Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 29 de julho de 2013 a 04 de agosto de 2013 – ANO 2013 – Nº 568PERFIL
A prosa, o bom café e a odontologia preventiva
A trajetória de Manoel Loyola Agustinho, dentista que atua há 27 anos na Unicamp
O cheiro de café sempre atraiu Manoel Loyola Agustinho. Seja nas brincadeiras em meio à plantação do avô, ainda na infância, na região de Poços de Caldas, no Estado de Minas Gerais, seja na mesa do café, antes de se dirigir ao trabalho, ou até mesmo na mesa de trabalho da diretoria do Ambulatório de Odontologia do Centro de Saúde da Comunidade da Unicamp (Cecom). Sim, porque, apesar da busca do café perfeito e de ter em sua mesa uma minicafeteira expressa, Manoel não se tornou um chefe gourmet, pois se encantou com o trabalho preventivo em sua área de formação, odontologia. Como boa parte dos apaixonados por culinária e café, a gastronomia fica lá, em segundo plano, como um refúgio das atribuições formais. A maior parte do tempo de sua vida, o dentista dedica ao serviço preventivo. Hoje soma 27 anos nesta área, mas vale dedicar algumas linhas para tirar Manoel do ambulatório e revelar que o interesse pelo grão mais procurado no mundo todo o levou a realizar até cursos de barista e participar frequentemente de eventos sobre o tema no Brasil e no exterior. Falar da quantidade de cafeteiras e grãos que experimenta exigiria mais algumas páginas. Sair de casa antes de moer um bom café, passar no coador, sentar-se à mesa e fazer aquela boa refeição mineira nem pensar. “Faço questão. Refeição rápida não é comigo. Levanto uma hora antes do horário de saída para este ritual diário”, confessa. Na infância dos filhos, também fazia questão de levá-los para passar alguns dias das férias na fazenda, onde, apesar de ter morado pouco, sempre frequentava para se reunir com a família. Quando era criança ia à fazenda e, entre uma brincadeira e outra, ajudava a trabalhar o café.
“É bom fazer coisas que não correspondem à atividade formal também. Essas atividades fora da profissão nos levam a conhecer ‘a insustentável leveza do ser’. Precisa ter culinária, café para não precisar discutir o tempo todo odontologia, administração, engenharia, direito.” Manoel sabe que o dia a dia de um profissional de saúde requer envolvimento intenso com pacientes, além de a condição de administrador exigir um relacionamento de qualidade com as pessoas que atende, seja na área administrativa ou odontológica. Para recarregar as energias para as atividades formais, em alguns momentos, é preciso ir à academia, cuidar da saúde, viajar para conhecer novos pratos e culturas, passear com a família. “Cuido-me bastante. Temos de cuidar depois de certa idade. É questão de necessidade. Faço atividade física regularmente”.
A demonstração de novos pratos é um pretexto para reunir amigos para um bom vinho. Têm até os que resolvem trazer uma novidade exótica, que nem sempre agrada, mas o que vale a pena no que não é profissional é justamente o momento de falar sobre o que não domina com pessoas que dominam no mesmo nível, sem ter de prestar contas.
Em sua família, é tradição os homens cozinharem. Manoel é adepto da “comensalidade”. Aquela cena mineira da família ou o amigo entrando pela porta da cozinha e encontrando uma mesa pronta ou uma panela no fogo, de repente, um dedo de prosa, todos se envolvendo no preparo. “Acredito na comida como um fator de união principalmente da família. Isso é muito importante. Todos vão para a cozinha. A falta de comensalidade acabou desunindo as pessoas. Quando vai a uma casa em Minas, a cozinha é grande porque as pessoas vão pra lá.”
UNICAMP, 1983
Uma das coisas que mais atraíram o dentista Manoel à Unicamp foi a possibilidade de sair pelo campus de Barão Geraldo para fazer trabalho preventivo. Ao visitar pela primeira vez o Diretório Central de Estudantes, no campus de Barão Geraldo, como representante dos estudantes da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), em 1983, vislumbrou, na calçada da frente, o Ambulatório Odontológico da Unicamp (AMO), na época um pequeno espaço anexo ao prédio do Restaurante Universitário. Decidido, atravessou a rua e candidatou-se a uma vaga de estágio, a partir da qual, na época, pudesse oferecer prevenção a funcionários da Unicamp. Em 1984, começou a atender. E não parou mais.
