Edição nº 672
Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDFCampinas, 14 de outubro de 2016 a 14 de outubro de 2016 – ANO 2016 – Nº 672
Um projeto orgânico e coeso
A Unicamp nasceu do propósito do governo de São Paulo de instalar no interior do Estado uma nova universidade que fosse uma grande escola de ensino superior e, ao mesmo tempo, um pujante centro de pesquisas. Quando se tratou de escolher quem a organizaria, o governo encontrou em Zeferino Vaz a pessoa com o estofo certo para a missão.
Ao aceitar a incumbência, Zeferino pediu carta branca para contratar, no Brasil e no exterior, quantos pesquisadores precisasse para o projeto. Foi assim que, antes mesmo da construção dos primeiros prédios, ele atraiu para as imediações do campus cerca de 200 pesquisadores estrangeiros e outros 180 que, como ele próprio (Zeferino foi diretor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto), aceitaram trocar suas instituições de origem pela nova universidade que nascia em um distrito de Campinas, Barão Geraldo, em gleba doada ao estado pela família Almeida Prado, proprietária da terra.
O projeto de instalação da Unicamp veio responder à demanda crescente por pessoal qualificado numa região do Brasil, o Estado de São Paulo, que já nos anos 60 detinha 40% da capacidade industrial do país e 24% de sua população ativa. Até então, o sistema de ensino superior estava voltado para a formação de profissionais liberais solicitados pelo processo de urbanização, como advogados, médicos e engenheiros civis. Necessitava-se, portanto, de uma universidade que desse ênfase especial à pesquisa tecnológica e mantivesse, desde o início, forte vínculo com o setor produtivo.
Desse modo, diferentemente da tradição brasileira de crescimento cumulativo de suas universidades graças à justaposição de cursos e unidades, a Unicamp foi planejada como um projeto orgânico e coeso. A definição dos cursos a serem implantados demandou uma série de reuniões com representantes da indústria e da sociedade. As unidades e os laboratórios surgiram assim em função de necessidades concretas do mercado, que na época exigia engenheiros, químicos, físicos, biólogos, matemáticos e economistas, entre outros profissionais.
50 Anos, ano a ano
A origem da Unicamp está na campanha pela instalação de uma faculdade de Medicina em Campinas, deflagrada em 1946 pelo jornalista Luso Ventura, no Diário do Povo. A campanha, que durou quase duas décadas, levou à criação do Conselho de Entidades de Campinas em 1955, e à aprovação da criação da faculdade pelo governo do Estado em 1958, mas sem a oferta dos meios necessários para sua instalação. A luta foi retomada em 1960, tendo o professor Cantídio de Moura Campos como diretor pró-tempore da faculdade e a adesão da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas, na figura de seu presidente Roberto Franco do Amaral. O Conselho de Entidades, por sua vez, era liderado por Eduardo de Barros Pimentel, Ary de Arruda Veiga e Ruy Rodrigues.
A Universidade Estadual de Campinas foi criada legalmente como entidade autárquica em 1962. No ano seguinte, começou a funcionar a Faculdade de Medicina, provisoriamente instalada nas dependências da Maternidade de Campinas. Moura Campos foi nomeado reitor da Universidade, e o oftalmologista Antônio Augusto de Almeida, diretor da faculdade, que contratava como primeiro docente o professor Walter August Hadler. O primeiro vestibular, em abril de 63, teve 1.592 candidatos para 50 vagas. No mesmo mês foi instalado o Conselho de Curadores da Universidade. Em agosto o governo nomeou reitor o professor Mário Degni, que tomou posse em outubro.
Em setembro de 1965, na gestão de Adhemar de Barros, criou-se por decreto a Comissão Organizadora da Universidade Estadual de Campinas, com a finalidade de continuar a implantação da Faculdade de Medicina e de estudar e planejar a instalação das demais unidades da universidade. A Comissão era presidida por Zeferino Vaz.
1966
Lançada em 5 outubro a pedra fundamental do campus da Unicamp, numa gleba de 30 alqueires doada por João Adhemar de Almeida Prado, a 12 quilômetros do centro de Campinas. O lançamento acontece um mês depois de Zeferino Vaz se reunir com empresários da região para definir o perfil dos cursos a serem implantados. O governo libera recursos para a construção dos primeiros edifícios e o Conselho Estadual de Educação autoriza a instalação e o funcionamento dos Institutos de Biologia, Matemática, Física e Química, das Faculdades de Engenharia, Tecnologia de Alimentos, Ciências e Enfermagem, e dos Colégios Técnicos. Em 22 de dezembro, através de decreto do governador Laudo Natel, Zeferino Vaz é nomeado reitor.
