No
coração do povo
Pesquisador
vascaíno mostra como o torcedor
se apaixona por seu time de futebol
ROBERTO
COSTA
s
relações do torcedor de futebol com seu
clube extrapolam parâmetros. O atual presidente
do Vasco da Gama do Rio de Janeiro, Eurico Miranda
odiado por 10 entre 11 torcidas do Brasil , embora
não seja unanimidade, é querido pela maioria
dos vascaínos. A partir do Eurico o Vasco
voltou a ser respeitado, temido e, em conseqüência,
mais odiado. Os outros clubes estão pagando pelo
que fizeram. Foram eles, com a inestimável ajuda
dos desonestos meios de comunicação, que
geraram o Eurico, diz Henrique (nome fictício),
56 anos, aposentado, torcedor de São Januário.
Esta
declaração de amor é uma dentre tantas
colhidas por Sílvio Ricardo da Silva, também
vascaíno, para a tese de doutorado que defendeu
na Faculdade de Educação Física (FEF)
da Unicamp, em março último.
Paixão
ou ódio de torcedor independem de dirigentes. A
escolha de um time é motivada por vínculos
familiares, amizades, residência próxima
ao clube, identificação com sua origem,
sucessos e insucessos. Torcer é expressão
pública dos sentimentos, resume Sílvio,
relembrando uma frase de Geertz.
O
pesquisador destaca ainda que a relação
intensa do torcedor com o clube faz com que ele não
separe a identidade sujeito/torcedor. Esta identidade
é construída através de bons e maus
momentos com a equipe. Ser vascaína é
quase uma herança genética, afirma
Cândida, 40 anos, que mora em Teófilo Otoni.
Tenho a impressão de que está ali,
sob o olhar de um microscópio, grudado no meu DNA.
Sílvio
passou os três últimos anos entre Campinas
(onde estudou) e o Rio, levantando dados para medir a
paixão dos vascaínos. Ele relata uma cena
que presenciou na sede do clube, durante seu trabalho
de campo. Era um pai passando ao filho, de 18 anos,
o título de sócio proprietário. Havia
naquele senhor uma emoção digna de cerimônias
de rito de passagem.
Geraldo,
que esteve em Tóquio na decisão do Mundial
Interclubes com o Real Madrid, quando foi convidado para
jantar por Eurico Miranda, garante: Em dias de festa,
toco o hino do Vasco de 20 em 20 minutos.
Existem
torcedores que se matam para estar presentes em uma grande
conquista. O próprio Sílvio presenciou uma
batalha campal ao tentar comprar ingressos para a final
contra o Corinthians, pelo Mundial Interclubes, no começo
do ano passado, quando o Vasco foi derrotado nos pênaltis
em pleno Maracanã. Tudo para depois dizer:
Eu estava lá e ajudei o time. E a partida
seria transmitida pela televisão ao vivo,
observa.
Metodologia
Neto de portugueses, Sílvio morou boa parte
de sua infância a 500 metros do Maracanã.
Daí a torcer pelo Vasco, clube fundado por comerciantes
portugueses em 1898, originalmente para competições
de remo, foi questão de tempo. Professor da Universidade
Federal de Viçosa há 10 anos, Sílvio
tentou ser goleiro (fez testes, sem sucesso, no Vasco,
Fluminense, Botafogo e Portuguesa) antes de optar pela
academia. Mas não relutou em ter o Vasco como objeto
de pesquisa em seu doutorado na Unicamp. Pretendia conhecer
os estudos do lazer e para isso contou com a ajuda do
professor Nelson Carvalho Marcelino, da FEF, e de outro
professor da Faculdade, Jocimar Daolio, um especialista
em estudos culturais. Para desenvolver a tese Tua imensa
torcida é bem feliz - Da relação
do torcedor com o clube, o autor entrevistou 12 deles,
líderes de torcida, profissionais liberais, um
árbitro de futebol e jovens que iniciavam a paixão
pelo clube.
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CONTATO:
Sílvio Ricardo da Silva (UFV)
Fone: (31) 3899-2258 - e-mal: silvio@homenet.com.br
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