Manoel lembra que na época a fila para a triagem era quase tão grande quanto a do almoço no bandejão, mas a vontade de oferecer saúde bucal às pessoas não o assustou, pelo contrário, o atraiu a ponto de somar, hoje, estes 27 anos de trabalho preventivo. Lembra com carinho daquela jornada apontando-a como o início da história do serviço odontológico do Cecom. Infraestrutura não havia, mas a vontade de manter o atendimento era grande a ponto de sonhar e conquistar um espaço muito maior, como o prédio em que o Cecom está instalado hoje. Este trabalho evoluiu para um projeto que o Centro ofecere hoje, o Saúde nas Unidades, em que uma equipe se dirige às unidades com um “pacote” completo de prevenção, seja odontológica ou qualquer outra área da saúde. “Foi assim que conheci quase toda a Universidade. E essa aproximação com outros funcionários é muito gratificante. O bom da odontologia na Unicamp é que o dentista e o cliente são funcionários e isso facilita a aproximação, aumenta a rede de amigos aqui dentro”, declara.
Esta história de poder ajudar as pessoas por meio do atendimento prestado ocupa os pensamentos de Manoel desde a escolha pela carreira. Em Minas Gerais, recebeu uma formação técnica em eletrônica e sonhava ser engenheiro eletrônico. Até realizar uma visita a uma empresa da área. Percebeu que, apesar do encantamento, o dia a dia do profissional não o cativou. Pelo menos não da mesma forma como o encantava as conversas com o dentista de sua mãe, justamente no momento de ser inscrever para o vestibular. A família torcia por mais um engenheiro, enquanto Manoel definitivamente se afastava dessa possibilidade. Até declarar sua decisão. “Eles me apoiaram. Ficaram felizes por mim”, relembra. Para ele, eventos como a Unicamp de Portas Abertas (UPA), que permitem que o candidato conheça várias áreas do conhecimento antes de escolher sua profissão, são muito importantes.
Sorte dele, porque, além desse círculo avantajado de amigos, conheceu a esposa, Maria Madalena Agustini, também formada pela FOP e dentista do Cecom. Constituíram uma família, têm dois filhos, mas um faz engenharia mecânica e outra diz que vai fazer arquitetura. O tempo de dedicação dos dentistas foi um dos aspectos que delinearam a escolha dos filhos, que alegam que dentista não tem tempo para a vida pessoal. “A Unicamp faz parte da história de minha vida. Aqui me formei, fui acolhido como funcionário e ainda constituí minha família. Não tem como separar”, declara.
Desde seu ingresso na Universidade, Manoel não conseguiu ficar imune ao todo oferecido pelo espaço acadêmico, desde as necessidades até as oportunidades. A multidisciplinaridade foi uma das coisas que mais o instigaram. “Adoro essa oportunidade que a Unicamp oferece de extrapolar a odontologia e se relacionar com profissionais e pacientes de outra área da saúde.” Em 1991, a convite do professor Luis Sérgio Leonardi e a professora Ilka Boin, pôde trabalhar com pacientes hepáticos do Gastrocentro, o que resultou em seu mestrado pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Neste projeto, era responsável pela saúde odontológica dos pacientes, os quais exigiam um cuidado especial. “Mais que pacientes, eles nos dão uma lição de vida diária. Lição de esperança, principalmente”. O contato com pacientes de outras áreas da saúde fez com que Manoel se tornasse um dos voluntários do Centro de Aconselhamento em Doenças Sexualmente Transmissíveis (CTA), ligado à Secretaria Estadual de Saúde. “É muito importante extrapolar a odontologia e poder ajudar pessoas em outras áreas também.”
De tanto circular, descobriu, a partir do Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG) da Agência de Formação Profissional da Unicamp (AFPU) que poderia ser um dentista administrador, dirigir uma equipe formada não somente por pares, mas agregar outros profissionais em sua causa. Hoje, como diretor da Odontologia do Cecom, ele destaca a formação profissional garantida pela AFPU da Unicamp aos gerentes pela oferta de novas técnicas administrativas. “Hoje eu consigo aplicar técnicas coletivas e obter resposta individual de meus colaboradores.” Um modelo que tem dado certo no Cecom, segundo Manoel, é a tomada de decisões coletivas. Quando perguntado sobre as atividades que se acumularam em sua vida, Manoel responde: “Não faria nada diferente. Gosto muito de trabalhar aqui. Tenho 50 anos e 27 de Unicamp, e nem penso em aposentar.”
Comentários
Olá Manoel. Parabéns pela
Olá Manoel. Parabéns pela excelente matéria. Abraços
Exemplo de "gente"
Fomos colegas de turma em um curso de Inglês em BG.
Manoel, além de ser um competente profissional, como tantos do Cecom, ele expressa a "grandeza de sua pessoa", apenas com seu singelo cumprimento.
Parabens Manoel, vc é um cara
Parabens Manoel, vc é um cara especial.
Excelente matéria
O Manoel é excelente como pessoa e como profissional. Parabéns pela matéria e pela dedicação no atendimento à comunidade da Unicamp durante todos esses anos. Abraços.
Ei Manoel! Que gostoso ter
Ei Manoel! Que gostoso ter vários lados na vida e poder socializa-los com outros...Obrigado por dividir conosco estas coisas. Aguardo um convite p/ um café!
Parabéns,
Valéria
Ótima matéria.
Ótima matéria.