Mario Saad responde

JU - Passado quase um ano desde a chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil, o cenário ainda é incerto quanto à retomada das atividades acadêmicas de forma presencial, em seus diversos segmentos. Como enfrentar essa realidade sem colocar em risco a saúde de estudantes, professores e funcionários e, ao mesmo tempo, preservar o andamento das atividades de ensino, pesquisa, assistência e administração?

Mario Saad – Em primeiro lugar, gostaríamos de destacar que a Unicamp tem sido protagonista no enfrentamento da Covid-19, desde a chegada da pandemia no Brasil. No final de 2019, nossas unidades de saúde já monitoravam a escalada da pandemia no restante do mundo e começavam a delinear planos de contingenciamento e risco. Não podemos esquecer que a Unicamp foi a primeira instituição do país a colocar os seus estudantes e servidores em quarentena, antes mesmo de qualquer decisão das esferas governamentais. Através da Força-Tarefa Contra a Covid-19 e dos seus serviços assistenciais de saúde, com destaque para o Hospital de Clínicas e Cecom, a Unicamp tem se destacado no combate ao novo coronavírus.

Nos últimos meses, pesquisas de impacto foram desenvolvidas rapidamente e centenas de pessoas foram atendidas, desde a população em geral, via Sistema Único de Saúde (SUS), como também alunos, docentes e funcionários, membros da nossa comunidade universitária. Ainda, tivemos ações de voluntariado nunca antes desenvolvidas na universidade, nas proporções que temos visto agora. Arrecadação de cestas básicas, empréstimos de equipamentos para facilitar o acesso remoto, atendimento em saúde mental, e assim por diante. Precisamos destacar essa atuação impecável da nossa comunidade no enfrentamento da pandemia, que ainda deverá demorar mais alguns meses para terminar.

A partir da análise desse cenário, considerando que com algum desconforto, alunos, docentes e funcionários precisaram rapidamente encontrar formas para dar prosseguimento às atividades em Home Office, o primeiro passo da nossa gestão será a oferta de maior respaldo institucional à comunidade, para que as atividades continuem sendo desenvolvidas sem prejuízos à qualidade do Ensino, da Pesquisa e da Extensão realizadas em nossos campi, como também à saúde física e mental de todo o nosso público. Precisamos buscar soluções para tornar as atividades à distância mais proveitosas e didaticamente eficazes para os profissionais e alunos envolvidos, tanto nos cursos de graduação e pós-graduação quanto nas atividades de extensão. Precisamos, também, de melhor infraestrutura de equipamentos, de internet, de Tecnologia de Informação, de Saúde Ocupacional e de Recursos Humanos. Além disso, garantiremos que as estratégias de retorno para as atividades presenciais serão as mais seguras e providentes possíveis diante do cenário da pandemia. Pretendemos, também, revisar o calendário de algumas atividades, no sentido de propor maior flexibilidade de cronograma e assim oferecer atenção àquelas pessoas que tiveram a sua atividade prejudicada de forma irreparável nesse período de pandemia. E ainda, precisamos ouvir mais atentamente o que dizem as comunidades locais em suas especificidades. A realidade enfrentada por todos nós é a mesma, mas as demandas muitas vezes são específicas, e precisamos estar atentos a essas questões, para não perpetuarmos injustiças dentro da nossa instituição.

Em resumo, dentro dos princípios que permeiam a nossa gestão, precisaremos de muita Ousadia administrativa para que as atividades continuem a fluir em nosso dia a dia com mais Harmonia e Responsabilidade. É o que acreditamos.

 

JU - A pandemia também afetou drasticamente a economia, com redução da atividade econômica e consequente queda na arrecadação de ICMS, principal fonte de recursos destinados às universidades públicas de São Paulo. A recessão econômica, que já era significativa antes desse cenário, agravou-se ainda mais. Como preservar a qualidade do ensino, da pesquisa e dos serviços prestados pela Unicamp à comunidade, principalmente no setor de saúde, num contexto de aprofundamento da restrição orçamentária?

Mario Saad – Essa é uma questão sobre a qual a Unicamp está debruçada já há algum tempo, sem avanços significativos. A pandemia deixou essa dificuldade orçamentária ainda mais aparente, trazendo à tona discussões muito difíceis e que por vezes mais nos afastam que aproximam. Como bem explicado no enunciado da pergunta, somos uma Universidade Pública paulista e, como tal, nossa principal fonte de recursos é o ICMS, sempre instável às flutuações do mercado. Mas, esse não é o problema em si. Devemos nos perguntar quais são as alternativas para atrair novos recursos para a nossa universidade dada a nossa realidade e, diante das soluções viáveis, trabalhar para colocá-las em prática. Cabe Ousadia de gestão e Responsabilidade jurídica, no sentido de abrir caminhos que viabilizem maior interação com setores do poder público e também da iniciativa privada. Precisamos de um plano de médio e longo prazo que nos permita fortalecer nossos mecanismos institucionais de captação de recursos em todos os segmentos de atuação. Esse não é um caminho fácil, e que exige muito desprendimento e disposição para o diálogo.

