|
|
|
FE
recebe acervo de Tragtenberg
A
Faculdade de Educação da Unicamp teve três
motivos
relevantes para organizar o evento Biblioteca e Memória
nos dias 12 e 13 de novembro. Mais que uma oportunidade de discutir
biblioteca, profissionais de diversas áreas da universidade
encontraram no evento, realizado no Salão Nobre da Faculdade,
um espaço para comemorar a aquisição do
acervo bibliográfico particular do professor Maurício
Tragtenberg, professor da Unicamp falecido em 17 de novembro
de 1998; a aquisição das três primeiras
documentações de práticas escolares para
seu centro de memória, em fase de implantação;
e a construção de um novo prédio para a
atual biblioteca.
Em
uma solenidade realizada no evento, a professora Olga Von Simson,
diretora associada do Centro de Memória da Unicamp (CMU),
oficializou a transferência de três documentações
à diretora da Faculdade de Educação Águeda
Bittencourt. O primeiro deles, revela o processo de educação
no início do século passado por meio da história
de dois professores, revelando material cotidiano de atividades
realizadas por eles com alunos. O segundo refere-se à
história da vida profissional de duas irmãs de
Americana, na época bairro de Campinas, na primeira metade
do século 20. O terceiroé a doação
da professora Laura Monteiro do acervo de seu marido jornalista
no qual ele relata vivências profissionais, além
de um material didático produzido pela Revista de Ensino,
do Rio Grande do Sul usado por ela durante o período
em que lecionou em Campinas.
O
material comprado da família de Tragtenberg se instalará
entre as coleções especiais da Biblioteca da Faculdade
de Educacão. Trata-se de uma biblioteca formada a punho
próprio, com obras de variados níveis de interesse
e conhecimento adquiridas. em grande parte, em sebos. Com ela,
vem a história do professor Tragtenberg, relembrada por
ex-companheiros de trabalho, pela mulher e por um grande amigo
e pesquisador do acervo, o professor e escritor João
Bernardo. É uma aquisição muito boa.
O acervo reúne desde os clássicos até os
considerados marginais. Minha preocupação é
saber como alunos e professores vão tratar esse material,
alerta Bernardo.
Conta
o amigo que a prática literária de Tragtenberg
foi estimulada por Florestan Fernandes, quando, na função
de garçom no Café Pingüim da São Paulo
dos anos 1930, apresentou ao então faxineiro Maurício
uma obra de Max Weber. A partir daí, o professor tornou-se
autodidata e deu uma atenção especial aos livros,
principalmente às obras sobre fascismo. João Bernardo
é testemunha de que o intelectual teve de prescindir
de muitas coisas para chegar à universidade. Como tinha
pouco dinheiro e queria ter uma diversidade de temas, optava
por fazer suas compras em sebos. Uma vez ele ficou muito
contrariado, pois queria comprar um livro no sebo, mas precisava
comprar um par de calças. Optou pelas calças e,
ao voltar à loja, o livro havia sido vendido, revela
Bernardo.
Segundo
a viúva Beatriz Tragtenberg, o intelectual tinha
uma boa estante de livros, apesar de ser extremamente pobre
e não ter dinheiro. Em 1957, quando se conheceram,
Beatriz questionou a respeito dos desejos que tinha na vida.
A que ele respondeu: Uma biblioteca e uma filha.
A filha, Lucila Tragtenberg tornou-se cantora lírica,
e a biblioteca, vem estimular a pesquisa universitária.
Segundo a diretora da faculdade, Águeda Bittencourt,
o material irá receber todo o tratamento necessário
antes de ser exposto. A família, segundo Beatriz Tragtenberg,
irá acompanhar também esta parte da história.
A família vai vigiar.
------------------------------------
|
|