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Campinas, maio de 2001 - ANO XV - N. 162.........
     
   
 

..Cursos de graduação de dois anos

que a universidade pública fazia enquanto o ensino privado se expandia rapidamente ao longo dos últimos 20 anos? A resposta a esta pergunta, segundo o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Moacyr Krieger, é simples: “Nós duplicávamos a nossa produção científica”. Na década de 80, destaca o pesquisador, as instituições públicas formavam uma média de 500 doutores por ano. No ano passado, esse número saltou para 5 mil. “Nós nos concentramos no que não tínhamos, que era a instalação da capacidade científica. Sob esse ponto de vista, a universidade pública é um sucesso. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo sobre a graduação”, avalia.

Krieger afirma que a ampliação da oferta de vagas no nível da graduação não pode mais esperar. De acordo com ele, o esforço anterior tem que render frutos agora. “Tanto no que se refere à democratização do acesso às escolas de ensino superior público, quanto na forma de desenvolvimento para a sociedade”. Na opinião do presidente da Academia Brasileira de Ciências, a adoção de cursos de graduação de dois anos, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, é factível e pode ser aplicada à necessidade brasileira.

O deputado estadual César Gallegari, que se apresentou como um defensor do ensino público gratuito, reforçou a necessidade de a sociedade trabalhar para que as universidades abriguem um número maior de alunos de graduação. Entretanto, o parlamentar ponderou que não é mais possível que as instituições públicas paulistas, que recebem aproximadamente R$ 2 bilhões ao ano dos cofres do Estado, tenham apoio incondicional. “A defesa da universidade pública deve estar necessariamente ligada à ampliação do acesso da fatia mais carente da população aos cursos de graduação, bem como do compromisso de elevação da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão”, afirmou o deputado.

Segunda abolição – Aproveitando a linha de raciocínio do deputado do PSB, o ex-governador do Distrito Federal chegou inclusive a lançar uma proposta de contrapartida à garantia da aprovação de recursos para as universidades públicas. De acordo com Buarque, poderia ser firmado um pacto em que as instituições de ensino superior assumiriam compromissos objetivos com a sociedade, tais como o desenvolvimento de programas de erradicação do analfabetismo ou de formação de determinados profissionais.

Buarque surpreendeu a platéia que acompanhou a mesa-redonda ao manifestar o seu entendimento de democratização do acesso às universidades. De acordo com o educador, democracia não é facilitar a entrada indiscriminada de pessoas no ensino público superior. O ex-reitor da UnB afirma que sempre haverá algum tipo de exame de seleção e que apenas os melhores conseguirão uma vaga. “O importante é que os conhecimentos gerados pelas universidades cheguem à sociedade, sobretudo aos seus membros mais carentes. Médicos, professores e pesquisadores de várias áreas precisam estar comprometidos com programas de caráter social. Isso é democracia”, defende. Ainda conforme Buarque, o Brasil necessita atualmente de deflagrar uma segunda abolição. “Temos que livrar nossa gente da pobreza. E essa missão passa necessariamente pela universidade”, diz, em meio aos aplausos do público.

No fechamento do evento, o pró-reitor de Pesquisa agradeceu a participação dos debatedores e o apoio da Reitoria e lembrou que o debate foi apenas um passo num processo que deve ter continuidade e resultar em mudanças institucionais positivas num futuro não muito distante. Chambouleyron informou que as principais conclusões da mesa-redonda serão divulgadas na forma de um livro e de um programa de televisão, que deverá ser brevemente veiculado por meio do Canal Universitário e de outras TVs universitárias do país.

 

 

A mundialização do saber e outros desafios

Para o ex-governador de Brasília, Cristovam Buarque, o ensino superior no Brasil tem cinco desafios a enfrentar ao longo dos próximos anos. O primeiro refere-se ao que ele classificou de “mundialização do saber”. Nas palavras do ex-reitor da UNB, “temos que perder a modéstia de pensar a universidade brasileira como se fosse um problema unicamente nacional. O saber é universal”. O segundo desafio, conforme Buarque, está em compreender e aceitar o fim do monopólio da transmissão do conhecimento. “Atualmente, muitos jovens desenvolvem ciência sem sequer freqüentar a universidade. Isso fica muito claro na área da informática. Temos que ter a modéstia de buscar esse conhecimento onde ele estiver. Hoje, é possível aprender também pela televisão ou pela Internet”, lembra.

Também é indispensável, conforme Buarque, que o estudante mantenha vínculo com a universidade mesmo depois de formado. “O aluno tem que permanecer nesta condição até o fim da vida e não até o fim do curso. A reciclagem é fundamental num mundo em que o conhecimento pode estar obsoleto seis meses depois da obtenção do título. É possível reduzir o tempo de permanência do estudante em sala de aula, desde que se amplie o contato dele com a universidade ao longo da vida”.

O ex-governador considera, ainda, que é preciso enfrentar um desafio de ordem ética. Na visão de Buarque, faz-se necessário repensar a produção do conhecimento. “Temos que decidir se vamos utilizar o aprimoramento genético para criar uma nova civilização ou se o voltamos para a construção de uma sociedade mais justa e solidária”, diz. Por último, o ex-reitor da UnB cita a urgência de ações no nível político. Ele afirma que a universidade está letárgica e precisa ser despertada. “Ouvir o mundo não é ouvir somente a comunidade interna. É preciso entender o recado das ruas. Precisamos propor coisas novas. Reivindicar não é o mesmo que propor. Temos que lutar por uma nova estrutura e uma nova ética”, conclama.

 


 
 
 

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