Falando especificamente do setor de saúde, como propõe o enunciado da pergunta, a Reitoria deve ter papel relevante no processo político de atração de recursos extraorçamentários, visando melhorias tanto das atividades assistenciais de saúde, como também das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão. São propostas da nossa gestão:

  • Estimular, induzir e apoiar política e juridicamente novas formas de financiamento, com manutenção ou, preferencialmente, aumento do atendimento SUS. Buscar, de maneira ativa e profissional, os recursos de emendas parlamentares que podem ter participação significativa no financiamento da saúde;

  • Liderar, juntamente com a Diretoria e a Congregação da FCM, bem como das Direções de nossos hospitais, a busca por novas formas de pessoas jurídicas para a Área da Saúde, permitindo que se consiga um maior comprometimento da Secretaria Estadual de Saúde (SES) com o financiamento do nosso complexo hospitalar;

  • Integrar institucionalmente e juridicamente o novo Instituto de Otorrinolaringologia à Área de Saúde da Unicamp, e participar de maneira decisiva na busca por financiamento público e novas formas de financiamento para esse novo hospital;

  • Fortalecer a Fundação da Área da Saúde da Unicamp (Fascamp) visando sua certificação como entidade beneficente (título de filantropia), o que possibilitaria a gestão de convênios e contratos com taxas menos onerosas para os serviços assistenciais de saúde, dada à redução de encargos patronais. Tal economia será útil na qualificação dos serviços prestados e na redução de custos com despesas em pessoal para toda a Área da Saúde;

  • Visando aumentar o número de leitos hospitalares, anexar novos setores de especialidades, a partir da implantação de novos hospitais com moldes administrativos diferenciados e financiados pela Secretaria de Saúde;

  • Com o objetivo de manter a excelência das atividades de ensino, pesquisa, extensão e assistência com repercussão ao atendimento da população, prover a expansão e modernização da infraestrutura tecnológica, incorporando novas tecnologias, inclusive, de inteligência artificial e telemedicina da Área da Saúde;

  • Melhorar a interação com o poder público municipal, a partir de convênios de administração conjunta de prontos-socorros, centros especializados e/ou Unidades Básicas de Saúde, fortalecendo os convênios recém-implantados e integrando os prontuários de todos os serviços SUS para gestão unificada das patologias e limitação de exames repetidos;

  • Ampliar a inserção da Unicamp na gestão de novos hospitais e AMEs, vinculados à SES. Entendendo que a gestão de saúde na região tem impacto direto na qualificação dos casos que serão encaminhados corretamente aos hospitais do campus. Além disso, com os campi de saúde ampliados, amplia-se o espectro de complexidade dos casos clínicos dando uma formação mais completa aos alunos e pesquisadores;

  • Consolidar, em definitivo, o Hospital de Clínicas (HC), o Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti” (Caism), o Hemocentro e o Gastrocentro como estruturas de referências para casos complexos, reduzindo o encaminhamento de casos de baixa complexidade que superlotam os serviços especializados do campus;

  • Estimular a Pesquisa Clínica, envidando todos os esforços para o funcionamento adequado do Prédio de Pesquisa Clínica da FCM;

  • Melhorar a infraestrutura física, adaptando os espaços às necessidades contemporâneas, inclusive de acessibilidade;

  • Trabalhar para que a Unicamp, através de sua área de Saúde, entre definitivamente na era das cirurgias minimamente invasivas, adquirindo equipamentos para cirurgia robótica;

  • Fortalecer as atividades de Medicina de Família e Comunidade, visando maior inserção da Unicamp na sociedade em diversos cenários de práticas de saúde, com estímulo à formação e atuação profissional.

 

JU - As Universidades e a Ciência têm sido duramente atacadas por setores da sociedade alinhados a posturas negacionistas de viés ideológico. Em sua opinião, como a Unicamp deve se posicionar diante desses ataques e que papel deve desempenhar na defesa de seus propósitos?