1967
Em janeiro é incorporada a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), fundada em 1955, e constituído o Conselho Diretor. É instalado o Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), que já nos anos 70 realizaria importantes pesquisas, e constituído o Instituto de Química (IQ), em pouco tempo considerado centro latino-americano de excelência. Criada a Faculdade de Tecnologia de Alimentos (FTA), a primeira da América Latina na área. Surgem o Colégio Técnico de Campinas (Cotuca) e a Associação dos Servidores da Unicamp (Assuc). Em novembro entra em operação um símbolo da nova modernidade, o computador IBM 1130.
1968
Inaugurado o primeiro edifício do campus, que aloja provisoriamente o Instituto de Biologia (IB) e mais tarde a Administração. Cria-se o Departamento de Planejamento Econômico e Social, que daria origem ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e mais tarde ao Instituto de Economia (IE), uma das principais escolas de pensamento econômico do país. Instala-se o Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação (IMECC) e o Colégio Técnico de Limeira (Cotil).
1969
É instalado o Instituto de Biologia (IB), que de imediato se destaca por suas pesquisas em genética, microbiologia e zoologia. Criada a Faculdade de Engenharia de Campinas (FEC), abrigando os departamentos de Engenharia Mecânica e Elétrica (e em 1975 o de Engenharia Química). Cria-se também o Centro de Computação. A Unicamp incorpora a Faculdade de Engenharia de Limeira (FEL), segunda unidade fora do campus de Campinas. Em decreto do governo de 30 de junho, são baixados os Estatutos da Unicamp.
1970
A Unicamp firma-se como importante pólo de produção de pesquisas e de cultura e reúne grandes nomes no meio acadêmico. Entre eles, Cesar Lattes, André Tosello, Sérgio Porto, Gleb Wataghin, Vital Brasil, Marcelo Damy, José Ellis Ripper Filho, João Manuel Cardoso de Mello, Rogério Cerqueira Leite, Giuseppe Cilento e Benito Juarez, entre outros.
1971
Criado o Departamento de Música, futuro Instituto de Artes (IA), e inaugurados os pavilhões para as áreas de Química, Matemática, Centro de Tecnologia (CT), Centro de Vivência Infantil, Restaurante Universitário, Faculdade de Engenharia, Ciclo Básico e Administração Geral da Universidade.
1972
Iniciam-se as atividades da Faculdade de Educação (FE), que passa a oferecer disciplinas de caráter pedagógico para os currículos de Licenciatura. Inaugurado o Centro de Tecnologia (CT), órgão de prestação de serviços e de apoio às unidades de ensino e pesquisa. São inauguradas várias outras obras de infraestrutura e edifícios, como o Ciclo Básico, onde os alunos de diferentes cursos assistem às aulas de disciplinas básicas.
1973
Inauguradas as instalações do setor de deficientes auditivos e visuais do Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação Gabriel Porto (Cepre), e também da Faculdade de Engenharia de Limeira (FEL) e do Colégio Técnico (Cotil) daquela cidade.
1974
Em setembro o Instituto de Biologia (IB) muda-se para o novo prédio, dando novo impulso às pesquisas. Tem início o curso de Pedagogia da Faculdade de Educação (FE).
1975
Instalado no gabinete do reitor o terminal de computação. Lançada a pedra fundamental do Hospital das Clínicas (HC). Inicia-se o Programa de Pós-graduação em Educação. A Faculdade de Tecnologia de Alimentos (FTA) passa a denominar-se Faculdade de Engenharia de Alimentos e Agrícola (FEAA).
1976
Em 10 de outubro é registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) o logotipo da Universidade. No mesmo mês, o decreto nº 78.531 do Ministério da Educação reconhece a Unicamp como instituição. É constituído o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), antes Departamento de Linguística do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).
1977
Nasce a Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp). A Associação dos Servidores (Assuc), hoje Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), instala-se em sua sede.
1978
A inauguração de vários pavilhões amplia a estrutura física da Universidade (Cirurgia Experimental, Engenharia, Física, Química, Matemática, Filosofia e Ciências Humanas, Centro de Computação, Codetec, Genética, Biblioteca Central e outros). Dá-se por encerrada a implantação da Unicamp e com ela termina a administração pró tempore do reitor e fundador Zeferino Vaz, que se aposenta compulsoriamente aos 70 anos. O professor Plínio Alves de Moraes, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), assume a Reitoria por quatro anos. Zeferino passa a presidir a Fundação para o Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), recém-constituída.
1979
O atendimento ambulatorial no Hospital das Clínicas (HC) do campus tem início em fevereiro de 1979. Inicia-se a implantação do Instituto de Geociências (IG), que se concentra na pesquisa e na pós-graduação. Do Departamento de Música criado em 1971 surge o Instituto de Artes (IA), com diversas habilitações.
1980
Em março começa o curso de pós-graduação em nível de mestrado oferecido pelo Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Engenharia de Campinas (FEC). A Faculdade de Ciências Médicas (FCM) desenvolve programas visando cumprir os seus objetivos com a comunidade (controle de câncer de útero e de mama, estímulo ao aleitamento materno, atenção materno-infantil, saúde mental, entre outros). Realiza-se em novembro o IV Encontro Brasileiro de Lógica, organizado pelo Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLEHC).
