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Estudos apontam biocerâmica como
boa alternativa para enxertos ósseos

MANUEL ALVES FILHO

Os professores José Ângelo Camilli e Celso Aparecido Bertran com Rosane Vieira da Silva: necessidade de estudos complementares até os testes em humanos. (Foto: Antoninho Perri)Estudo desenvolvido em conjunto por pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) e Instituto de Química (IQ) da Unicamp constatou a eficácia de cerâmica porosa, constituída por fosfato de cálcio, como alternativa aos enxertos ósseos autógenos. Os ensaios realizados in vitro e in vivo demonstraram que o material é biocompatível e permite a reconstrução óssea em padrões semelhantes aos obtidos por meio do procedimento convencional. “Os resultados são importantes, mas ainda vamos depender de estudos complementares até chegarmos aos testes em humanos”, afirma o professor José Ângelo Camilli, do IB, um dos coordenadores da pesquisa.

Processo gera espuma rígida que pode ser usada no reparo de fraturas

A cerâmica de fosfato de cálcio em questão começou a ser desenvolvida durante um projeto de iniciação científica orientado pelo professor Celso Aparecido Bertran, do IQ. De acordo com ele, esse tipo de material é largamente conhecido pela ciência. Sua aplicação é bastante comum por parte de dentistas, que o utilizam para preenchimento de defeitos ósseos e também para o revestimento de próteses. “A diferença da biocerâmica que produzimos vem do modo como ela é sintetizada e processada para dar origem a corpos cerâmicos porosos. No processo que utilizamos o material plástico obtido na síntese se autotransforma numa espuma rígida, que pode ser empregada no reparo de falhas ósseas”, explica.

Nos ensaios in vivo, que contaram com a participação de Rosane Vieira da Silva, autora de uma tese de doutorado sobre o tema, os pesquisadores lançaram mão de testes em ratos. Inicialmente, os cientistas produziram três falhas nas calotas cranianas dos animais. Uma das falhas recebeu o enxerto autógeno, ou seja, foi preenchida com um pedaço de osso cedido pelo próprio indivíduo. A segunda recebeu a biocerâmica e a terceira não foi alvo de qualquer tratamento. “O que nós pudemos observar foi que o reparo das falhas ocorreu tanto naquelas que tiveram o enxerto autógeno quanto nas que receberam o implante da cerâmica de fosfato de cálcio. Já nas falhas que não receberam qualquer tratamento, a recomposição foi bem menor”, afirma o professor Camilli.

Nos testes in vitro, os pesquisadores do IB e IQ verificaram que os osteoblastos, que são as células responsáveis pela formação de osso, apresentaram boa interação com a cerâmica, com maior preferência pelas superfícies mais irregulares do material. Tais resultados, conforme os cientistas, abrem perspectiva para que a biocerâmica venha a ser usada no futuro como uma opção aos enxertos autógenos. Uma das vantagens dessa substituição seria a dispensa de uma cirurgia adicional, visto que no procedimento convencional é preciso retirar uma fração óssea do esqueleto do paciente para obtenção do enxerto. “Além disso, o volume de osso autógeno obtido nem sempre é suficiente para preencher toda a falha”, adverte o professor Camilli.

Mas até que a cerâmica de fosfato de cálcio seja testada em humanos, lembra o professor Bertran, será preciso empreender novos estudos em torno dela. Embora o material seja biocompatível e favoreça o reparo ósseo, ainda resta saber se ele, quando osseointegrado, oferecerá resistência mecânica adequada à área de enxertia. “Também temos que compreender melhor como se dá a integração do biomaterial com o tecido ósseo, uma vez que esse processo envolve uma série de reações. Em outras palavras, precisamos saber quais fatores governam essa adesão e de que forma a diferenciação celular caminha na direção esperada”, esclarece o docente do IQ.

Laserterapia – Ainda dentro da mesma linha de pesquisa, os pesquisadores testaram os efeitos do laser de baixa energia e com emissão na região espectral do vermelho, no reparo de falha óssea tratada com enxerto autógeno. O objetivo era saber se a laserterapia poderia acelerar a incorporação do enxerto ao local de enxertia. De acordo com Rosane Vieira da Silva, a resposta a essa pergunta foi positiva. “De fato, o laser de baixa energia favorece o processo, pois ele contribui para aumentar a microvascularização da área receptora do enxerto, além de estimular a síntese de colágeno. Ademais, ele também interfere positivamente na proliferação e diferenciação celular”, afirma.

De acordo com a pesquisadora, os resultados da laserterapia foram melhores nas duas primeiras semanas de ensaios, que é justamente o período em que a atividade celular é mais intensa. Os pesquisadores destacaram que esses estudos não seriam possíveis se não houvesse a cooperação entre diferentes áreas do conhecimento, no caso a biologia e a química. “As abordagens multidisciplinares são uma exigência cada vez mais freqüente nas atividades científicas”, dizem, quase em uníssono, os professores Camilli e Bertran. De acordo com eles, a linha de pesquisa gerou ou está gerando perto de uma dezena de teses de doutorado e dissertações de mestrado.

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