Durante todo o dia 17 de agosto, cerca de 7 mil estudantes estiveram no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp, percorrendo os 58 estandes montados por 38 empresas interessadas em recrutar jovens talentos para programas de estágio e processos para trainee. As empresas vêm diretamente à fonte, atrás de graduandos e pós-graduandos de um centro de excelência em ensino, pesquisa e inovação. A Talento é a feira anual organizada pelo Núcleo das Empresas Juniores da Unicamp, que atingiu a 7ª edição com o objetivo oferecer aos estudantes informações sobre áreas de atuação das empresas, perfil dos profissionais que desejam, condições de trabalho, processos de seleção para estágios e trainee, e também a chance de entregar seus currículos. A Talento já se tornou o principal evento de recrutamento da região de Campinas, atraindo também a alunos de outras universidades, que constituem 25% de seu público. A excelente organização foi corroborada por empresas e visitantes, com mais de 90% dos freqüentadores considerando a feira ótima e boa.
Logo depois da cerimônia de abertura, o reitor José Tadeu Jorge justificou o apoio que o evento tem recebido da Universidade. “A Talento se insere nas atividades que qualificam a formação dos nossos estudantes de graduação, pois desperta neles o espírito empreendedor, necessário tanto para quem vai trabalhar em uma empresa ou instituição como para quem pretende se tornar empresário. Ao mesmo tempo, a Talento mostra às empresas a qualidade e pertinência da formação que os estudantes da Unicamp recebem. O evento permite colocar nossos alunos em posições estratégicas, geradoras de emprego, renda e qualidade de vida para a sociedade”, afirma.
A IBM marca presença na Talento há muitos anos. Elcio Szwif, gerente de recursos humanos em Hortolândia, informava que aquela unidade oferecia 50 das 250 vagas para estágio no país. “Esta feira é uma fonte de cabeças, de capital intelectual. Além disso, mantemos várias parcerias com a Unicamp e estamos sediados na região”, justificou. Segundo Szwif, os estagiários seriam locados em áreas como as administrativas e financeiras, mas principalmente na informática, e que cerca de 40% dos selecionados acabam efetivados.
O gerente da IBM mostrou-se impressionado com o nível das questões apresentadas pelos estudantes e a preocupação com o futuro, interessados na qualidade de vida e em saber para onde caminha a empresa e quais são suas estratégias nesse sentido. “São alunos que revelam uma visão mais ampla, não se preocupam apenas com o valor da bolsa. Chama a atenção, também, a atração que a Unicamp exerce, pois tem gente de várias outras instituições da região”, observa. Elcio Szwif acrescenta que a IBM não procura um candidato com experiência, mas com vontade de aprender, crescer e inovar. “A universidade fornece a base teórica e até prática, enquanto a empresa possibilita outras formas de desenvolvimento”.
Os alunos Elvis da Silva Guimarães, aluno de 1º ano da Engenharia de Alimentos, veio interessado em conhecer empresas da área e saber o que elas esperam profissionais e como vêem a formação na Unicamp. “As empresas estão interessadas em recrutamento, abordando mais profundamente os estágios e o processo trainee, o que atende aos interesses de estudantes de outras universidades. Esperava que elas se mostrassem mais. Quero saber o que elas fazem, os projetos que desenvolvem e podem me ajudar na formação de engenheiro. Não vim aqui só pelo emprego”, critica.
Aluno do 1º ano de Engenharia de Alimentos e, ao mesmo tempo, do 2º ano de mestrado em Física, Luís Fernando Haruna esteve na feira para conhecer a área empresarial. “Na Física estou mais restrito à área acadêmica e resolvi cursar engenharia para ter possibilidade de atuar também na área técnica, estudando disciplinas bem diferentes”, afirma. Ele está gostando do novo curso, mas queria saber mais sobre o trabalho na indústria de alimentos. “Deu para ter uma visão geral. Constatar o que um profissional faz na empresa, só experimentando. As palestras ajudam nisso tudo, embora a ênfase esteja no processo de seleção”.
