Levantamento
feito para fundamentar
doutorado abrangeu 110 unidades em 3 estados
MARIA
ALICE DA CRUZ
A
Pesquisa desenvolvida para a tese
de doutorado “Análise do desempenho do ensino fundamental
de escolas cicladas e não-cicladas (sistema de séries)”,
da educadora Ivanete Bellucci Pires de Almeida, mostra
que o sistema de ciclos ensina tanto quanto o de séries.
A autora analisou 110 unidades escolares públicas de Campinas
(SP), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ), a partir
de dados de proficiência média em leitura e matemática,
trabalho pedagógico do professor e nível socioeconômico
das escolas avaliadas contidos do Projeto Geres 2005.
A utilização do modelo matemático Análise por Envoltória
de Dados (DEA) permitiu o cruzamento de dados de aplicações
de testes de leitura e matemática em 12.678 alunos do
ensino fundamental dos três polos – 10.201 de escolas
cicladas e 2.477 de não-cicladas. A pesquisa envolveu
também 416 professores.
A
tese, orientada pelo docente Luiz Carlos Freitas, da Faculdade
de Educação da Unicamp, mostra que o desempenho do aluno
é altamente influenciado por três características dos
professores avaliados: a participação ativa do educador
na concepção do projeto pedagógico da escola; a manutenção
do professor na escola por mais de três anos; e a experiência
de mais de três anos do professor em uma determinada série.
“Observamos que entre as que se apresentaram eficientes,
o professor é participante e entende que seu trabalho
deve fazer diferença na escola”, acrescenta Ivanete. Ela
acredita que quanto mais tempo o professor passar em uma
determinada série, maior será a oportunidade de se aprimorar
e isso reflete no desempenho das crianças. “É como acontece
em qualquer área”, explica.
Para
Ivanete, os resultados da pesquisa têm contribuição significativa
na avaliação de desempenho das escolas públicas ao unir
técnicas multivariadas de dados e selecionar as variáveis
mais significativas para a aplicação da metodologia DEA.
Essa metodologia, segundo ela, tem sido justificada pelas
várias possibilidades de análise de dados que a apresenta.
“Tanto a facilidade de uso como a de elaboração de cenários
podem ser consideradas alguns dos motivos que fizeram
com que a técnica fosse cada vez mais aplicada em diferentes
áreas do conhecimento”, explica.
O
modelo DEA, segundo ela, facilitou a identificação de
escolas eficientes e não eficientes ao mesmo tempo em
que permitiu trabalhar com múltiplos recursos e possibilitou
melhores resultados para o estudo entre as cicladas e
não-cicladas. “Ressaltamos que esses resultados não podem
extrapolar além do conjunto de escolas pesquisadas”.
Resultados
Para chegar aos resultados de desempenho, Ivanete realizou
três tomadas. A primeira, realizada em março de 2005,
fase considerada como diagnóstica com aplicação das provas,
foi realizada para conhecer as condições das crianças
que iniciavam no sistema escolar. A segunda tomada, realizada
em novembro de 2005, revelou o processo de aprendizagem
que foi desenvolvido em cada escola durante o ano. Em
novembro de 2006, aconteceu a avaliação dos resultados
obtidos no período pesquisado.
Uma das razões dos avanços,
na opinião de Ivanete, foi o incentivo à leitura. “Verifica-se
salto qualitativo em relação à leitura. Isso mostra que
a escola fez diferença para aluno. É uma mostra de eficiência”,
explica.
Para Ivanete, a iniciativa de realizar a prova diagnóstica
na implantação dos ciclos foi importante para a avaliação
dos resultados e para a comparação dos dois sistemas.
“É importante saber como essas crianças e como as escolas
de adaptaram ao ciclo. A prova diagnóstica traçou um perfil
das crianças iniciantes, pois muitas delas nunca tinham
freqüentado escola”, explica.
Dados podem
ser usados em pesquisa qualitativa
“As escolas eficientes
precisam ser analisadas por especialistas em qualidade
de ensino”, disse Ivanete. A pesquisadora salientou
a necessidade de investigar profundamente os elementos
que conduzem essas unidades à eficiência para que
sejam aplicados em outras escolas.
A eficiência das escolas
independe do nível socieconômico médio, segundo Ivanete.
“Algumas escolas consideradas eficientes estão em
lugares periféricos de seus municípios. O que pode
dizer é que é possível na periferia, com condições
adversas, fazer trabalho significativo com os alunos,
desenvolver um trabalho que faça diferença na vida
do aluno”, enfatiza.
Quanto à estrutura,
as escolas também se igualam nos Estados pesquisados.
“Observamos que a escola pública é muito parecida
no que diz respeito à estrutura física: tem os professores,
um coordenador pedagógico, um diretor, um vice-diretor
e os alunos em média com a mesma idade. Não existe
marca que indique superação entre uma ou outra”, acentua.