Como
visualizar o Cruzeiro do Sul
Parece
complicado localizar o Cruzeiro do Sul, já que
há muitas falsas cruzes no céu,
que podemos formar com várias outras quatro estrelas.
Mas na realidade é fácil, pois somente o
Cruzeiro do Sul tem, em sua proximidade, duas estrelas
de forte brilho: Alfa Centauri e Beta Centauri.
Estas
estrelas são conhecidas aqui no Brasil como guardas
ou guardiãs da cruz, pois como que
apontam para o Cruzeiro do Sul, facilitando sua localização
no céu. Elas fazem parte da constelação
do Centauro (oficialmente Centaurus), que representa um
ser cuja metade superior era o tronco, os braços
e a cabeça de um homem, e sua metade inferior,
o corpo e as pernas de um cavalo.
Centauro é formada pelas estrelas que estão
em volta do Cruzeiro do Sul, exceto aquelas ao sul da
cruz, que compõem a constelação de
Mosca. A mais brilhante estrela é Alfa Centauri
(ou Alfa do Centauro). É a estrela mais próxima
da Terra, com exceção do Sol. Enquanto o
último está a aproximadamente 150 milhões
de quilômetros de nosso planeta, Alfa Centauri fica
a quarenta trilhões de quilômetros de nós.
Mesmo
com as melhores espaçonaves atualmente disponíveis,
demoraríamos cerca de cem mil anos para chegar
perto de Alfa Centauri. A luz desta estrela demora 4 anos
e 4 meses (4,3 anos) para alcançar a Terra. Por
isso se diz que ela está a 4,3 anos-luz de distância.
Um ano-luz é a distância que a luz se desloca,
no vácuo, em um ano. É uma unidade que equivale,
arredondando, a 10 trilhões de quilômetros.
Beta Centauri está mais longe ainda, a 490 anos-luz,
ou seja, praticamente a 4 quatrilhões e 900 trilhões
de quilômetros de distância. Com aquela imaginária
espaçonave, demoraríamos pouco mais de 11
milhões de anos para chegar até ela!
Apesar de observarmos Alfa e Beta Centauri aparentemente
próximas, elas estão na realidade muito
distantes entre si e de nós. As estrelas do Cruzeiro
do Sul também se encontram a diferentes distâncias
entre si e da Terra. A figura que vemos no céu,
a cruz, é apenas a visão que temos ao olharmos
para estrelas que estão praticamente na mesma direção
do espaço, vistas daqui. Se estivéssemos
em outro lugar do Universo, a figura seria outra.
Como
estão muito distantes, quando olhamos para as estrelas,
vemos na verdade a luz que delas saiu muitos anos atrás.
Estamos, portanto, vendo o seu passado. Se Alfa Centauri,
por exemplo, explodir no momento em que lê esse
texto, você só verá a explosão
no céu daqui a quatro anos e quatro meses.
-------------------------------------------------------------------------------------
Alfa
Centauri, a estrela
Existe
outro fato interessante sobre Alfa Centauri. Ela não
é uma estrela simples. Na realidade, é uma
estrela tripla. Ou seja, onde a olho nu vemos apenas um
ponto luminoso, existem na realidade três estrelas
próximas entre si, formando um sistema triplo de
estrelas. Cada uma gira em torno de um centro comum de
gravidade, demorando anos para voltar à mesma posição.
A
olho nu seus brilhos se confundem por estarem angularmente
muito próximas. Somente com possantes binóculos
ou telescópios (ainda que de pequeno porte) podemos
perceber que há mais de uma estrela naquele ponto
luminoso do céu.
Além das triplas, existem estrelas duplas, quádruplas,
quíntuplas e assim por diante. Há também
verdadeiros aglomerados estelares, contendo centenas,
milhares ou até milhões de estrelas relativamente
próximas umas da outras e interagindo gravitacionalmente.
Na
constelação do Cruzeiro do Sul encontramos
um desses aglomerados, conhecido como Caixinha de
Jóias (Kappa Crucis), por ser formado por
estrelas de várias cores. Está a 7.700 anos-luz
da Terra e possui cerca de 218 estrelas.
Outro aglomerado, visível a olho nu como se fosse
uma manchinha nebulosa na constelação do
Centauro, é o Ômega Centauri. Em foto feita
através de um potente telescópio, vemos
um conjunto esferoidal de estrelas. Por isso, este tipo
de aglomerado é conhecido com aglomerado globular.
Ômega Centauri é constituído por aproximadamente
5 milhões de estrelas e se encontra a 16.000 anos-luz
de distância.
-------------------------------------------------------------------------------------
A
constelação que anuncia o outono
No
último dia 20 de março iniciou-se a estação
do outono para o hemisfério terrestre sul, onde
nos encontramos. Nas normalmente agradáveis noites
de outono, pode ser vista, logo ao anoitecer, outra importante
constelação: Leo, o Leão.
