mais importante, ter contato com surdos de diversas comunidades para realmente saber qual a principal dificuldade que encontram perante a sociedade. Falo isso levando em conta a faixa etária e contexto social. Identificando as principais soluções para a Comunicade Surda, o Brasil sim podera ser um pioneiro nessa linha de desenvolvimento. Realmente investir no bem estar da sociedade é o motor de um Estado.
Meus parabéns, que essa pesquisa desperte muitas mentes.
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Ole1, adorei seu blog! Descobri no Desculpe, ne3o ouvi da Lak. Sou dectfienie auditiva desde que nasci, de origem ainda duvidosa (eritroblastose fetal ou os antibif3ticos fortes que tenho tomado ainda bebea). Tenho vinte anos, moro em Teresina, Piaued e curso Arquitetura e Urbanismo. Fico triste de saber que ainda existem pessoas preconceituosas em relae7e3o a deficieancia. Isso me deixa abatida, pois ningue9m conversa comigo. Mas penso que e9 uma queste3o de tempo, que depois elas se acostumam. No cole9gio, nunca sofri isso, sf3 na primeira se9rie do ensino fundamental, quando uma menina me chamava de surda. Depois que ela saiu do cole9gio, nunca tive isso.O que devo fazer ?Obrigada por existir e por escrever esse blog maaaaaaaaravilhoso!Bjos
Programa Libras
Sou Pós Graduada em Educação Inclusiva para mim seria maravilhoso este programa. Gostaria de saber quando poderemos ter acesso a está tecnologia.
Parabéns!!!
Fico feliz em saber que em nosso país há pessoas sensíveis com a população surda. Um grande avanço. Uma tradução on line do Português para a Língua de Sinais? Maravilhoso! Parabéns!!!
RECONECIMENTO PELA GRANDEZA DA PESQUISA
Sou professora univesitária de Educacão Especial,professora de surdos,divulgadora de LIBRAS, estou muito feliz em pensar na repercussào da pesquisa realizada. A comunidade surda com certeza, terá um grande e relevante progresso.Cumprimento e parabenizo o Prof. De Martins e a doutoranda Vanessa. Espero anciosa poder utilizar com meus alunos. Se possível me envie mais detalhes da pesquisa. att Maria Edelvira
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queria jogar
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