Um teatro no horizonte
Raquel do Carmo Santos
Mais do que a construção de um teatro-laboratório para os alunos de artes cênicas e corporais, o momento representa a concretização das artes como objeto real de pesquisa na Universidade”. Com essas palavras, a professora Helena Jank, diretora do Instituto de Artes (IA), iniciou a solenidade de entrega do prêmio do Concurso Público Nacional de Idéias para o Teatro-Laboratório da Unicamp, no último dia 24. A diretora do IA não escondeu sua satisfação em observar que a proposta da construção do novo teatro foi acatada e discutida no ambiente acadêmico, nos últimos meses, com o mesmo respeito com que são tratados outros projetos da Universidade. “Penso que é um marco de extrema importância para a arte na Unicamp”, declara.
O concurso foi realizado em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e premiou uma equipe de jovens arquitetos de São Paulo como o melhor conjunto de idéias para a construção. O grupo é composto por Fernando Viegas, Fernanda Barbara, Fábio Valentim, Cristiane Muniz e Clóvis Cunha. Em segundo lugar, assinou a planta a arquiteta Lílian de Almeida Dalpian e em terceiro, Paulo Batorene. Foram ainda destacadas cinco menções honrosas de profissionais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Os melhores trabalhos foram conhecidos somente durante a solenidade, pois todos os projetos foram julgados, por meio de numeração predeterminada, sem que se soubessem os autores. O primeiro lugar recebeu o prêmio de R$ 20 mil, ficando o segundo com o valor de R$ 15 mil e R$ 10 mil para o terceiro.
No total, foram selecionados 83 projetos das 160 inscrições recebidas de todas as regiões do País. O coordenador do concurso público, Ronald Tanimoto, do IAB, disse estar surpreso com o nível técnico dos trabalhos. “Tivemos dificuldades em escolher a melhor idéia.” Ele esclareceu que a comissão julgadora optou por oferecer cinco menções honrosas para não deixar de premiar projetos que mereceram destaque pela qualidade. Tanimoto explicou ainda que este tipo de premiação dá oportunidade a arquitetos recém-formados de competir com profissionais mais tradicionais no mercado. Embora, por questões éticas, não tenham sido divulgados os nomes dos concorrentes, Tanimoto garantiu que os 15 melhores arquitetos brasileiros participaram da seleção.
Projeto premiado De acordo com Fernando Viegas, a proposta para a construção é conferir unidade entre os prédios já existentes com as dependências dos departamentos de artes cênicas e corporais e o edifício teatral. Pelo projeto escolhido, a entrada principal passa a ser a Rua Bertrand Russel, onde se inicia uma grande construção que abrigaria, em um andar superior, as salas para atividades circenses, de dança e outras. “Seria um ambiente que atenderia as disciplinas com necessidades especiais”, diz. Estas salas foram projetadas com pé direito de 10 metros de altura. Uma varanda no andar inferior dá acesso a uma praça de eventos e a um estacionamento para 80 veículos.
Já o prédio do teatro seria construído em uma posição central e interligado por pequenas pontes com as construções que hoje abrigam o Instituto de Artes (que envolve os departamentos de Música e Artes Plásticas) com as novas dependências das artes cênicas e corporais.
Com um pé direito de 21 metros de altura, é possível incorporar ao novo espaço do laboratório várias configurações como o conhecido palco italiano, o elizabetano, o de arena e o total. “As formas das construções lembram um espaço urbano”. Isto é justificado, segundo Viegas, porque uma das idéias é trazer um desenho urbano para dentro do campus.
Nas próximas semanas, o trabalho passa pela fase de aprimoramento para então dar início às obras. Os recursos para a construção, da ordem de R$ 3 milhões, são provenientes de verba extra-orçamentária e já estão reservados para este fim. Uma exposição com todos os premiados está aberta à comunidade universitária na Galeria de Arte do IA, das 9 às 17 horas, até o dia 28 de junho.
