A Física é uma ciência que vem da natureza
e não de livros e
enciclopédias. Principalmente se levarmos em consideração
o avanço desta ciência nos últimos cem anos.
Hoje em dia não se consegue imaginar uma pessoa que não
possua um transístor em algum equipamento de uso pessoal,
por exemplo. Conclusão: a física faz parte do
cotidiano das pessoas. Para se ter uma idéia, há
bem pouco tempo 40 anos mais ou menos o laser
era até considerado como o raio da morte.
Havia todo um mistério em torno deste misterioso
raio de luz. Atualmente a sua utilização
em diversos segmentos da sociedade não só é
encarada como natural, mas como fundamental. São conceitos
práticos que constituem o desenvolvimento do mundo tecnológico,
dos transístores aos computadores, passando pelas fibras
ópticas, lasers e lâmpadas fluorescentes. Esta
é a abrangência da física moderna.
Colocada
desta forma, fica mais fácil entender uma disciplina
que assombra boa parte de adolescentes que freqüentam o
ensino médio. Para ensinar física é
preciso realizar experimentos e ter clareza nos dados,
defende o coordenador de graduação do Instituto
de Física Gleb Wataghin, Leandro Tessler. O aluno tem
que ter contato com as teorias e conceitos e não apenas
memorizar os gráficos, prossegue. Somente se confunde
a teoria quando não se entende o que está ocorrendo
de fato.
Justamente
dentro desta proposta foi que Tessler e outros três pesquisadores
do IFGW Marcelo Knobel, Roberto Martins e Peter Schulz
se uniram em um ousado projeto para trazer o professor
de ensino médio para dentro da Universidade. No
nosso instituto ensinamos física e realizamos pesquisas
em laboratórios. Portanto aqui está o que há
de mais atual na Física, declara.
O
projeto, Oficina de Física Moderna, já em sua
segunda edição, vem se constituindo um espaço
para a reciclagem de professores de todo país. Nossa
preocupação é apresentar opções
para que o professor ensine uma ciência mais próxima
do aluno. Neste sentido, os encontros procuram levar o
docente a se sentir como o aluno em sala de aula. Trata-se
de um grande passo para estimular o ensino.
Para
esclarecer melhor, Tessler utilizou em sua última palestra
(e já se preparam para outros encontros ainda este semestre)
demonstrações ao vivo de fenômenos quânticos.
Ele conseguiu medir ao vivo a Constante de Planck a base
da teoria quântica utilizando um espectômetro
simples e uma lâmpada especial. De acordo com o pesquisador,
são materiais simples e de fácil acesso para escolas
e que têm um valor visual enorme. Ele também examinou
qualitativamente o espectro do corpo negro (corpo que não
reflete radiação, mas emite a mesma quantidade
de energia que recebe) em função da temperatura.
O resultado foi a demonstração gráfica
dos problemas que intrigavam os Físicos do fim do século
XIX. Também foi possível observar porque a lâmpada
de neônio é a mais utilizada em letreiros luminosos
e back lights, além do funcionamento das lâmpadas
fluorescentes comuns. O princípio de funcionamento da
tela de televisão também utiliza conceitos quânticos.
Fazer demonstrações aguça a curiosidade
do aluno, explica. Além disso, esclarece, a ciência
é essencialmente experimental.
Os
primeiros encontros No início, de acordo com
o professor Marcelo Knobel, do IFGW e um dos organizadores da
Oficina, pensou-se em criar um espaço para reciclagem
de professores na região de Campinas. A idéia
foi proposta pelo professor Carlos Henrique de Brito Cruz, Diretor
do Instituto e surgiu a primeira edição do evento,
em dezembro de 2000 (centenário de aniversário
da Constante de Planck). Na época aproveitaram-se as
comemorações do centenário da física
quântica. O evento acabou alcançando proporções
tão grandes que na segunda edição contou
com equipes do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Não
pudemos aceitar pelo menos 50 inscrições por causa
do espaço físico. A classe reuniu 120 profissionais,
explica.
A
Oficina também é importante na medida em que grande
parte dos professores de física do ensino médio,
não são físicos. Muitas vezes ensinam
Física licenciados em química, engenharia ou outras
áreas. Neste último evento teve até
uma inscrição de uma pessoa formada em Direito
e que ensina Física. Isto faz com que o professor não
domine aspectos além dos que são descritos nos
livros didáticos. Hoje, não só o conteúdo
deve ser diferente, mas também a linguagem.
Knobel
lembra que é a primeira iniciativa do Instituto de Física
para aproximar a sociedade desta ciência. Estamos
buscando o caminho para maior interação com a
comunidade, diz.
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