Apresentação

Nossa gestão coincidiu com um período conturbado da história da Unicamp, do país e do mundo. Para além das dificuldades inerentes à administração de uma instituição pública de ensino e pesquisa no Brasil, enfrentamos, no decorrer do quadriênio 2017-2021, três crises de grandes proporções que interferiram diretamente nos rumos do nosso trabalho.

A primeira destas crises já estava instalada quando assumimos a Reitoria. Naquele momento, a Unicamp caminhava para fechar seu orçamento em déficit pelo quarto ano consecutivo – uma sequência jamais registrada desde a conquista da autonomia financeira pelas universidades estaduais paulistas, em 1989. Embora tivéssemos conhecimento prévio do problema, sua dimensão revelou-se muito maior do que a imaginada. Diante da urgência em solucioná-lo, dedicamos o primeiro ano de nossa gestão à complexa tarefa de conter o aumento das despesas institucionais, o que nos obrigou a adotar uma série de medidas tidas como impopulares.

A segunda crise instalou-se na esteira da campanha eleitoral de 2018, fomentada pelo acirramento da polarização política no país. A partir dali, as universidades públicas tornaram-se alvo de campanhas de desinformação nas redes sociais e de múltiplos ataques à sua autonomia, entre os quais merecem destaque, no caso das estaduais de São Paulo, a Comissão Parlamentar de Inquérito instalada em 2019 na Assembleia Legislativa do Estado e as tentativas de confisco de recursos efetuadas por meio de projetos de lei apresentados pelo governo paulista em 2020.

Por fim, em meio a este cenário de turbulência sistêmica, irrompeu no mundo a maior crise sanitária dos últimos cem anos, a qual impôs à Unicamp o desafio de dar continuidade às suas atividades de ensino, pesquisa e extensão e de prestar o devido atendimento hospitalar às vítimas da pandemia sem colocar em risco a saúde da comunidade acadêmica. Mais do que reorganizar todo o funcionamento da Universidade, adaptando-o, sempre que possível, à modalidade remota, foi necessário buscar fontes alternativas de recursos para complementar as receitas oriundas do Tesouro do Estado, reduzidas em razão da queda da atividade econômica no país.

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A despeito da gravidade e imprevisibilidade das intercorrências e da magnitude dos esforços – até então inéditos – empreendidos para mitigar suas respectivas consequências, alcançamos resultados expressivos em todas as áreas que considerávamos cruciais para inserir a Unicamp de fato no contexto do século XXI.

Entre outras realizações importantes, modernizamos e profissionalizamos a administração da Universidade; investimos nas carreiras e na qualificação dos servidores; inserimos o respeito aos direitos humanos no cotidiano das atividades acadêmicas; promovemos o aumento da diversidade social e étnico-racial entre a comunidade universitária; lançamos as bases para o crescimento planejado e sustentável da Unicamp; e estreitamos suas relações com a sociedade, em inúmeras frentes, corroborando a nossa convicção de que um olhar plural e voltado para as demandas contemporâneas impulsiona os indicadores de qualidade de uma instituição reconhecida internacionalmente desde a sua origem.

Este documento, para além da prestação de contas comum a todas as gestões, se reveste de uma importância histórica por demonstrar que uma universidade pública é capaz de se reinventar, nas circunstâncias mais adversas, quando administrada de forma transparente, participativa e com o envolvimento da comunidade, tendo como missão servir à sociedade que a financia.

Marcelo Knobel

Reitor


 

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