..Cursos
de graduação de dois anos
que
a universidade pública fazia enquanto o ensino
privado se expandia rapidamente ao longo dos últimos
20 anos? A resposta a esta pergunta, segundo o presidente
da Academia Brasileira de Ciências, Moacyr Krieger,
é simples: Nós duplicávamos
a nossa produção científica.
Na década de 80, destaca o pesquisador, as instituições
públicas formavam uma média de 500 doutores
por ano. No ano passado, esse
número saltou para 5 mil. Nós nos
concentramos no que não tínhamos, que era
a instalação da capacidade científica.
Sob esse ponto de vista, a universidade pública
é um sucesso. Infelizmente, não podemos
dizer o mesmo sobre a graduação, avalia.
Krieger
afirma que a ampliação da oferta de vagas
no nível da graduação não
pode mais esperar. De acordo com ele, o esforço
anterior tem que render frutos agora. Tanto no que
se refere à democratização do acesso
às escolas de ensino superior público, quanto
na forma de desenvolvimento para a sociedade. Na
opinião do presidente da Academia Brasileira de
Ciências, a adoção de cursos de graduação
de dois anos, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos,
é factível e pode ser aplicada à
necessidade brasileira.
O
deputado estadual César Gallegari, que se apresentou
como um defensor do ensino público gratuito, reforçou
a necessidade de a sociedade trabalhar para que as universidades
abriguem um número maior de alunos de graduação.
Entretanto, o parlamentar ponderou que não é
mais possível que as instituições
públicas paulistas, que recebem aproximadamente
R$ 2 bilhões ao ano dos cofres do Estado, tenham
apoio incondicional. A defesa da universidade pública
deve estar necessariamente ligada à ampliação
do acesso da fatia mais carente da população
aos cursos de graduação, bem como do compromisso
de elevação da qualidade do ensino, da pesquisa
e da extensão, afirmou o deputado.
Segunda
abolição Aproveitando a linha
de raciocínio do deputado do PSB, o ex-governador
do Distrito Federal chegou inclusive a lançar uma
proposta de contrapartida à garantia da aprovação
de recursos para as universidades públicas. De
acordo com Buarque, poderia ser firmado um pacto em que
as instituições de ensino superior assumiriam
compromissos objetivos com a sociedade, tais como o desenvolvimento
de programas de erradicação do analfabetismo
ou de formação de determinados profissionais.
Buarque
surpreendeu a platéia que acompanhou a mesa-redonda
ao manifestar o seu entendimento de democratização
do acesso às universidades. De acordo com o educador,
democracia não é facilitar a entrada indiscriminada
de pessoas no ensino público superior. O ex-reitor
da UnB afirma que sempre haverá algum tipo de exame
de seleção e que apenas os melhores conseguirão
uma vaga. O importante é que os conhecimentos
gerados pelas universidades cheguem à sociedade,
sobretudo aos seus membros mais carentes. Médicos,
professores e pesquisadores de várias áreas
precisam estar comprometidos com programas de caráter
social. Isso é democracia, defende. Ainda
conforme Buarque, o Brasil necessita atualmente de deflagrar
uma segunda abolição. Temos que livrar
nossa gente da pobreza. E essa missão passa necessariamente
pela universidade, diz, em meio aos aplausos do
público.
No
fechamento do evento, o pró-reitor de Pesquisa
agradeceu a participação dos debatedores
e o apoio da Reitoria e lembrou que o debate foi apenas
um passo num processo que deve ter continuidade e resultar
em mudanças institucionais positivas num futuro
não muito distante. Chambouleyron informou que
as principais conclusões da mesa-redonda serão
divulgadas na forma de um livro e de um programa de televisão,
que deverá ser brevemente veiculado por meio do
Canal Universitário e de outras TVs universitárias
do país.
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A
mundialização do saber e outros desafios
Para
o ex-governador de Brasília, Cristovam Buarque,
o ensino superior no Brasil tem cinco desafios a enfrentar
ao longo dos próximos anos. O primeiro refere-se
ao que ele classificou de mundialização
do saber. Nas palavras do ex-reitor da UNB, temos
que perder a modéstia de pensar a universidade
brasileira como se fosse um problema unicamente nacional.
O saber é universal. O segundo desafio, conforme
Buarque, está em compreender e aceitar o fim do
monopólio da transmissão do conhecimento.
Atualmente, muitos jovens desenvolvem ciência
sem sequer freqüentar a universidade. Isso fica muito
claro na área da informática. Temos que
ter a modéstia de buscar esse conhecimento onde
ele estiver. Hoje, é possível aprender também
pela televisão ou pela Internet, lembra.
Também
é indispensável, conforme Buarque, que o
estudante mantenha vínculo com a universidade mesmo
depois de formado. O aluno tem que permanecer nesta
condição até o fim da vida e não
até o fim do curso. A reciclagem é fundamental
num mundo em que o conhecimento pode estar obsoleto seis
meses depois da obtenção do título.
É possível reduzir o tempo de permanência
do estudante em sala de aula, desde que se amplie o contato
dele com a universidade ao longo da vida.
O
ex-governador considera, ainda, que é preciso enfrentar
um desafio de ordem ética. Na visão de Buarque,
faz-se necessário repensar a produção
do conhecimento. Temos que decidir se vamos utilizar
o aprimoramento genético para criar uma nova civilização
ou se o voltamos para a construção de uma
sociedade mais justa e solidária, diz. Por
último, o ex-reitor da UnB cita a urgência
de ações no nível político.
Ele afirma que a universidade está letárgica
e precisa ser despertada. Ouvir o mundo não
é ouvir somente a comunidade interna. É
preciso entender o recado das ruas. Precisamos propor
coisas novas. Reivindicar não é o mesmo
que propor. Temos que lutar por uma nova estrutura e uma
nova ética, conclama.
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