1981
Morre Zeferino Vaz, a 19 de fevereiro, vítima de problemas coronarianos. Em outubro a Universidade entra em grave crise, tendo oito diretores exonerados e 14 membros da Associação dos Servidores da Unicamp (Assuc) demitidos. O Governo de São Paulo decreta intervenção na Universidade.
1982
Professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), o ginecologista e obstetra José Aristodemo Pinotti assume como reitor efetivo da Unicamp. É iniciada a reconstrução física do campus e implementado um amplo processo de institucionalização interna e de reforma dos Estatutos. São criados a Assessoria de Imprensa e o Centro de Comunicação. A Editora inicia suas atividades.
1983
Instalada a Prefeitura do campus. Amplia-se a discussão da reforma institucional da Universidade, que funcionava com estatutos emprestados da USP. Inaugurados o Parque Ecológico, o Serviço Médio e Odontológico para a comunidade interna e o Centro de Convivência Infantil. Surge a Orquestra de Câmara da Universidade. Instalado o Centro de Informação e Difusão Cultural (Cidic), órgão que desencadeou a modernização do Sistema de Bibliotecas e a política de preservação da memória da Universidade. Assinado contrato de empréstimo para término das obras do Hospital das Clínicas (HC). É oficialmente criado o Instituto de Geociências (IG).
1984
É criado o Instituto de Economia (IE). São retomadas antigas obras paralisadas, que ao final da gestão dobram a área útil do campus. É criado junto à Reitoria o Escritório de Ex-Alunos.
1985
Surgem novas unidades: a Faculdade de Educação Física (FEF), cujas primeiras atividades foram desenvolvidas pela Assessoria Técnica da Reitoria para Educação Física e Esportes (Atrefe), criada em 1972; e a Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e a Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), originadas do desmembramento da Faculdade de Engenharia de Alimentos e Agrícola (FEAA). Surge ainda o Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro).
1986
O economista Paulo Renato Costa Souza assume como o novo reitor. São criadas cinco pró-reitorias: Graduação, Pesquisa, Extensão e Assuntos Comunitários, Desenvolvimento Universitário e Pós-Graduação. Inaugurados o Hospital das Clínicas (HC) e o Centro de Saúde da Comunidade (Cecom). Da Faculdade de Engenharia de Campinas (FEC) é desmembrada a Faculdade de Engenharia Elétrica (FEE). A Universidade adquire em novembro a área do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA). O Conselho Universitário (Consu) substitui ao Conselho Diretor como órgão máximo da Universidade, que assim completa o seu processo de reforma institucional. Criada a Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest).
1987
Reformulado integralmente o exame vestibular da Unicamp. São abolidos os testes de múltipla escolha e valorizadas as questões dissertativas. No campo da pesquisa, a Unicamp define cinco áreas prioritárias: biotecnologia, informática, química fina, energia e novos materiais. Com o auxílio da Petrobrás é criado o Centro de Engenharia do Petróleo (Cepetro), onde são realizadas pesquisas e ministrados os cursos de mestrado em geoengenharia de reservatórios e engenharia de petróleo. Cria-se o curso de Filosofia no IFCH e o Sistema de Informação de Pesquisa (Sipe). É concluído o complexo hospitalar, centro de referência para uma região de quatro milhões de habitantes. Físicos da Unicamp participam de programa na Antártida.
1988
Instalado o primeiro curso noturno, o de matemática. Como reflexo das mudanças no vestibular, o número de inscritos sobe de pouco mais de 13 mil no ano anterior para cerca de 35 mil. É implantado o quadro de carreiras dos servidores. O Hemocentro torna-se modelo para o programa de controle emergencial de hemoterapia e hematologia implantado em todo o Estado de São Paulo. A Faculdade de Engenharia de Limeira (FEL) muda-se para o campus de Campinas e passa a ter a denominação Faculdade de Engenharia Civil (FEC). No campus de Limeira passa a funcionar o Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset).
1989
A Unicamp reequipa seus laboratórios. Adquire o computador IBM 3090, o primeiro a ser instalado numa universidade latino-americana, e inaugura em modernas instalações a Biblioteca Central, de onde são geridas 20 bibliotecas setoriais. Instalam-se a Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) e a Faculdade de Engenharia Química (FEQ), como desmembramento da antiga Faculdade de Engenharia de Campinas (FEC). No HC, entram em funcionamento o Centro Cirúrgico e a Unidade de Terapia Intensiva, que estavam em local provisório. O campus tem ampliada consideravelmente sua área física, principalmente no conjunto de Engenharia Mecânica. As universidades estaduais paulistas (Unicamp, USP e Unesp) conquistam a autonomia institucional e financeira do governo do Estado. São entregues as 30 primeiras casas da Moradia Estudantil.