Mario Saad – Devemos começar a nos perguntar: “por que chegamos até aqui?”, “por que precisamos, agora, provar o real valor da Universidade e da própria Ciência?” Como Universidade, precisamos começar por aquilo que nos cabe enquanto instituição geradora de conhecimento, ou seja, refletir, inclusive, sobre a nossa própria responsabilidade enquanto Academia. Não podemos deixar de ocupar nosso lugar de fala e abrir caminho livre para que o negacionismo científico se instale no seio da sociedade. Já bem o sabemos, em locais em que o Estado não está presente, outros poderes são instituídos. Trata-se de uma autocrítica, ou seja, de saber em que momento a Universidade perde, cotidianamente, o contato com a população ao redor. No que se refere ao posicionamento da nossa gestão em relação aos ataques contra a ciência, somos irredutíveis na defesa da universidade e do conhecimento científico, e moveremos os mecanismos institucionais adequados para ampliar a voz da nossa comunidade científica nos diversos segmentos da sociedade. Nesse sentido, dentro do atual cenário tecnológico e comunicacional, em que a cada dia mudam as ferramentas, e a metodologias de comunicação, compreendemos ser necessário fortalecer os campos de Tecnologia da Informação e Comunicação na nossa universidade. Nesse sentido, temos como propostas:

No que ser refere ao fortalecimento do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC)

  • Regulamentar e expandir a participação de empresas de tecnologia nos projetos inovadores de interesse da Unicamp;

  • Aproveitar a força de trabalho de docentes, funcionários e alunos da universidade nos projetos das cidades, indústrias e comércio para alavancar a inovação tecnológica e científica;

  • Implantar uma interface dotada de inteligência artificial para interação com as principais áreas de interesse da sociedade e também nos processos internos

  • Realizar a governança de TIC com a definição das políticas e atribuições dos órgãos e Conselhos de TIC da Unicamp;

  • Tornar uma gestão efetiva dos recursos com atualização tecnológica para todos os campi;

  • Realizar gestão dos processos de TIC;

  • Ampliar os serviços oferecidos pelos órgãos centrais de TIC, de forma que possam atender com mais eficácia as demandas que surgem a todo o momento, decorrentes do próprio avanço tecnológico;

  • Integrar os sistemas informatizados, administrativos e acadêmicos, de modo a: (1) Simplificar o acesso de docentes, alunos e funcionários aos sistemas da Diretoria Acadêmica (DAC), em pleno funcionamento; (2) Simplificar o acesso das informações aos sistemas administrativos;

  • Garantir acesso à rede mundial de computadores por meio de links escaláveis de alta velocidade e estabilidade de transmissão de dados, entre todos os campi da Universidade;

  • Garantir a tramitação, totalmente digital, dos documentos da universidade, conforme prevista em lei Atuar em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD);

  • Investir, consolidar e estabilizar a “Nuvem Unicamp” e tratar os efeitos ocorridos na migração dos clientes para a nuvem;

  • Estudo da viabilidade tecnológica para o tele trabalho de forma definitiva.

No que diz respeito às atividades de comunicação realizadas na universidade

  • Mapear as atividades de comunicação realizadas em diversos setores e unidades de ensino e pesquisa da universidade, tais quais de jornalismo, publicidade e propaganda, de relações públicas, web design, de rádio e TV, dentre outras;

  • Fomentar a gestão articulada das ações de assessoria de imprensa, comunicação jornalística e relações públicas, entre a administração central e demais setores da universidade, favorecendo a otimização de recursos humanos;

  • Estimular o aprimoramento contínuo dos profissionais de comunicação a partir de cursos de atualização profissional específicos, dado o avanço e aprimoramento ininterrupto de ferramentas e metodologias de comunicação;

  • Prover infraestrutura física e de equipamentos de última geração que confira qualidade aos produtos de comunicação produzidos no âmbito da universidade, nesse sentido, buscar mecanismos de financiamento extraorçamentários para aquisição desses materiais;

  • Prover a atualização da Unicamp na realização de assinaturas e/ou de aquisição de licenças de softwares e aplicativos de edição de imagens, editoração eletrônica, dentre outros, em constante atualização mercadológica;

  • Fomentar a realização de parcerias com unidades e veículos de comunicação de instituições públicas de modo a aumentar o alcance da universidade para outros segmentos de público

  • Prestar assessoria consultiva e jurídica para viabilizar a implantação de uma Rádio Comunitária na Unicamp;

  • Incentivar a criação de linhas de fomento específicas voltadas à produção de conteúdo de divulgação científica, em diferentes meios e plataformas;

  • Fomentar o treinamento contínuo da comunidade acadêmica para as atividades de comunicação e divulgação científica, tais quais, gestão de redes sociais, media training, gestão da comunicação, gestão de crise, editoração eletrônica, dentre outros;

  • Fortalecer o relacionamento da universidade com setores de comunicação externos, bem como veículos de imprensa e órgãos institucionais;

