Esporte mais praticado no mundo e mais popular no Brasil, jogado
por mais de 200 milhões de pessoas em quase 200 países,
o futebol, também chamado de o esporte das multidões,
é tema central do livro Footballmania. Uma história
social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938) (Nova Fronteira
Editora), do historiador Leonardo Affonso de Miranda Pereira,
que acaba de ser contemplado com o Prêmio Jabuti, categoria
Ciências Humanas. O Prêmio vai ser entregue nesta
sexta-feira, dia 19, na Bienal do Livro, no Riocentro.
O livro é resultado da tese de doutorado, defendida por
Leonardo junto ao Departamento de História do IFCH da
Unicamp, em 1998.
Toda
a formação acadêmica de Leonardo - da graduação
ao doutorado - foi feita na Unicamp. Depois de estar ligado
ao Cecult (Centro de Pesquisa em História Social da Cultura),
como coordenador de Projetos, Leonardo continua vinculado ligado
à Unidade onde desenvolve pesquisas sobre história.
O
termo futebol vem do inglês, foot-ball (foot, pé;
ball, bola). Os primeiros jogos oficiais foram disputados na
Inglaterra, no século XIX. No entanto, nas primeiras
décadas do século XX habitantes do Rio de Janeiro
assistiam a um novo fenômeno: a footballmania, termo cunhado
pelo sociólogo Fernando de Azevedo, em 1915, para descrever
a popularização dessa modalidade esportiva, segundo
Leonardo.
Leonardo
passou quatro anos pesquisando o futebol, tendo como principal
fonte documentação da polícia, relatórios
e correspondências guardadas no Arquivo Nacional e jornais
da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Além
disso, trabalhei com as atas e correspondências dos clubes
Bangu, Fluminense, Flamengo, Botafogo e Carioca. O que eu queria
era entender como e porque em 30 anos o Brasil tornou-se o país
do futebol que, como se sabe, surgiu na Inglaterra, diz
o pesquisador.
Já
na década de 10, verifica-se que o futebol estourou como
esporte nacional, praticado de modo intenso por todas as classes
sociais em diversas regiões da cidade do Rio. Mais tarde,
nos anos 30, já era um esporte praticado por jovens que
se reuniam nos clubes da zona sul do Rio. O jogo de bola passava
a ser amplamente realizado e assistido por grandes platéias
- que faziam dele um elemento importante de suas próprias
experiências. Procurei analisar o sentido do processo,
que fez com que o futebol perdesse sua marca aristocrática
para transformar-se, em poucas décadas, em um grande
símbolo nacional, diz o autor. E foi exatamente
nos anos 30 que o esporte passou a incorporar em seus quadros
atletas negros como Domingos da Guia e Leônidas da Silva.
Quando essa incorporação ganhou notoriedade, alguns
jornalistas abordaram o fenômeno, entre eles Mário
Filho, morto na década de 50, que escreveu O Negro no
Futebol Brasileiro. Mário Filho tenta mostrar que a incorporação
dos negros no esporte teria configurado um jeito muito particular
de jogar, que misturava a disciplina européia dos brancos
com a ginga e a malandragem dos negros brasileiros na
constituição de um modelo verdadeiramente brasileiro
de lidar com a bola, ressalta Leonardo. Todavia, o pesquisador
contesta alguns aspectos do livro de Mário Filho. Um
deles, por exemplo, é a idéia de que na década
de 30 portanto duas décadas antes os negros
já estavam agregados ao futebol brasileiro, jogando em
clubes de subúrbios e de bairros.
Com
isso, o futebol passa a ser considerado um esporte nacional,
modalidade na qual os brasileiros seriam não mais os
aprendizes, como antes, mas os grandes mestres, acentua Leonardo.
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