É difícil imaginar o ensino da gramática sem ter que decorar aquelas regrinhas tradicionais de preposições, sujeitos, classe gramatical e por aí afora. Mas, com os novos parâmetros curriculares em vigor, a idéia é inovar. A partir desta realidade, a lingüista Ana Silvia Moço Aparicio foi a campo conhecer as experiências dos professores que reconfiguraram, em sala de aula, o ensino da gramática. Em sua tese de doutorado “A produção da inovação em aulas de gramática do ensino fundamental II da escola pública paulista” apresentada no Instituto de Estudos da Linguagem e orientada pela professora Inês Signorini, Ana Silvia constatou que existem professores da rede pública empenhados em mudar a concepção do ensino da gramática para além da memorização de conteúdos.
A proposta, no entanto, ainda encontra barreiras para ser implantada. Segundo a lingüista, que carrega a experiência acumulada de 20 anos no magistério e formação de professores, os parâmetros curriculares apenas propõem o que deve ser feito, mas não aborda o como fazer. No estudo, realizado na Diretoria de Ensino de Birigui, nas escolas de Penápolis, a pesquisadora constatou que os professores estão levando para sala de aula textos e exemplos produzidos pela lingüística. Se por um lado, a proposta vai ao encontro dos parâmetros, por outro, explica Ana Silvia, a dúvida é se os estudantes estão absorvendo esse conteúdo. “Falta profissionais que façam essa mediação entre o que é produzido pelos lingüístas e a realidade do aluno. Isto significa que o conteúdo está distante do contexto do aluno. Não que esteja errado o processo, mas ainda falta estabelecer essa ponte”.
Um exemplo pode ser observado com relação à preposição “de”. Nas aulas, o professor não apresenta apenas a regra tradicional, mas também disponibiliza as variações da regra para que os alunos pensem e discutam a gramática e não apenas decore a regra. Ana Silvia esclarece que a sua proposta em apresentar as experiências desenvolvidas não entra no mérito avaliativo. Pretende fornecer elementos para avaliações das contribuições vindas dos lingüistas. “Não questiono o certo ou o errado. Na verdade, a intenção é dar visibilidade da produção destes professores que estão tentando implantar os parâmetros”, explica. O trabalho faz parte de um projeto temático, coordenado pela professora Inês e financiado pela Fapesp, sobre o impacto das novas orientações nas práticas de sala de aula.
As aulas dos professores voluntários, num total de sete, foram gravadas em áudio e depois feita a análise. Para isso, a pesquisadora partiu de um conceito de inovação, preconizado por sua orientadora, que significa deslocamento ou reconfiguração dos modos rotineiros de raciocinar, agir e avaliar em questões de ensino de língua. Ela lembra que o próprio termo inovação remete a abandonar o tradicional e substituir pelo novo. O conceito voltado para o ensino da gramática, no entanto, considera uma simples mudança, por exemplo. Ana Silvia considera ainda que o perfil dos professores voluntários já corresponde a uma mudança de mentalidade. Eram formados nos últimos dez anos com experiência mínima de um ano. Todos continuam a freqüentar cursos de capacitação e não preparam as aulas com base em apenas um livro, mas realizam vários materiais a partir de uma seleção.