1º Prêmio
Autores: Arquitetos Clovis Cunha, Cristiane Muniz, Fabio Valentim, Fernanda Bárbara e Fernando F. Viegas.
Consultor: Arquiteto Gustavo Lanfranchi
Colaboradores: André Yamaguishi Ciampi, Carolina Nobre, Gustavo Pimentel e Marcio Wanderley.
2º Prêmio
Arquitetos Lilian de Almeida Dal Pian, Renato Dal Pian, Pablo Chakur, Carlos Henrique Nagano Engenheiro Enio Canavello Barbosa
3º Prêmio
Arquitetos Paula Bartorelli, Ana Carolina Penna, Laura Assaf, Fábio Dias Mendes e Rodrigo Sobreiro
Curta-metragem é premiado em festival
Maria Alice da Cruz
Quem sabe, curta-metragem em forma de desenho animado produzido pelo professor da Unicamp Wilson Lazaretti, conquistou o prêmio de melhor direção no 6º Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba. O nome tão familiar a muitos brasileiros é inspirado na mais conhecida modinha do compositor Carlos Gomes, interpretada por grandes nomes da música lírica, como Bidu Sayão, e da música popular brasileira, como Ná Ozetti, não por acaso escolhida para compor a trilha sonora do filme de Lazaretti, com um arranjo de autoria do músico e maestro Paulo Rolands, ex-aluno da Unicamp. Este é o terceiro vídeo lírico de Lazaretti.
O enredo tem como eixo o desejo do cidadão campineiro em reconstruir o Teatro Municipal, demolido em 1965 pelo então prefeito Ruy Novaes. Uma jovem vem do outro lado do mundo, mais precisamente do Japão, entoando a modinha Quem sabe, de Carlos Gomes, um dos homenageados de Lazaretti. Depois passa pelo Egito, Pólo Norte, Espanha, Amazônia até chegar a Campinas, onde depara com o teatro ao chão e começa a reconstruí-lo. Todas as imagens contêm ao fundo o desenho do teatro. Segundo Lazaretti, o uso da água nos desenhos representa um problema nunca solucionado: goteiras que comprometem a estrutura de um dos atuais teatros da cidade.
Na opinião do animador, Campinas é uma cidade culturalmente rica. Tem uma orquestra sinfônica, um centro de convivência, o Castro Mendes e tem um poderio econômico capaz de recuperar o teatro. Ele acredita “que não é abaixo-assinado que resolve os problemas, mas as pessoas têm de se recuperar da inércia”.
Wilson Lazaretti soma mais de 150 produções em sua filmografia. Em janeiro deste ano, conquistou o prêmio de melhor filme de animação com a obra Gota Borralheira, no Festival de Teresina. Ele foi um dos criadores do Nucleo de Cinema e Animação de Campinas há 27 anos. Hoje, o endereço do núcleo é a sua própria residência. O NCAC é responsável por grandes projetos de animação difundidos pelo Brasil. Com a boa vontade de professores e alunos, eles pisaram o Brasil todo levando informações a crianças de escolas públicas, da Amazônia e aos índios do Xingu. No Pantanal, ele permaneceu de 1984 a 1988. “Foi uma aventura que valeu a pena pela troca de experiências. Adquiri conhecimentos”, relembra.
Sua história com a animação teve início no Conservatório Carlos Gomes, quando foi convidado por Léa Zigiatti a ministrar aulas a crianças do curso de artes da escola. Durante o curso, ele construiu um projeto de cinema, confeccionando uma câmera com caixa de sapato. Foi neste momento que decidiu partir para o desenho animado. “Animação é uma representação gráfica do movimento, é uma filosofia”, expressa o animador. Ele garante ter procurado uma formação independente, influenciado por Bernardo Caro, seu professor de artes no ginásio e hoje companheiro no Instituto de Artes da Unicamp. “Tem escola de arte que ensina a partir de reprodução da Disney, da Hanna Barbera. É um ramo, mas não o mais importante. Tem de partir da raiz, do conhecimento que adquiriu”, reflete.