A
constelação zodiacal de Leão caracteriza-se
principalmente por cinco estrelas. Regulus, que simboliza
o coração do animal, é uma das vinte
estrelas mais brilhantes do céu. É branco-azulada,
situada a 68 anos-luz de distância. Seu diâmetro
equivale a 3,5 vezes ao do Sol e, sua luminosidade, é
130 vezes maior.
Regulus
é uma das quatro estrelas que os antigos persas
tinham como referência para dividir o céu
de acordo com o ciclo das estações (as outras
eram Aldebaran, da constelação de Touro;
Antares, da constelação de Escorpião;
e Fomalhaut, da constelação do Peixe Austral).
Quatro mil anos atrás, o Sol estava na direção
de Regulus (e portanto na direção da constelação
de Leão) no dia de início do verão.
Outras estrelas da constelação do Leão
são: Denébola, aquela que marca a cauda
do Leão, é também branco-azulada
e está a 42 anos-luz da Terra; Algeiba, a juba
do Leão, é um sistema duplo de estrelas
(uma alaranjada e outra amarela) situado a 130 anos-luz;
Zosma, o dorso, fica 70 anos-luz e tem coloração
branca.
Esta
constelação representa o Leão de
Neméia. Segundo a mitologia greco-romana, Neméia
era uma pequena aldeia da antiga Grécia, onde teria
caído este Leão, proveniente da Lua. Além
de força descomunal, ele possuía uma pele
impenetrável e ninguém conseguia feri-lo
mesmo atirando-lhe lanças ou flechas. Por isso
mesmo convocaram seu principal herói, Hércules
(Héracles, para os gregos). O herói foi
até Neméia, entrou em luta corporal com
o Leão e conseguiu matá-lo por estrangulamento.
A estrelas quepescaram a Terra
A
partir de 21 de junho, quando se iniciará
o inverno, outra bela constelação
predominará no céu de nossa
região: a de Escorpião, cujo
nome latino (oficial) é Scorpius. Ela
se caracteriza por ser uma das poucas que
se parece com a figura que tenta representar,
principalmente sua cauda.
Entretanto, para indígenas neozelandeses,
este grupo de estrelas representava o Anzol
que o chefe de seus deuses, Mauí, utilizou
para retirar a Nova Zelândia do fundo
do oceano. É assim que, em suas lendas,
eles explicam como surgiu a terra onde vivem.
Para
gregos e romanos da antigüidade, a constelação
representava um escorpião, com a brilhante
estrela de cor avermelhada Antares simbolizando
o coração do aracnídeo,
e as duas estrelas brilhantes de sua extremidade
(Shaula e Lessath), o ferrão venenoso.
Antares, que está a 365 anos-luz da
Terra, é uma estrela supergigante,
125 milhões de vezes mais volumosa
que o Sol. Não muito distante de Antares
e da constelação de Escorpião
pode-se observar o planeta Marte. Visto a
olho nu, ele parece uma brilhante estrela
avermelhada no céu da madrugada.
---------------------------------------------------------------------
Vênus e os
Discos
voadores
O
astro que mais chamará a atenção
durante a madrugada do outono/inverno (além
da periódica presença da Lua)
será o planeta Vênus, que reaparecerá
imponente na alvorada, como Estrela
DAlva. Nas épocas em que
este planeta torna-se visível, são
comuns os relatos sobre aparição
de discos voadores. Isto se deve
ao intenso brilho do astro e aos efeitos que
a atmosfera nele produz (mudanças de
coloração, brilho e posição).
E, é claro, ao desconhecimento que
a maioria das pessoas tem a respeito, o que
permite a exploração malandra
do tema.
Além
de Estrela DAlva e Estrela Vespertina,
este planeta recebe outros nomes populares:
Estrela Guia, Estrela do Pastor e Boieira,
dentre outras. A denominação
Vênus provém da mitologia romana.
Era a deusa do amor e da beleza. Os gregos
o chamavam de Afrodite e, os babilônicos,
de Ishtar.
Os planetas brilham por refletir a luz do
Sol em direção à Terra.
Como eles giram em torno do Sol, há
uma variação de sua distância
em relação ao nosso planeta.
Por isso seus brilhos diferem com o decorrer
do tempo.
No
caso de Vênus, seu brilho muda também
porque apresenta fases semelhantes às
da Lua. É o planeta com maior capacidade
de refletir a luz do Sol e aquele que mais
se aproxima da Terra (cerca de 39 milhões
de quilômetros) em certas ocasiões.
Em decorrência, seu brilho é
sempre intenso, superior ao da mais brilhante
estrela do céu, Sírius.
Além de Vênus e de Marte, muitas
outras estrelas e constelações
enfeitarão o outono e inverno, época
em que temos mais noites de céu aberto,
sem nuvens.
|
Romildo
Póvoa Faria, da Pró-Reitoria de
Extensão e Assuntos Comunitários
da Unicamp, é coordenador do Planetário
de Campinas e autor, entre outros, dos livros
Fundamentos de Astronomia (Papirus) e Visão
para o Universo (Ática). |
|
|
|