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Campinas, maio de 2001 - ANO XV - N. 162.........
     
   
 

.Loucura encubada?

CARLOS TIDEI


Certamente a população brasileira consumiu carne de gado europeu, suspeita portanto de contaminação pelo mal da vaca louca, até fevereiro deste ano, quando – e somente por pressão do embargo de importação de carne brasileira pelo Canadá (e do Comitê Científico da União Européia sediado em Bruxelas, Bélgica) – foram tomadas algumas providências sanitárias adequadas para proteção da saúde dos brasileiros. Se algum consumidor foi contaminado no Brasil e desenvolveu a doença, ou a possui encubada, dificilmente haverá registro, tanto por falta de um mapeamento específico como por falhas de diagnóstico.

O fervor nacionalista mobilizou a sociedade brasileira, com alguns setores promovendo manifestações de boicote a produtos canadenses, como os portuários de Santos e membros da Abredi (Associação Brasileira de Restaurantes Diferenciados) – que provavelmente serviram carne importada aos clientes. A imprensa brasileira, em geral, preferiu endossar o nacionalismo e creditar o embargo à disputa comercial na área de aviação, e até o presidente da República declarou “guerra” comercial contra o Canadá. Passados os discursos acalorados, chegou o momento de, serenamente, técnicos e especialistas da área reverem posições para melhor proteger a saúde do consumidor brasileiro.

Diante da necessidade de iniciar uma campanha de educação e conscientização do segmento produtivo (pecuária) de carne bovina, bem como o segmento industrial (matadouros e frigoríficos), a Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos (SBCTA) promoveu no dia 20 de abril, no auditório da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, em São Paulo, o simpósio “A Indústria de Produtos Cárneos e a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB)”, com participação de especialistas da Unicamp, USP, UFL e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“O maior perigo é o excesso de auto-confiança de que não existe a doença no Brasil. É um tremendo engano pensar que estamos isentos do problema”, alerta o professor Jaime Amaya Farfan, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, um dos organizadores do evento. Segundo ele, apesar de o Brasil ter sido declarado como de “risco 1” (o mais baixo atualmente entre os exportadores), existe a necessidade de discutir a problemática, na ausência do fator emocional inicial, para despertar no produtor e no industrial a consciência que leve à prevenção e à manutenção da categoria de baixo risco em EEB.

Maior rebanho – O Brasil possui o maior rebanho bovino comercializável no mundo todo, estimado em mais de 150 milhões de cabeças. A possibilidade de proliferação da doença da vaca louca no País é baixa, mas não é “zero”, principalmente porque a grande maioria das criações é extensiva, ou seja, sem a participação de concentrados com ingredientes de origem animal. “Eventualmente, no entanto, alguns rebanhos podem receber reforços contendo proteína de origem animal”, pondera Farfan. Neste caso pode ocorrer a contaminação cruzada, pelo consumo da ração animal – composta por resíduos de abate transformados em farinhas, principalmente de bovinos e suínos. A ração e a propagação vertical seriam as mais prováveis causas de disseminação da EEB. Este fato não elimina, porém, a possibilidade de consumo interno de carne e gado importados de países onde a doença já se manifestava nos últimos dez anos. Especialistas em saúde acreditam que a EEB não chegue a ser um problema de saúde pública.

Em 1989 e 1990 foram importados 179 animais das raças Jersey e Charolêsa do Reino Unido e a associação de criadores transpareceu que cerca de 100 desses bovinos podem ainda estar vivos. A ilha de Jersey acumula 152 casos de EEB desde 1988. O Brasil importou cerca de 100 mil toneladas de carne européia em 91, das quais 18 mil toneladas vieram da Irlanda. Entre 89 e 91 a Irlanda registrou 46 casos de EEB e um aumento considerável nos anos seguintes, tendo atingido um acumulado de 599 ocorrências no início deste ano.

O Ministério da Agricultura levou dois anos para preencher os formulários sobre a inexistência da doença no país, mesmo depois de ter permitido a importação de mais de 4 mil reses da Europa no auge da epidemia, entre 1989 e 1994. “A doença atinge mais o gado leiteiro, por isso o nome de vaca louca, e existe a possibilidade da contaminação vertical (da vaca para o bezerro), com incidência entre 5% e 15% nos rebanhos contaminados”, detalha Pedro Eduardo de Felício, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e um dos palestrantes do simpósio. A transmissão vertical da doença pelo sêmen do touro não foi registrada, assim como a transmissão horizontal (contato indivíduo com indivíduo).

 

 

 

 


 
 
 

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