Qualidade da Pesquisa

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JU - Em escala global, a ênfase nas avaliações de qualidade de pesquisa vem se deslocando da mera atenção à produtividade para questões de impacto e relevância. Como a Unicamp deve responder a essa mudança cultural?

Tom ZéNos últimos anos, as agências de fomento brasileiras e internacionais utilizaram de forma disseminada a medida per capita de artigos científicos publicados como forma de avaliação da pesquisa. Esta métrica, entretanto, não se atrelou necessariamente à qualidade da pesquisa desenvolvida, estimulando ainda uma competição nos ambientes universitários de todo o mundo. As avaliações de mérito passaram a ser baseadas, quase que exclusivamente, em quantidade de publicações por tempo de atividade do pesquisador, o que não necessariamente privilegia a qualidade e a relevância social da pesquisa. Uma consequência negativa desta estratégia foi também o aparecimento de vários periódicos de baixa qualidade, o que contribuiu, ainda, para uma mudança no modelo comercial de editoras que começaram a cobrar pela publicação dos trabalhos científicos (open access).

Os resultados de pesquisa devem ser disseminados, a produção científica é consequência da boa pesquisa e prestigia a instituição do pesquisador. É, portanto, importante publicar. Mas sem dúvida, o mais importante está em publicar com qualidade, impacto e relevância, o que, necessariamente, demanda certo tempo de gestação e de amadurecimento da pesquisa. A Unicamp tem, em suas origens, uma clara vocação à pesquisa, que deve ser permanentemente renovada em seus propósitos e estratégias. Uma Universidade como a nossa tem que se pautar pela ambição em pesquisa e isto passa pela busca do novo, do relevante, daquilo que gera impacto social.

A Unicamp é uma instituição jovem, mas já atingiu um padrão de qualidade em pesquisa que a coloca bem acima do padrão médio brasileiro, em todas as áreas de conhecimento. Novos desafios se apresentam a partir desse patamar já alcançado e acreditamos que é papel da administração da Universidade promover discussões visando elaborar e, subsequentemente, sinalizar direcionamentos sobre qualidade e relevância em pesquisa. Cabe ainda, para isto, estarmos atentos a dois aspectos que não são contraditórios, como podem parecer num primeiro olhar mais superficial, mas que se complementam: a relevância social em vista das necessidades do país e os temas de ponta em prioridade nos grandes centros internacionais.

A Unicamp deve ocupar também uma posição de destaque em políticas de pesquisa. Ao mesmo tempo em que estimula internamente a qualidade, deve ocupar espaços importantes junto aos órgãos de fomento estaduais e nacionais para contribuir, com sua personalidade institucional, com a definição de parâmetros e critérios de avaliação de pesquisa e de programas de pós-graduação. A Unicamp tem também a vocação histórica de procurar "fazer a diferença", na vida acadêmica e no bem-estar da sociedade. É perseverando nesta disposição que chegará, de forma mais natural a novos patamares de relevância, e consequente prestígio, científica em todas suas áreas de atuação.

Uma das formas de aumentar o impacto e a relevância da pesquisa desenvolvida na Unicamp é aumentar o seu grau de interdisciplinaridade e de internacionalização. Para que isso possa acontecer é necessário estimular a interação entre as diferentes áreas de pesquisa da Unicamp tendo como base temas desafiadores cuja solução exija essa interação. Outro ponto imprescindível são as ações de mobilidade internacional para todas as categorias profissionais da universidade (estudantes de graduação e de pós-graduação, funcionários, docentes e pesquisadores) e a busca institucional de colaborações em escala global, identificando áreas estratégicas e respeitando as particularidades e os interesses das unidades.

Esses dois temas são muito caros para a chapa Unicamp: construindo o Amanhã e pretendemos, se eleitos, trabalhar para implementar programas mais focados de internacionalização e de interação entre as unidades de ensino e pesquisa, buscando a fertilização cruzada que leva ao aumento da qualidade e da relevância da pesquisa de todos os envolvidos. Em resumo, entendemos que a Unicamp deve abraçar o compromisso de protagonizar o desenvolvimento de pesquisa relevante e de qualidade que atenda aos anseios das comunidades que nos circundam, no Estado de São Paulo, no Brasil e nas parcerias internacionais.  

