ampliação
do número de vagas nos cursos de graduação
das universidades públicas brasileiras, sem o comprometimento
da qualidade do ensino, constituiu o tema central de uma
mesa-redonda denominada Os Desafios do Ensino Público
Superior no Brasil, promovida no último dia
5 de abril pelo Fórum de Reflexão Universitária
da Unicamp. No evento, que esteve aberto à comunidade
e foi realizado no Centro
de Convenções da Universidade, os debatedores
sugeriram uma série de medidas para ampliar o acesso
à universidade pública. Para viabilizar
a expansão do número de vagas, foram discutidas
propostas como a diminuição da carga horária
de aulas expositivas, a eliminação de disciplinas
que repetem conteúdos, o aumento do número
de alunos em sala de aula e o apoio didático de
pós-graduandos. O objetivo da iniciativa foi envolver
a comunidade universitária nessas discussões,
consideradas urgentes pelo crescente número de
jovens que batem às portas das universidades.
Participaram
do encontro o ex-governador do Distrito Federal e ex-reitor
da Universidade de Brasília (UnB), Cristovam Buarque;
o vice-presidente da Comissão de Educação
da Assembléia Legislativa de São Paulo,
deputado estadual César Callegari (PSB); o presidente
da Academia Brasileira de Ciências e pesquisador
do Instituto do Coração, Moacyr Krieger;
e o professor da Faculdade de Ciências Médicas
e membro do Fórum de Reflexão Universitária
da Unicamp, Aníbal Vercesi.
O evento foi aberto pelo reitor da Unicamp, Hermano Tavares.
Na apresentação, o pró-reitor de
Pesquisa, Ivan Chambouleyron, falou da origem do Fórum
de Reflexão Universitária, criado por ele
há dois anos em função da necessidade
que sentiu de um espaço de discussão que
não estivesse influenciado por questões
não-acadêmicas. O Fórum é hoje
composto pelos professores Anibal Vercesi (FCM), Daniel
Joseph Hogan (IFCH), José Mario Martínez
(IMECC), José Roberto de França Arruda (FEM/PRP),
Oswaldo Luiz Alves (IQ), Paulo Arruda (IB) e Rodolfo Hoffmann
(IE), além do próprio professor Chambouleyron.
Por indicação do Fórum, o moderador
da mesa-redonda foi o pró-eeitor de Graduação
da Unicamp, Angelo Cortelazzo.
Os
debatedores foram unânimes em avaliar que o número
de vagas oferecidas pelos cursos de graduação
das universidades públicas brasileiras está
muito aquém da necessidade do País. Atualmente,
apenas 12% dos jovens entre 18 e 24 anos freqüentam
escolas de ensino superior no Brasil. Em São Paulo,
este percentual é de cerca de 15%, o que equivale
a um contingente de 740 mil alunos matriculados. Destes,
somente 121 mil (ou 16%) estudam em instituições
públicas federais, estaduais e municipais, sendo
que, destas últimas, a maioria é de universidades
pagas. As três universidades estaduais paulistas
contam com cerca de 80.000 alunos matriculados, o que
representa menos de 11% das matrículas.
Quadruplicar
as vagas A questão que se coloca é
como aumentar de maneira significativa o acesso à
escola pública sem que isso exija grandes investimentos
ou comprometa a qualidade do ensino. A resposta, conforme
os especialistas, está no esforço conjunto
da sociedade e na revisão do modelo pedagógico
atual. De acordo com o professor Vercesi, algumas mudanças
pedagógicas poderiam ajudar a quadruplicar o número
de estudantes de graduação em instituições
como a Unicamp. Ele destacou que muitos cursos estão
inchados de disciplinas desnecessárias, que repetem
conteúdos. No entender do Fórum de Reflexão
Universitária, é possível reduzir
o volume de horas/aula e ainda assim garantir um aprendizado
de qualidade.
Vercesi
se vale de uma experiência pessoal para explicar
como seria importante promover uma mudança estrutural
no atual modelo de ensino das universidades. Na
faculdade de medicina, eu tive oito aulas sobre contração
muscular, uma informação que quase não
é utilizada na prática. Em compensação,
nunca tive uma aula sobre como comunicar a um paciente
que ele é portador de uma doença incurável,
conta. O modelo de sistema educacional, lembra o professor
da FCM, prende muito o estudante em sala de aula. Temos
que dar mais tempo para que o aluno vá à
biblioteca e aprenda a aprender, explica. A conseqüência
natural dessa alteração, acrescenta o professor,
seria a sobra de tempo para que os docentes se dediquem
a um número maior de alunos sem comprometer seu
trabalho em pesquisa.
Ainda
segundo o membro do Fórum de Reflexão Universitária
da Unicamp, as turmas dos cursos de graduação
são muito pequenas. Para dar um exemplo dessa realidade,
Vercesi cita novamente uma experiência própria:
Às vezes, eu passo a tarde ensinando quatro
ou cinco alunos. O custo de um estudante, nesse caso,
é extremamente elevado, sustenta. A alternativa,
defende o docente, é trabalhar com turmas maiores,
em anfiteatros que comportem 200 estudantes ou mais, como
ocorre em universidades da Argentina e França.
Outra medida sugerida pelo professor compreende o aproveitamento
de alunos de pós-graduação como assistentes
de ensino. Eles auxiliariam nas atividades laboratoriais
e na solução de problemas e dúvidas
dos estudantes. Outra opção seria a adoção
de Ciclos Básicos de dois anos em grandes áreas
(Exatas, Biológicas e Tecnológicas), com
o fornecimento de diploma para os alunos que completassem
um mínimo de créditos.
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