  • Fortalecer as atividades de Relações Públicas, visando o suporte protocolar adequado na realização dos eventos realizados pela universidade e também na preservação da imagem institucional;

  • Incentivar a criação de gabinetes de crise permanentes com a participação de gestores e profissionais de comunicação, visando à articulação conjunta da administração central com suas respectivas unidades subordinadas;

  • Incentivar a estruturação de serviços de produção de sites, revistas, aplicativos e outras peças de comunicação demandadas pela comunidade universitária;

  • Nuclear discussão em fóruns para desenvolvimento de política de comunicação para a universidade, com delineamento de normas e procedimentos padrões, incluindo as transformações de cenário decorrentes do aumento expressivo de eventos realizados em plataforma virtual;

  • Fortalecer ações e iniciativas de comunicação existentes na universidade, lideradas por unidades como RTV, Labjor, Labeurb, Proec, Secretária Executiva de Comunicação, dentre outras; bem como por assessorias locais, tais quais, HC, FCM, FCA, FOP, DGRH, Caism, Hemocentro e etc.;

  • Respaldar e oferecer suporte às unidades e institutos que não contem com equipes ou profissionais de comunicação;

  • Fomentar as atividades de gestão e monitoramento de redes sociais;

  • Fomentar a produção de indicadores de comunicação, bem como a realização de análises periódicas de métricas;

  • Incentivar ações de comunicação de agenda positiva e de mitigação de riscos.

 

JU - Nos últimos anos, uma expressiva parcela de docentes e funcionários chegou à aposentadoria. Ao mesmo tempo, as restrições orçamentárias resultantes da conjuntura econômica dificultam a reposição de quadros no mesmo ritmo. Como minimizar os danos e manter a qualidade?

Mario Saad – Temos na Unicamp a Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH), que define as políticas nesse campo. O primeiro passo para minimizar danos e manter a qualidade das atividades realizadas é retomar o protagonismo da DGRH enquanto órgão assessor da administração central. Nas inúmeras reuniões que temos realizado com a nossa comunidade, sobretudo com os funcionários técnico-administrativos, temos observado o esgotamento de fluxos e processos de trabalho frente à nova realidade, de maneira que muitas tarefas podem ser revistas. Algumas atividades que antes exigiam um número muito grande de pessoas para serem realizadas, na atualidade, podem ser adaptadas ou reinventadas, sem sobrecarga de trabalho para quem permaneceu na ativa. A mobilidade dos servidores, sem o estresse característico que muitas vezes adoece nossos trabalhadores, poderia ser realizada sem burocracia, deixando as pessoas mais felizes com o que fazem. Temos, sim, a necessidade de reposição de vagas de aposentadoria em todos os setores, e faremos isso com um cronograma que contemple as urgências e necessidades específicas de cada área. Temos também processos de trabalho e mesmo estruturas que não mais se aplicam a nossa realidade, inclusive, de currículo, que poderão ser aperfeiçoadas. Após a pandemia, por exemplo, teremos que enfrentar uma discussão mais do que necessária sobre trabalho remoto versus trabalho presencial, dentre tantas outras novidades. A partir desse contexto, a DGRH terá um papel estratégico na nossa gestão, justamente, por concentrar a expertise da nossa universidade na gestão de pessoas. Caberá à DGRH e instâncias a ela vinculadas, oferecer subsídios aos órgãos de decisão colegiada da nossa universidade, no sentido de promover melhorias na infraestrutura organizacional do quadro de Recursos Humanos. São nossas propostas para a gestão de Recursos Humanos, portanto:

  • Recuperar o papel da DGRH enquanto Diretoria de Recursos Humanos. Nesse sentido: (1) Implementar um programa através da DGRH com ações voltadas para a Gestão de Pessoas no âmbito da Unicamp; (2) Criar um programa pró-gestores, que preveja o treinamento, a capacitação e a atualização das futuras chefias em cargos de designação, sobre aspectos fundamentais das atividades gerenciais;

  • A criação de um Programa de Mentoria que possibilite o compartilhamento de saberes e experiência profissional entre os profissionais de diversos setores da Universidade, onde os servidores se proponham a interagir com outros profissionais em início de carreira ou que busquem novas perspectivas na resolução de problemas e propostas de melhorias, com a possibilidade de treinamentos específicos, realização de congressos técnicos, workshops, visitas em outras Unidades/Órgãos, dentre outros;

  • O incentivo à realização de ações, programas e iniciativas que tenham como objetivos: apoiar os servidores docentes e não docentes em momentos difíceis da vida que impactam na qualidade dos serviços prestados, oferecendo suporte médico, psicológico ou de assistência social, quando necessários, e em parceria com outras instâncias da Universidade especializadas no atendimento dessas questões;

