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Campinas, junho de 2001 - ANO XV - N. 163.........
     
   
 

Loira infernal
A profética trajetório de Albino Souza Cruz,
o fabricante de cigarros, e suas musas fatais

RAQUEL SANTOS

“Eu quero a loura infernal”. Assim se pedia Yolanda, um dos cigarros de maior popularidade do início do século passado, à venda naqueles botequins. A “loura infernal” era a musa inspiradora de Albino Souza Cruz. Pouco se sabe sobre a artista e modelo Yolanda D’Alencar, mas as fotos mostram muito, pois ela chegou a posar nua para o rótulo do cigarro. Várias outras musas ajudaram o empresário a tornar seu produto um fenômeno da indústria brasileira: Dalila, Rosita, Primavera, Sudan e Marly, nomes estampados para atrair principalmente os homens, embora com a segunda intenção de facilitar o acesso também às mulheres, então pouco interessadas na prática de fumar.

A idéia de utilizar mulheres para vender produtos, portanto, vem de longe. Souza Cruz foi pioneiro em outras técnicas de marketing, como a de colocar dentro dos maços vales depois trocados por prêmios. Com essas e outras, o português, que nunca experimentou a droga, iniciou um império que hoje movimenta milhões de dólares ao ano, graças, somente no Brasil, a mais de 30 milhões de dependentes.

A primeira fábrica de cigarros do País foi fundada em 1903 e hoje é subsidiária da inglesa British American Tabacco. Albino Souza Cruz escolhia pessoalmente os nomes das musas. Yolanda tornou-se a mais famosa e permaneceu no mercado por três décadas, tempo de sucesso extraordinário para uma marca. Muitas alterações foram feitas no rótulo ao longo dos anos. A mulher nua que segurava um tridente acabou substituída por uma que só mostrava o rosto e cujos cabelos não eram mais pretos e sim louros. Mas a intimidade dos fumantes com Yolanda só aumentava.

Bilhete da sorte – Ano de 1885, Largo do Rossio, Lisboa. Um garoto de 15 anos, com o irmão caçula a tiracolo, troca uma moeda por um bilhetinho da sorte que pega no bico de um canário: “És inclinado a passar águas do mar. Terás de lutar muito pela vida e por fim serás feliz”, dizia o papelote.

No dia 15 de novembro do mesmo ano, a primeira parte da predição se concretizou. Albino Souza Cruz saiu de Santa Eulália da Palmeira, um lugarejo do interior de Portugal, cruzando o Atlântico na terceira classe do navio. Cheio de sonhos, aportou no Rio de Janeiro e, já no segundo dia em terras brasileiras, começou a cumprir a outra parte da profecia. Portando uma recomendação, dirigiu-se à Fábrica de Fumos Veado. Trabalhou duro por 18 anos na empresa, sendo recompensado por um sólido conhecimento no ramo e algumas economias.

Com 33 anos de idade, instalou-se num pequeno prédio do centro do Rio e começou a produzir cigarros enrolados em papel, uma novidade que em pouco tempo se espalhou pela sociedade. Da produção artesanal, passou à industrial. Em 1962, dono da maior indústria de fumos da América Latina e maior contribuinte de impostos no Brasil, Souza Cruz retirou-se da presidência. Faleceu em 1966, aos 97 anos, sem nunca ter provado um cigarro. Talvez sem remorsos, apesar dos malefícios à saúde provocados pelo produto que o enriqueceu. É que os primeiros trabalhos científicos sobre as conseqüências da atração pela loura fatal, surgiram apenas em meados da década de 60.

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A face nada lúdica da história do cigarro

Uma pessoa que fuma 20 cigarros por dia, dá um total de 200 tragadas, pelo menos. Isto significa que o fumante recebe 73 mil impactos cerebrais de nicotina por ano, além de estar inalando entre 2.000 e 2.500 substâncias tóxicas diferentes. Daí, a forte dependência. É mais fácil um usuário largar as drogas do que um fumante abandonar o cigarro.

“O tabaco é o único agente que, não sendo bactéria ou vírus, possui caráter pandêmico pelos malefícios que causa à saúde mundial”, afirmou o presidente do Comitê Coordenador do Controle do Tabagismo no Brasil, professor José Rosemberg, em palestra no Hospital das Clínicas da Unicamp, em abril último.

As estatísticas mostram que, a cada 4 dependentes, pelo menos um morre prematuramente entre os 34 e 69 anos de idade. Rosemberg explica que atualmente morrem no mundo, por doenças tabaco-relacionadas, 4 milhões de fumantes por ano. Se os padrões de consumo não se reverterem, no ano 2030 morrerão 10 milhões de tabagistas, sendo sete milhões nos países em desenvolvimento. “Será a maior causa de mortalidade no mundo, à frente da Aids, trânsito, violência e tuberculose”, alerta.
Os números mais recentes, referentes ao período de 1990 a 1999, apontam 21 milhões de óbitos por doenças tabaco-relacionadas. No Brasil a estimativa é de 80 mil mortes por ano ocasionadas pela droga. Dentre as 50 doenças que mais atingem os fumantes, o tabagismo é responsável por 90% dos casos de câncer do pulmão, 80% da bronquite crônica e enfisema e 33% dos infartos do coração. Na faixa dos 45 a 55 anos, o tabaco concorre com 50% dos infartos fulminantes.

Fumantes passivos – Na opinião de José Rosemberg, trata-se de um problema cultural que poderá ser atenuado em parte com a adoção de programas educacionais e uma legislação específica proibindo o fumo em lugares públicos. Metade da humanidade está exposta direta ou indiretamente à ação nociva do tabaco. Os fumantes passivos – aqueles que não fumam, mas convivem com usuários em um mesmo ambiente – também entram nas estatísticas. Estima-se que no Brasil existam perto de 15 milhões de fumantes passivos, segundo o cálculo de que cada dependente convive com dois não-fumantes. Quem traga ingere 60% das substâncias tóxicas, deixando no ar os outros 40%. “Embora em menor proporção que o viciado, é grande a chance de o passivo apresentar doenças tabaco-relacionadas”, afirma o professor.

A ação da nicotina – Após a tragada, a nicotina chega aos pulmões, onde é absorvida pelos vasos sangüíneos; em sete segundos, chega ao cérebro. A estimulação das células nervosas causam a sensação de bem-estar. Em pouco tempo, o cérebro acostuma-se a funcionar com a nicotina, fazendo com que o fumante tenha de ingeri-la cada vez mais.
Ana Maria Arruda Rosemberg, do Programa do Controle do Tabagismo em São Paulo e esposa do professor Rosemberg, destaca que para as mulheres os prejuízos são ainda maiores: alterações como a menopausa precoce, rugas, risco de problemas cardio-circulatórios (quando utilizado juntamente com anticoncepcionais) tornam-se freqüentes. As gestantes podem ter bebês com baixo peso, elevam o risco de abortos e de complicações pós-parto.

 

 
 
 

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