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Mario SaadA Unicamp é uma das melhores universidades da América Latina e nós queremos inseri-la também no ranking das melhores universidades do mundo. Para isso, não basta publicar. É preciso, sim, buscar impacto e demonstrar a relevância das atividades de pesquisa realizadas em nossa universidade. Que isso não seja confundido exclusivamente por publicações em revistas de alto fator de impacto. Publicações em grande quantidade, com um número alto de citações e em revistas de grande visibilidade internacional são importantes e deverão ser incentivadas, mas não são os únicos indicadores de impacto e relevância em pesquisa. Precisamos ir além. Precisamos valorizar os resultados de pesquisas que tenham impacto abrangente sobre a comunidade científica e sobre a sociedade. Há diversos indicadores que mostram que estamos no caminho certo, mas acreditamos que podemos ampliar ainda mais o espaço da Unicamp na sociedade ao aliar atividades de pesquisa a atividades de extensão.

A Unicamp tem formadores de opinião e referências científicas e artísticas em diversas áreas do conhecimento. Muitos talvez não saibam, mas, anualmente, pesquisadores da Unicamp são convidados a fazer indicações de nomes de candidatos ao prêmio Nobel. Esse é um indicador importante da relevância mundial em pesquisa da nossa instituição. As vozes dos pesquisadores da Unicamp precisam ser ecoadas e ouvidas mais continuamente. Os servidores da Unicamp precisam ser mais reconhecidos pela influência que de fato têm. A interlocução com a sociedade por meio de mídias ou pela participação em órgãos que definem políticas públicas precisa ser mais valorizada. Para isso, precisamos fomentar as iniciativas de divulgação e comunicação científica, além de incentivar a participação de membros da Unicamp em entidades científicas, acadêmicas e, por que não, políticas. O impacto da Unicamp também será fomentado pelo intercâmbio de ideias e pesquisas por meio de parcerias interinstitucionais e pela internacionalização. Os museus da Unicamp também serão valorizados e usados para transmitir o conhecimento gerado na universidade para a população de todas as idades.

Além das ideias e da pesquisa fundamental, a Unicamp se destaca por ser berço de conceitos inovadores cuja aplicabilidade transforma a sociedade. Esses conceitos serão impulsionados a partir da INOVA, fomentando a geração e o licenciamento de novas patentes, parcerias com empresas e instituições públicas ou privadas, incubação de startups, etc. Além disso, criaremos a Secretaria para o Desenvolvimento da Pesquisa, Inovação e Extensão (SDPIE), com o objetivo de criar condições para aproximar as competências de pesquisa, inovação, artes e extensão da Unicamp, e empresas e instituições interessadas em parcerias. Com isso, incentivaremos outra atividade importante para aumentar o impacto e a relevância da Unicamp: a atração de recursos extraorçamentários. Ao promover a visibilidade da Unicamp, demonstrar o impacto que a universidade tem no dia-a-dia das pessoas e diminuir as amarras burocráticas que desestimulam o estabelecimento de parcerias, mais recursos serão atraídos. Por outro lado, com mais recursos e uma gestão mais eficiente, a Unicamp se mostrará ainda mais influente e relevante perante a sociedade.

O HIDS (HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável) é um exemplo de parceria público-privada que aproxima a Unicamp da sociedade e a coloca na posição de protagonista na construção de um futuro melhor. A Força Tarefa da Unicamp Contra a COVID-19 é mais um exemplo de iniciativa bem-sucedida de interação da Unicamp com outras instituições e cujo impacto social tem sido enorme. Essas e outras iniciativas com caráter misto de pesquisa e extensão serão incentivadas e, na medida do possível, perenizadas. Também, não há como esquecer o papel da Unicamp no campo de Assistência à Saúde. A título de exemplo, o HC atende uma população de 6,5 milhões de habitantes de cidades do interior de São Paulo e sul de Minas Gerais. Pesquisas que aumentem a capacidade, a abrangência e a qualidade do atendimento serão incentivadas. A Unicamp também tem parcerias com o Ministério Público e outras entidades para dar suporte a populações em risco social, econômico ou sanitário. Novamente, pesquisas que promovam essa interface serão valorizadas. A Unicamp também deve estar comprometida com a redução de desigualdades. Assim sendo, pesquisas desempenhadas nesse sentido ou por indivíduos de minorias étnico-raciais serão priorizadas.

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Sergio Salles-FilhoEntendemos a avaliação de resultados e impactos - da pesquisa, mas não somente – como uma prática necessária na rotina da universidade. A avaliação tem um papel fundamental no planejamento, no autoconhecimento e na prestação de contas à sociedade sobre o que a universidade faz. Sempre escutamos que a comunidade identifica a Unicamp ao Hospital, que presta serviços valiosíssimos, mas a falta de divulgação dos resultados das atividades de ensino, pesquisa e extensão é, em grande parte, responsabilidade nossa. Temos que melhorar nossa comunicação com a sociedade, pois a própria legitimidade social de ser uma universidade pública e gratuita e plural, que recebe R$ 2,5 bilhões anuais de impostos, passa por isso.