  • A atuação articulada da DGRH terá ações colaborativas com outros órgãos especializados no acolhimento e encaminhamento de queixas e denúncias que comprometam a segurança física, emocional e psicológica dos servidores, tais quais: Ouvidoria, Diretoria Executiva de Direitos Humanos e Câmara de Mediação;

  • Propor ações voltadas à saúde do trabalhador, bem-estar e qualidade de vida, bem como de eventos que visem engajar e motivar os servidores em suas atividades;

  • Desenvolver programa de interação periódica entre a DGRH com os RHs locais, com objetivo de fortalecer ações, processos e fluxos de trabalho, favorecer o desenvolvimento profissional, melhorar a comunicação e prestar suporte às equipes;

  • A criação de um programa, específico e periódico, de atualização em Recursos Humanos, visando o treinamento e a capacitação dos gestores e equipes de RH das diversas unidades da Unicamp, sobre as novidades do setor, diretrizes legais, saúde ocupacional, dentre outros;

  • O fomento à realização de debates, grupos de trabalho e de acompanhamento técnico-jurídico e/ou de entidades de classe, que possam amparar os servidores em assuntos de interesses, tais quais, mudança de regime, trabalho remoto, dentre outros.

 

JU - Uma das questões mais sensíveis aos servidores técnico-administrativos diz respeito ao quadro de carreiras em diversos segmentos. Como conduzir esse tema de maneira a reduzir as tensões internas?

Mario Saad – A partir das reuniões que temos realizado com os servidores técnico- administrativos, nós acreditamos que não apenas a escuta, mas também a participação ativa dos servidores na consolidação da carreira é o que poderá minimizar as tensões internas nesse sentido. Aliás, muito do clima de insatisfação da categoria, relacionado ao último processo de Progressão da Carreira Paepe, tem a ver com essa falta de escuta e envolvimento dos servidores pelas instâncias colegiadas, na construção de mecanismos adequados de avaliação, cujos critérios nem sequer foram divulgados com a clareza e objetividade, necessárias, antes mesmo da inscrição dos candidatos. Reforçamos a necessidade de escuta e participação ativa dos funcionários na consolidação da própria carreira. São propostas da nossa gestão para a Carreira dos funcionários:

No que se refere à avaliação e progressão na carreira

  • O provisionamento anual de recursos para a Progressão e Avaliação da Carreira Paepe, com modelo que seja embasado no desempenho, na trajetória, na busca de aprimoramento e na consecução das metas e objetivos traçados;

  • A valorização dos títulos obtidos durante a jornada profissional é importante, deve ser reconhecida, e contemplada com promoções por titulação dentro de cada segmento;

  • O aprimoramento da carreira e do processo de progressão, atualmente vigentes, visando melhorias;

  • A valorização da trajetória e experiência profissional dos trabalhadores;

  • A institucionalização de prêmios destinados aos profissionais da Carreira Paepe, como forma de reconhecer e valorizar a atuação profissional e o desenvolvimento de práticas e iniciativas que tenham sido revertidas em melhoria para a universidade;

  • O incentivo à participação dos profissionais Paepe em atividades de ensino, pesquisa e extensão, em editais, programas e outras iniciativas internas, com a possibilidade de contrapartidas de complementação salarial, desde que haja segurança jurídica;

  • Implantação de Comissão de acompanhamento dos Servidores Paepe.

No que se refere à mobilidade interna

  • Definir regras claras e objetivas relacionadas aos processos de mobilidade interna dos servidores, inclusive, a partir da constituição de um portal de transparência para que os servidores saibam das oportunidades existentes;

  • Trabalhar no desenvolvimento e fortalecimento de uma cultura organizacional que entenda a mobilidade interna dos servidores como uma oportunidade de renovação e crescimento profissional aos profissionais interessados em mudar de áreas, unidades e setores;

  • Propor, com segurança jurídica, o estudo de mecanismos alternativos ao modelo atual vigente de certificação das unidades, que condiciona a mobilidade interna dos servidores à disponibilidade de vagas e recursos em cada localidade;

  • Fomentar o treinamento contínuo dos servidores para as questões de mobilidade interna dos servidores, assédio moral, direitos humanos, mediação de conflitos, dentre outros.

