Sistema tem vários padrões
As análises dos especialistas da Unicamp são parcialmente compartilhadas pelo gerente de planejamento e da informação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Cláudio de Almeida Loural. O CPqD foi encarregado pelo Ministério das Comunicações, juntamente com o Instituto Genius, de preparar um estudo sobre a viabilidade da proposta de Miro Teixeira. Conforme Loural, houve uma interpretação equivocada das declarações do ministro. "Na verdade, o que ele quis dizer é que devemos analisar a possibilidade de desenvolvermos tecnologias nacionais específicas, que possam ser agregadas ao sistema de TV digital. A manifestação foi, antes de tudo, um estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico do País", afirma.
Loural esclarece que o sistema é formado por vários padrões, que estão relacionados à transmissão, áudio, vídeo e interatividade. A idéia central do ministro, que vem sendo trabalhada pelo CPqD, é analisar quais tecnologias são mais adequadas ao Brasil e sobre quais elementos específicos o País pode trabalhar, de modo a não tornar-se dependente deles. "Os softwares de integração, por exemplo, podem ser perfeitamente desenvolvidos por nós", assegura. O técnico do CPqD garante, ainda, que não há disposição de se criar um sistema fechado. "Ao contrário, a flexibilidade é uma das premissas do estudo, de modo a permitir ganhos econômicos e tecnológicos para o País", acrescenta.
Loural lembra que mesmo nas nações que saíram na frente, a implantação da TV digital está em fase embrionária. Alguns aspectos técnicos, econômicos e de conteúdo ainda estão sendo discutidos. A proposta feita por Miro Teixeira, considera o especialista do CPqD, vai ajudar a amadurecer a reflexão sobre qual é a melhor escolha para o Brasil. "É importante deixar claro que a decisão sobre o sistema de TV digital é uma decisão de governo. Isso envolve não só a questão da renovação do parque industrial brasileiro, mas também aspectos de consumo. É por isso que precisamos aprofundar o debate, pois a escolha vai ficar conosco por 20, 30 anos", alerta.
Tanta discussão não é para menos. Estima-se que o mercado da TV digital vá movimentar algo como US$ 100 bilhões nos primeiros dez anos de operação no Brasil. Os investimentos iniciais alcançariam R$ 3,4 bilhões. É justamente por envolver cifras tão elevadas que os professores da Unicamp consideram que a implantação da TV digital no Brasil deve estar atrelada à criação de grandes mercados exportadores.
Uma das possibilidades mais relevantes da TV digital é a transmissão de imagens de alta definição. Ou seja, o usuário pode assistir em sua casa filmes com a mesma qualidade dos exibidos pelo cinema. Há, ainda, outras aplicações, como a interatividade e a multiplicidade de canais. No Brasil, uma pesquisa realizada pelo CPqD revelou que os telespectadores consideram muito importante uma imagem de alta definição. A constatação está em sintonia com o enorme crescimento nas vendas de equipamentos de DVD no Brasil e em todo o mundo, confirmando que o consumidor aprecia a alta qualidade da TV.