Cascas do fruto poderiam ser
aproveitadas por centros comunitários de beneficiamento
Biomassa de babaçu é alternativa energética
CLAYTON LEVY
As 985 mil toneladas de cascas do coco babaçu obtidas anualmente com o aproveitamento industrial de castanhas, no Norte e no Nordeste, poderiam gerar o equivalente a 104 mW por ano, o que corresponde a 5% da matriz energética nacional. É o que revelou uma tese de doutorado defendida recentemente na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. Incluindo as cascas que as quebradeiras de coco jogam no mato, a biomassa de babaçu chega a 2,9 milhões de toneladas por ano, o suficiente para produzir 260 mW de energia em sistema de co-geração.
"O estudo demonstrou que a biomassa de babaçu é uma alternativa energética altamente viável", diz o autor da tese, Marcos Alexandre Teixeira. Segundo ele, o aproveitamento da casca do coco como fonte energética poderia ser adotado principalmente em centros comunitários de beneficiamento da castanha do próprio babaçu. O fruto ocorre naturalmente em toda a Amazônia Legal além de nos Estados do Piauí e Maranhão. Todos os dias, as catadeiras de coco deixam nas matas de 5 a 7 quilos de casca.
Segundo Teixeira, a tecnologia para geração de energia a partir do babaçu é a mesma usada em relação à biomassa de cana-de-açúcar. "São necessários apenas alguns ajustes nas caldeiras", explica. Além disso, segundo o pesquisador, o babaçu apresenta como vantagem adicional uma densidade 2,5 vezes maior e um teor de umidade menor, de 15% a 17%, enquanto o teor de umidade do bagaço de cana fica em torno de 50%.
Isso significa que as cascas de babaçu armazenadas em um metro cúbico produzem 2,5 vezes mais energia do que o bagaço de cana e queimam melhor porque estão mais secas. "Outra vantagem é que o babaçu ocorre em abundância em áreas onde normalmente a cana não vai bem", diz Teixeira. Segundo ele, trata-se de um sistema de geração de energia ecologicamente correto em locais onde a cana não é uma boa opção.
Na tese, orientada pelo professor Luiz Fernando Milanez, o pesquisador fez um cálculo custo/benefício, concluindo que a melhor alternativa seria produzir vapor de alta pressão a 4,56 Mpa (Mega Pascal) a 420 graus centígrados. Mega Pascal é uma unidade de pressão de fluidos, que pode ser genericamente traduzida por força sobre a área. O vapor de alta pressão alimentaria as turbinas para gerar energia elétrica.
De acordo com Teixeira, a energia gerada poderia ser usada na própria cadeia produtiva do babaçu, alimentando máquinas de centrais de beneficiamento, onde se extrai o óleo das castanhas. "Ainda teríamos um vapor de média pressão, que poderia ser usado no aquecimento da pasta de babaçu, para separar o óleo, usado na indústria, e a torta, fornecida como ração animal".