No que se refere ao treinamento e capacitação

  • Ampliar os cursos oferecidos, com maior número de vagas e disponibilidade de horários, inclusive no período noturno;

  • Incentivar o oferecimento de cursos e treinamentos que estejam alinhados às necessidades estratégicas da Universidade;

  • Fomentar a realização de parcerias com outras universidades e instituições de ensino, do Brasil e do exterior, incluindo de órgãos governamentais, de modo a ampliar a oferta de cursos, a troca de expertise entre as instituições, inclusive, com a mobilidade internacional dos servidores para a realização e/ou oferta de treinamentos e cursos;

  • Manter e expandir o oferecimento de cursos de idiomas, fundamental ao processo de internacionalização da universidade;

  • Oferecer treinamentos e cursos de qualificação em todos os níveis de atuação, visando excelência de atividades e realização profissional;

  • Promover o oferecimento de cursos e treinamentos de gestão universitária a todos os servidores interessados, sem restrição aos cargos de chefia;

  • Prover a implantação de novas tecnologias de comunicação para a realização de treinamentos à distância.

 

JU - Em escala global, a ênfase nas avaliações de qualidade de pesquisa vem se deslocando da mera atenção à produtividade para questões de impacto e relevância. Como a Unicamp deve responder a essa mudança cultural?

Mario Saad – A Unicamp é uma das melhores universidades da América Latina e nós queremos inseri-la também no ranking das melhores universidades do mundo. Para isso, não basta publicar. É preciso, sim, buscar impacto e demonstrar a relevância das atividades de pesquisa realizadas em nossa universidade. Que isso não seja confundido exclusivamente por publicações em revistas de alto fator de impacto. Publicações em grande quantidade, com um número alto de citações e em revistas de grande visibilidade internacional são importantes e deverão ser incentivadas, mas não são os únicos indicadores de impacto e relevância em pesquisa. Precisamos ir além. Precisamos valorizar os resultados de pesquisas que tenham impacto abrangente sobre a comunidade científica e sobre a sociedade. Há diversos indicadores que mostram que estamos no caminho certo, mas acreditamos que podemos ampliar ainda mais o espaço da Unicamp na sociedade ao aliar atividades de pesquisa a atividades de extensão.

A Unicamp tem formadores de opinião e referências científicas e artísticas em diversas áreas do conhecimento. Muitos talvez não saibam, mas, anualmente, pesquisadores da Unicamp são convidados a fazer indicações de nomes de candidatos ao prêmio Nobel. Esse é um indicador importante da relevância mundial em pesquisa da nossa instituição. As vozes dos pesquisadores da Unicamp precisam ser ecoadas e ouvidas mais continuamente. Os servidores da Unicamp precisam ser mais reconhecidos pela influência que de fato têm. A interlocução com a sociedade por meio de mídias ou pela participação em órgãos que definem políticas públicas precisa ser mais valorizada. Para isso, precisamos fomentar as iniciativas de divulgação e comunicação científica, além de incentivar a participação de membros da Unicamp em entidades científicas, acadêmicas e, por que não, políticas. O impacto da Unicamp também será fomentado pelo intercâmbio de ideias e pesquisas por meio de parcerias interinstitucionais e pela internacionalização. Os museus da Unicamp também serão valorizados e usados para transmitir o conhecimento gerado na universidade para a população de todas as idades.

Além das ideias e da pesquisa fundamental, a Unicamp se destaca por ser berço de conceitos inovadores cuja aplicabilidade transforma a sociedade. Esses conceitos serão impulsionados a partir da INOVA, fomentando a geração e o licenciamento de novas patentes, parcerias com empresas e instituições públicas ou privadas, incubação de startups, etc. Além disso, criaremos a Secretaria para o Desenvolvimento da Pesquisa, Inovação e Extensão (SDPIE), com o objetivo de criar condições para aproximar as competências de pesquisa, inovação, artes e extensão da Unicamp, e empresas e instituições interessadas em parcerias. Com isso, incentivaremos outra atividade importante para aumentar o impacto e a relevância da Unicamp: a atração de recursos extraorçamentários. Ao promover a visibilidade da Unicamp, demonstrar o impacto que a universidade tem no dia-a-dia das pessoas e diminuir as amarras burocráticas que desestimulam o estabelecimento de parcerias, mais recursos serão atraídos. Por outro lado, com mais recursos e uma gestão mais eficiente, a Unicamp se mostrará ainda mais influente e relevante perante a sociedade.

