LUIZ
SUGIMOTO
Lesões
por Esforços Repetitivos (LER), Lesões por
Traumas Cumulativos (LTC), Distúrbios Músculoligamentares
Relacionados ao Trabalho (DMRT), Distúrbios Ósteomusculares
Relacionados ao Trabalho (DORT). A doença, que
ganhou várias e complicadas nomenclaturas durante
as duas últimas décadas, quando se tornou
um
dos maiores problemas de saúde ocupacional no mundo,
afeta músculos, tendões, sinóvias,
nervos e ligamentos, com ou sem degeneração
dos tecidos, principalmente dos membros superiores, ombros
e pescoço. Causas mais freqüentes: atividades
repetitivas ou esforço exagerado sobre esses grupos
musculares, ou ainda a postura inadequada. Alguns patrões
e mesmo colegas de serviço, ignorantes quanto ao
assunto, ainda a chamam de LERdeza, atribuindo-a
a uma suposta preguiça do trabalhador, já
que as lesões não são aparentes.
É
um termo pejorativo cada vez menos usado, mas ainda em
voga dentro de empresas mal estruturadas, que visam apenas
ao lucro e não pensam na importância da capacidade
intelectual e da saúde física de seus funcionários,
afirma o médico Luiz Fernando Macatti, coordenador
de saúde ocupacional do Ciesp (Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo). Ele concedeu palestra
sobre o tema na 1ª Semana de Saúde Ocupacional,
evento oferecido em maio pela Unicamp ao seu quadro de
servidores.
O
fato é que a DORT definição
tida como a mais correta a partir de 1997 tornou-se
uma questão bastante séria. Os estudos aprofundados
acerca da doença começaram em 1980 na Austrália,
país onde o serviço de seguridade quase
quebrou e se viu obrigado a alterar a normatização
relacionada a licenças e indenizações,
frente ao processo de evolução muito grande
das lesões. Nos Estados Unidos, que possuem estatísticas
confiáveis, são acometidos de 3,2 a 3,5
trabalhadores em 100. O tempo médio de afastamento
é de 25 dias. O American Journal aponta que os
norte-americanos gastaram, em 97, US$ 418 bilhões
em custos diretos com a DORT. O montante alcança
US$ 837 bilhões com os custos indiretos e a cifra
impressionante de US$ 1,2 trilhão se somados os
tratamentos, reclamações trabalhistas, perda
de produção, dias parados e perda de capacidade
produtiva dos empregados.
Em
1995/96, as atividades de escritório respondiam
por 65% dos ocorrências e, as industriais, por 35%.
Mas as coisas estão mudando. Houve uma forte
diminuição no número de trabalhadores
na indústria e, quem ficou, está trabalhando
e se expondo mais. Em pouco tempo teremos o equilíbrio
em 50% entre as linhas de escritório e de produção.
A quantidade de processos trabalhistas nas indústrias
já atingiu o mesmo nível, observa
Macatti.
Mal
antigo O médico lembra que, em princípio,
as LER/DORT não são uma doença, e
sim lesões que ocasionalmente adquirem a conformação
de uma doença. Não advêm necessariamente
das atividades de trabalho. A maioria dos casos é
totalmente curável e apenas uma minoria progride
para a incapacitação. Também não
são uma novidade, pois tem-se conhecimento delas
desde 1950. O termo tenossinovite ocupacional é
apenas uma constatação contemporânea
de um fenômeno mais antigo. O número de pessoas
que utilizavam máquinas de escrever era pequeno
no passado e, por conseguinte, as reclamações.
Comparativamente, podemos afirmar que 95% das pessoas
hoje mexem com computador, quando há duas décadas
somente 20% estavam digitando, ilustra Macatti.
Um
terço das ocorrências se deve ao trabalho
e um terço a fatores extra-profissionais. Os fatores
causais do outro terço são de difícil
identificação, podendo estar relacionados
com problemas hormonais e alterações psicológicas.
É possível imaginar a dificuldade
para esta identificação com o fato de que
antes pensávamos apenas em hormônios femininos
e hoje sabemos que os homens têm andropausa e, portanto,
dificuldades hormonais, que podem influenciar à
DORT, compara o especialista.
Luiz
Macatti ressalta um outro equívoco, cometido inclusive
por médicos mal informados, que vêm LER/DORT
apenas como dor. Nas fases iniciais a característica
básica é a fadiga nos membros, um peso e
um dolorimento. A pessoa sente dificuldade de se acomodar
para dormir, uma sensação estranha, um incômodo
no membro superior. As dores só aparecem em fase
mais adiantada, adverte o médico. Ele acrescenta
que nos níveis 1 e 2 a DORT regride na maioria
dos casos, com o uso de antiinflamatórios e analgésicos,
repouso e exercícios fisioterápicos.
Nos níveis 3 a 4 a situação complica,
caminhando-se para a incapacitação física.
Não há chance de reverter o quadro,
a não ser que surjam mecanismos novos. Com o envolvimento
da genética, por exemplo, talvez possamos curar
um paciente no nível três, evitando que alcance
o nível quatro e se torne incapaz para sempre,
confia o médico.
Afastamento
Macatti garante que médicos, fisioterapeutas
e psicólogicos já possuem informações
suficientes para diagnosticar o paciente com LER/DORT
e afirmar com certeza se seu quadro é reversível
ou não. São freqüentes, contudo, as
denúncias contra o INSS (Instituto Nacional de
Seguridade Social) de que o órgão estaria
determinando o retorno ao trabalho de funcionários
lesionados e com dor, aparentemente para diminuir custos
do governo com esses afastamentos.
Há
dois anos tivemos 300 ou 400 casos desse tipo somente
em Campinas, recorda o médico. Mas
creio que aquela determinação foi uma tendência
momentânea e deixou de existir. A questão
é que o médico do INSS não parece
ter as mesmas condições que seus colegas
de fora. O processo para afastamento é bastante
dificultado, porque ele precisa ter a certeza da ocorrência
de DORT. E esta certeza não se obtém apenas
com diagnóstico e exames médicos; é
preciso ir às empresas para avaliar as condições
de trabalho no local, procedimento que raramente um médico
do INSS pode tomar, conclui.
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