Samareh Shams é de Mogi Guaçu e está prestes a concluir o curso de Relações Internacionais na Facamp. Como quer trabalhar, considera a Talento um bom lugar para se informar sobre oportunidades profissionais e conhecer mais empresas. Sua colega de curso, Érica Amusquivar, faz simultaneamente Ciências Sociais na Unicamp e vai pegar os dois diplomas. “A feira é importante porque percebemos o que as empresas esperam dos candidatos. Também contatei empresas que me eram desconhecidas, sendo que várias delas mantêm áreas especificas de relações internacionais”.
Desconhecidas De fato, certas empresas não aparecem para o grande publico devido à natureza de seus produtos. É o caso da Harald, a quarta colocada no segmento de fornecedores de ingredientes para indústrias de alimentos, que está há 25 anos no mercado. Norberto Francisco Servo, gerente de recursos humanos, enfatiza que a Harald tem por meta investir em capital humano, visto que os equipamentos já estão disponíveis para compra. “Além do aprimoramento profissional que realizamos internamente, entendemos que devemos buscar talentos capazes de somar no trabalho que realizamos. Nada melhor do que esse contato com jovens de graduação, mestrado e doutorado”, observa. Ele informa que nesse primeiro momento a empresa oferece estágios e processo trainee nas áreas de engenharia de alimentos e química, mas depois abrirá vagas em engenharia mecânica, mecatrônica, engenharia elétrica, administração e finanças.
Martha Delphino Bambini, supervisora da área de recursos humanos e manutenção da Embrapa Informática Agropecuária, com sede no campus da Unicamp, explica que a participação na feira visa justamente a divulgação da empresa publica. “Na Talento do ano passado constatamos que a empresa é pouco conhecida no meio universitário. Mas também queremos recrutar estagiários para as duas unidades na região, a nossa e a Embrapa Meio Ambiente. Eles vão atuar em áreas distintas como informática, administração, publicidade e meio ambiente. A Unicamp é extremamente conceituada e com ela mantemos parcerias e vários graus de cooperação. Pretendemos manter a tradição de contratar seus alunos como estagiários”.
Fazer carreira A gerente de recursos humanos da UOL, Mara Wallis, apontava um diferencial nos alunos que freqüentam a feira. “Eles não estão aqui gratuitamente, buscam uma oportunidade de emprego, mas se preocupam em decidir sobre a melhor empresa. Perguntam sobre a empresa e o que ela oferece, como é o estagio, se existe preocupação em contribuir para o desenvolvimento profissional de quem inicia a carreira e não em recrutar mão-de-obra barata. O aluno da Unicamp é muito diferente do que encontramos em muitas feiras por aí: ele quer uma carreira, não um emprego”.
A Johnson & Johnson, com sede em São José dos Campos, participava pela primeira vez da Talento. A decisão da empresa em trabalhar com universidades é recente e a levou a selecionar seis ou sete instituições para divulgar o seu campo de atuação em grande parte desconhecido e recrutar novos cérebros. Darcy Pedro Piva Filho, gerente de manufatura, diz que a feira foi a estratégia para atingir os alunos da Unicamp. “É uma universidade de ponta, que forma os profissionais de altíssimo nível que queremos atrair para a empresa”, resume. Segundo Piva, a multinacional pretende recrutar entre 40 e 50 trainee por ano, que serão locados nas áreas de produtos de consumo e farmacêuticos.
No estande da Danone, uma surpresa: as informações eram passadas com grande propriedade e desenvoltura por Débora Siqueira de Paula, estagiária na empresa desde dezembro e aluna do 5º ano da Engenharia de Alimentos da Unicamp. Ela chegou à empresa visitando a Talento do ano passado e ressalta um detalhe que considera importante. “A Danone busca o perfil e não o curso. Não exige formação especifica em determinadas áreas, a não ser naquelas essencialmente técnicas. O ‘DNA’ Danone, como chamamos, busca excelência na execução, liderança, motivação, entusiasmo e abertura”.