Ao ser compreendida como uma prática, a avaliação precisa ser constantemente atualizada em relação aos indicadores e métricas que emprega, assim como em relação aos instrumentos de coleta e análise de dados. Em todos estes aspectos, há uma importante evolução nas últimas décadas e cabe também à Unicamp contribuir para essa evolução.

Como ponto central desse movimento está a perspectiva de mensurar impactos, ou seja, os efeitos dos resultados da pesquisa, sempre considerando que tais impactos se manifestam em diferentes dimensões. É possível ver este movimento nos rankings internacionais das universidades, que estão agregando dimensões de impacto aos tradicionais indicadores de produção acadêmica e reputação. Outro ponto importante é a crescente disponibilidade de dados e a necessidade também crescente de capacidade de processamento destes dados para fins de avaliação.

Inicialmente consideramos que a avaliação da pesquisa deve ir além da contabilização da produção científica e tecnológica. Devemos sim medir o número de artigos em periódicos – mas também de artigos em eventos, livros e capítulos de livros, patentes e obras artísticas, até porque diferentes áreas de conhecimento têm dinâmicas específicas para a publicação de seus resultados de pesquisa.

Devemos também usar indicadores para qualificar estes números, tais como fator de impacto das revistas, citações, colaborações nacionais e internacionais, mais uma vez sem desconsiderar as especificidades das áreas. Mas devemos ainda estar atentos a novos indicadores associados à produção científica, como é o caso, por exemplo, da proeminência, que classifica de forma dinâmica tópicos de pesquisa a partir de citações e visualizações recentes e impacto das revistas e permite ter uma visualização de relevância da pesquisa que temos realizado. Ou ainda, da altimetria, um conjunto de métricas alternativas que identificam principalmente como as pessoas interagem em torno de um trabalho acadêmico em ambientes online, tais como redes sociais, blogs e gerenciadores de referências bibliográficas, ou ainda se, e como, essas publicações são citadas em patentes, documentos de políticas públicas ou ensaios clínicos, só para trazer alguns exemplos.

O mesmo cabe para a produção tecnológica que decorre das atividades de pesquisa. Devemos, da mesma forma, medir o número de depósitos de direitos de propriedade intelectual, mas também acompanhar licenciamentos e outros acordos de transferência de tecnologia, o que é essencial para ir além da contabilização. A mesma lógica vale para as inovações sociais voltadas a políticas públicas, assim como as que envolvem a formulação e implementação de novos produtos, processos, serviços ou modelos (organizacionais, de gestão, de governança, de relacionamento) orientados especificamente ao atendimento de necessidades e ao enfrentamento de problemas sociais (Relatório de Avaliação Institucional Unicamp 2014-2018).

A mensuração de outros tipos de impacto da pesquisa e da extensão – sociais, econômicos, ambientais – são igualmente relevantes e impõem desafios metodológicos maiores, justamente porque é preciso estar atento para a atribuição da causalidade entre as atividades de pesquisa e extensão e seus desdobramentos, seja para a qualidade de vida, formulação de políticas públicas, geração de empregos, competitividade entre outros. No entanto, apesar dos desafios, a mensuração de impactos é importante para compreender que para além de pesquisa de excelência que a Unicamp produz, temos uma pesquisa responsável e relevante para o desenvolvimento social, econômico, ambiental em âmbitos regional, nacional e mesmo internacional.

Recentemente, a Capes anunciou que os Programas de Pós-Graduação precisarão realizar auto-avaliação, além de planejamento, o que pode ser um bom piloto para avaliações de impacto da pesquisa no âmbito da Unicamp, a serem posteriormente organizadas em âmbito institucional.

Entende-se que a mudança de cultura no que se refere à avaliação da pesquisa passa também pela inclusão de indicadores relacionados ao processo de fazer pesquisa na Universidade. Identificar práticas de Open Science e diversidade das equipes de pesquisa são, dentre outros, elementos fundamentais nesta vertente.

Para viabilizar e sistematizar essa prática de avaliação de impactos, é de extrema relevância que a Unicamp seja capaz de organizar seus dados internamente e ter acesso às bases e plataformas de dados variadas, que possam ser integradas para gerar as informações desejadas. Complementarmente, é preciso mobilizar competências – dentre tantas que já existem na própria Unicamp e de parceiros nacionais e internacionais – para a realização das diferentes etapas envolvidas nestes exercícios.

Nossa gestão dará apoio aos programas e às unidades para que as metodologias de avaliação tragam informações relevantes para as diferentes áreas do conhecimento, úteis para conhecermos mais e melhor o que fazemos e os efeitos do que fazemos.

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