O HIDS (HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável) é um exemplo de parceria público-privada que aproxima a Unicamp da sociedade e a coloca na posição de protagonista na construção de um futuro melhor. A Força Tarefa da Unicamp Contra a COVID-19 é mais um exemplo de iniciativa bem-sucedida de interação da Unicamp com outras instituições e cujo impacto social tem sido enorme. Essas e outras iniciativas com caráter misto de pesquisa e extensão serão incentivadas e, na medida do possível, perenizadas. Também, não há como esquecer o papel da Unicamp no campo de Assistência à Saúde. A título de exemplo, o HC atende uma população de 6,5 milhões de habitantes de cidades do interior de São Paulo e sul de Minas Gerais. Pesquisas que aumentem a capacidade, a abrangência e a qualidade do atendimento serão incentivadas. A Unicamp também tem parcerias com o Ministério Público e outras entidades para dar suporte a populações em risco social, econômico ou sanitário. Novamente, pesquisas que promovam essa interface serão valorizadas. A Unicamp também deve estar comprometida com a redução de desigualdades. Assim sendo, pesquisas desempenhadas nesse sentido ou por indivíduos de minorias étnico-raciais serão priorizadas.

 

JU - Ainda no âmbito da avaliação de qualidade de pesquisa, as medidas de impacto e relevância usuais são as mais adequadas, considerando a missão da Unicamp?

Mario Saad – Recentemente, a Unicamp passou por uma avaliação institucional em que foi bem avaliada no que tange à pesquisa e inovação. Os critérios para a avaliação foram abrangentes e pertinentes, expondo a clara vocação e o destaque da Unicamp em pesquisa em diferentes áreas do conhecimento. No entanto, há desafios a serem vencidos, um deles é justamente aumentar o potencial transformador da Unicamp e o impacto e a relevância da universidade no cenário internacional. A parte do Planes dedicada às atividades de pesquisa foi em grande parte direcionada para a busca dessa maior inserção. Algumas das ações planejadas visam suprir essas necessidades, mas cabe à nova gestão avaliar continuamente o andamento das estratégias propostas no Planes e criar formas de viabilizá-las. Cabe ainda à nova gestão, adaptar os mecanismos de avaliação e as ações planejadas com base em novas formas de percepção de impacto e relevância. Nosso compromisso é justamente esse. E, como dito anteriormente, pensamos que um caminho para melhor avaliar o impacto e a relevância das atividades de pesquisa da Unicamp é promover a visibilidade e o alcance extramuros dessas atividades em conjunto com a Extensão.

 

JU - Qual deve ser o papel do reitor frente a situações de conflito na comunidade interna, envolvendo estudantes, funcionários e docentes, levando em conta o histórico de ocupação da Reitoria num passado recente?

Mario Saad – Diálogo sempre, em todas as situações, quantas vezes forem necessárias. Sobre o passado recente citado no enunciado da pergunta, em que a Reitoria foi ocupada, lamentamos profundamente que a situação tenha escalado para tal cenário de violência. E não nos referimos especificamente à depredação do patrimônio público, mas, sim, ao fato de fragilizar uma relação que consideramos um pilar para a nossa instituição que é a relação professor-aluno. Faltou diálogo. Em situações de crise, o reitor e o vice-reitor têm o papel de conduzir o diálogo com as entidades representativas, sejam elas dos estudantes, dos docentes ou dos funcionários. Somos todos membros da comunidade universitária. Muitas vezes ocupamos posições diferentes na estrutura organizacional e defendemos posições diametralmente opostas, mas, nem por isso, devemos nos enxergar como inimigos. Nossas lutas podem ser muitas vezes díspares, outras vezes complementares, e isso é um processo natural no contexto da democracia. Tendo ocupado os cargos de Diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Instituto de Química (IQ), tanto eu como o Zezzi já enfrentamos duros embates, sempre respeitando todos os envolvidos até que uma decisão pudesse ser encaminhada com o consenso da maioria.

JU -  A relação recente do governo do Estado com a comunidade acadêmica tem sido tumultuada, com ameaças de corte no orçamento das instituições, o que exigiu grande mobilização para evitar medidas que, caso aprovadas, colocariam em risco as atividades de ensino e pesquisa. Em sua opinião, como a reitoria deve ser portar diante dessas ameaças e qual a sua política de interação com o governo estadual?

Mario Saad – Nossa política diante das ameaças e também de interação com o governo estadual será a mesma para com a nossa comunidade interna e todos os demais segmentos da sociedade, ou seja, de diálogo. Não podemos, enquanto ocupamos a posição de representantes de uma instituição pública do porte da Unicamp, nos fechar ao diálogo com quem quer que seja, por mais difícil que esse diálogo possa transparecer. Infelizmente, a Unicamp tem colhido frutos amargos decorrentes da sua falta de interação com setores aos quais muitos consideram intratáveis ou incomunicáveis. Como dissemos anteriormente: quando deixamos de ocupar certos espaços, outros ocupam o nosso lugar e o nosso direito de se posicionar. A atuação política de um reitor (entenda-se o termo derivado do grego politiké) jamais deve ser confundida com a atuação político-partidária ou ideológica.

