Se
oriente rapaz Pela
constelação Cruzeiro do Sul ... como sabiamente canta Gilberto
Gil ROMILDO
PÓVOA FARIA rientar-se
significa descobrir onde está o oriente, o nascente. Ou seja, orientar-se
significa descobrir onde está a direção do leste, que é
a direção do oriente. Sabendo-se qual é o leste, na direção
oposta estará o oeste, o poente, o ocidente. Um observador, esticando seus
braços, um para o leste e o outro para o oeste, terá à sua
frente a direção norte e, às suas costas, a direção
do sul. O leste é a direção onde nasce o Sol e onde surgem,
com o decorrer das horas, outros astros. Posteriormente, eles vão ficando
mais altos no céu, até começarem de novo a se aproximar do
horizonte e se esconderem no oeste. Para encontrar estas direções
é necessário portanto observar onde nascem ou se põem os
astros e, a partir disso, encontrar as direções norte e sul. Mas
também é possível orientar-se usando a constelação
do Cruzeiro do Sul, visível no céu, atualmente, desde as primeiras
horas da noite. As constelações são agrupamentos de estrelas,
nos quais imaginam-se as mais diversas figuras, como animais, objetos e heróis
lendários. Presente
na bandeira do Brasil e de outros países, no emblema do Exército
brasileiro e de time de futebol, as estrelas que formam o Cruzeiro do Sul já
haviam sido descritas por Cláudio Ptolomeu, no século II d.C., em
seu livro Almagesto. Entretanto, para ele aquelas estrelas faziam
parte de outra constelação, o Centauro. Somente em abril de
1500 este grupo de estrelas foi descrito como Cruz do Sul, em carta
que Mestre João (astrônomo, físico, médico e engenheiro
da esquadra de Cabral) enviou ao rei de Portugal, D. Manuel. A partir do início
do século XVII, com a publicação do livro Uranometria,
do astrônomo e médico J. Bayer, o nome se universalizou. Em nosso
século, com a divisão oficial do céu em 88 constelações,
o Cruzeiro do Sul permaneceu, com o nome oficial latino: Crux. Estrelas
girando Esta constelação se carateriza principalmente
por quatro estrelas que representam o madeiro maior (Estrela de Magalhães
e Rubídea) e o madeiro menor (Mimosa e Pálida) de uma cruz. Além
destas, há a famosa Intrometida, estrela de brilho mais fraco, que recebe
este apelido no Brasil por atrapalhar o desenho da cruz. Se
observarmos estas (e outras) estrelas, registrando suas trajetórias pelo
céu durante várias horas, iremos perceber que elas parecem girar
em torno de um ponto do céu, chamado de pólo celeste sul. É
possível fazer o registro deste movimento colocando uma máquina
fotográfica apontada fixamente para a direção do sul, abrangendo
uma região de até 60 graus acima do horizonte. Passadas algumas
horas, a mudança de posição das estrelas será registrada
num filme fotográfico sensível. Revelando-se
o filme, pode-se ver que todas as estrelas descrevem trajetórias circulares,
como mostra a foto de capa desta edição do Jornal da Unicamp. O
centro comum é o pólo celeste sul, que fica situado na direção
da constelação do Oitante, formada por estrelas de fraco brilho.
Quem está em algum local do hemisfério norte da Terra registrará
algo semelhante, só que na direção do norte. Para eles as
estrelas parecem girar em torno de outro ponto: o pólo celeste norte, situado
na constelação da Ursa Menor, não visível aqui de
Campinas. O que
são os pólos celestes? São os pontos do céu
(ou do espaço) para onde está dirigido o eixo imaginário
de rotação da Terra. Nosso planeta completa este movimento a cada
24 horas siderais (equivalente a 23 horas e 56 minutos do tempo marcado pelos
nossos relógios). Ao sermos arrastados com a Terra em seu movimento de
rotação, de oeste para leste, temos a impressão de que são
todos os astros que se movem; de que é toda a paisagem celeste que se desloca
no sentido contrário, do leste para o oeste. E, nas direções
sul e norte, as estrelas parecem descrever este movimento em torno dos pólos
celestes. Uma
maneira prática de saber onde está o pólo celeste sul é
observar a constelação do Cruzeiro do Sul. Se prolongarmos o imaginário
madeiro maior da cruz, quatro vezes e meia o seu tamanho aparente (ângulo
entre as duas estrelas), encontraremos a posição do pólo
celeste sul. Isto em qualquer posição em que está a constelação.
Quando ela está mais próxima ao horizonte leste, a cruz parece
deitada, com o pé (a Estrela de Magalhães)
para a direita. O contrário ocorre quando ela se apresenta mais próxima
do oeste, quando o pé aparece apontando para a esquerda. Já
em outros horários, quando a cruz está mais alta no céu,
a cruz parece em pé, com seu madeiro maior apontando para o
horizonte sul. Mais exatamente, quando o Cruzeiro do Sul está no ponto
mais alto do céu, o braço maior da cruz está apontando para
o ponto cardeal sul, no horizonte. A
partir deste encontramos, na direção oposta, o ponto cardeal norte.
E, a 90 graus destes dois, no horizonte, localizam-se os pontos cardeais leste
e oeste. Assim, através do Cruzeiro do Sul podemos nos orientar, como
diz a música de Gil.
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