 

JU - Como avalia a importância das políticas de ações afirmativas e de inclusão social na Unicamp e como lidar com o desafio das políticas de permanência e de apoio ao estudante, levando em consideração o crescimento de discentes com menor renda?

Mario Saad – As políticas de ações afirmativas e inclusão social são uma realidade na Unicamp, que já há alguns anos vem implementando uma série de iniciativas através de seus órgãos colegiados visando ampliar o acesso de estudantes de maior vulnerabilidade social. Valorizamos essas iniciativas e iremos reforçá-las, sempre com o cuidado de prover condições adequadas visando à permanência estudantil. Muitas iniciativas que já existem hoje precisam de mais respaldo institucional. A título de exemplo, a Moradia Estudantil está no foco das nossas atenções, pois entendemos que o espaço é uma extensão dos nossos campi que deve receber maior atenção da administração central. Como em outros segmentos da nossa universidade, também para as políticas de permanência serão buscadas outras fontes de financiamento, que permitam melhores condições aos nossos estudantes de prosseguirem com os estudos. São propostas da nossa gestão, nesse sentido:

No que se refere às políticas afirmativas

  • Estimular as ações da Comissão de Diversidade Étnico-Racial (CADER) e discutir a viabilidade da mesma se transformar em um órgão com mais autonomia e inserção institucional;

  • Aumentar, de maneira robusta, o número de bolsas SAE e criar novas fontes de financiamento, facilitando o acesso e utilização dessas bolsas;

  • Expandir as iniciativas destinadas aos estudantes de escolas públicas, ainda restritas ao município de Campinas, para cidades da Região Metropolitana;

  • Refinar os mecanismos de suporte socioeconômico e de avaliação periódica, visando à permanência dos estudantes na universidade e excelência de rendimento;

  • Fortalecer e ampliar os dispositivos atuais referentes à concessão de benefícios sociais;

  • Fortalecer e ampliar o acesso dos estudantes aos serviços de saúde oferecidos à comunidade, em todos os campi da Unicamp;

  • Incentivar a participação dos estudantes em atividades artísticas, culturais, desportivas e de lazer que deve ser oferecida pela Unicamp, em todos os campi

  • Propor a criação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro;

  • Estabelecer parcerias com empresas-filhas da Unicamp para oferecer estágio para alunos de graduação;

  • Havendo segurança jurídica, estabelecer parcerias com empresas privadas para atuarem como tutores financeiros de cotistas, como opção para garantir a permanência na universidade;

  • Investir em estratégias para difundir a importância das ações afirmativas, no âmbito da Unicamp, para os três públicos principais que compõem a comunidade acadêmica: alunos, docentes e funcionários.

No que se diz respeito ao Programa de Moradia Estudantil

  • A revitalização dos espaços da Moradia, com melhorias estruturais e aprimoramento estético das áreas comuns, com o objetivo de proporcionar melhor qualidade de vida;

  • Instalar cabeamento estruturado (internet via cabo da Unicamp) nas moradias dos estudantes, permitindo o acesso ao ambiente virtual, com o objetivo de melhorar a qualidade de conexão, estabilidade da internet e acesso aos sistemas de informação da universidade;

  • Estimular em conjunto com os estudantes residentes da ME, projetos de gestão coletiva dos espaços e de melhorias a serem implantadas;

  • Incentivar no âmbito da ME, a realização de projetos de extensão universitária e solidariedade, em colaboração com associações e ONGs, de modo a aproximar a Moradia Estudantil da Unicamp dos bairros em seu entorno;

  • Destacar os serviços básicos que podem ser prestados aos residentes da Moradia Estudantil, com o apoio do comércio local na oferta de condições mais acessíveis aos estudantes;

  • Criar mecanismos que proporcionem maior integração da ME com a Unicamp, com melhoramento da gestão (mais inteligente e participativa) e oferta de serviços gerais;

  • Incentivar a participação dos estudantes residentes da ME às práticas culturais e desportivas oferecidas no campus da Unicamp, em Campinas, sobretudo aos finais de semana;

  • Propor estudo para implantação de sistema de rastreamento para controle das vagas (com atribuição das vagas e controle de vigência).

No que se refere ao Serviço de Apoio ao Estudante (SAE)

  • Rever a vinculação do SAE, hoje na PRG, cuja atuação é mais ampla e hoje permeia inúmeras áreas da Universidade;

  • Aperfeiçoar e atualizar o sistema de TIC do SAE;

  • Repor, com responsabilidade financeira, a perda de funcionários dos últimos anos, reduzindo a sobrecarga de trabalho dos funcionários do SAE.

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