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Pós da Unicamp coordena cursos para
professores da rede pública
Projeto envolverá cerca de 12 mil
docentes do ensino médio e fundamental II
LUIZ
SUGIMOTO
Cerca
de 12 mil professores da rede pública de ensino do Estado
de São Paulo contarão com cursos de especialização a distância
oferecidos pela Unicamp, conforme parceria firmada com a Secretaria
da Educação. O projeto, que vai envolver professores do ensino
fundamental II (6º ao 9º anos) e do ensino médio, contempla
as áreas de História, Física, Língua Portuguesa, Matemática
e Educação Física. As outras duas universidades paulistas
também participam deste esforço de formação continuada: USP,
com cursos como de Gestão, Filosofia, Biologia, e Unesp, com
Língua Inglesa, Química e outros. Nestes dois primeiros anos,
a expectativa é de atingir 30 mil dos mais de 200 mil professores
da rede estadual.
Munir Skaf, docente do Instituto
de Química (IQ) e coordenador do projeto pela Unicamp, afirma
que os cursos já foram aprovados na Comissão de Ensino, Pesquisa
e Extensão (Cepe) e em outras instâncias, aguardando-se o
aval do Conselho Universitário (Consu) em assembléia no dia
30 de março. “Seguindo a proposta da Secretaria de Educação,
elaboramos cursos de qualidade e voltados para as novas bases
curriculares e o dia a dia dos professores da rede”.
Segundo Skaf, há um bom motivo
para que os coordenadores dos cursos estejam entusiasmados
com a iniciativa. “As três universidades paulistas respondem
por 50% da produção do conhecimento avançado no país. O Estado
de São Paulo reconhece a necessidade de promover ações de
qualificação do seu quadro docente dos ensinos fundamental
e médio e este convênio é uma oportunidade de atingir um grande
número de professores da rede pública na modalidade de formação
continuada”.
Embora a experiência da Universidade
na educação a distância em nível de pós-graduação seja limitada,
Skaf observa que se dispõe de outra ferramenta capaz de alcançar
tantos cursistas, como nesse caso. “A perspectiva é de que
o projeto tenha continuidade e o sistema seja aprimorado,
trazendo reflexos inclusive ao ensino dentro da Universidade.
Para nós, é importante adquirir conhecimento e experiência
visando atividades on-line como forma de apoio aos nossos
cursos presenciais”.
O
professor Euclides de Mesquita Neto, pró-reitor de Pós-Graduação,
informa que serão obedecidos os quesitos regimentais de atividades
presenciais – do total de 360 horas de aula no ano, 45 serão
de atividades nas Diretorias de Ensino e nas escolas. “A estrutura
administrativa dos cursos é piramidal: a partir das diretrizes
curriculares, professores autores formataram o material didático,
cabendo a professores especialistas assimilar esse material
e promover a interface com as centenas de monitores que, de
fato, vão supervisionar a atividade a distância”.
Munir Skaf explica que os
cursos exigem uma boa infraestrutura computacional, além
de uma plataforma versátil e eficiente para Ambientes Virtuais
de Aprendizagem, ambientação web do material didático,
ferramentas de acompanhamento e avaliação, e o treinamento
de pessoas – tudo isso a cargo do Grupo Gestor de Tecnologias
Educacionais (GGTE) da Unicamp. “A ideia é que toda a parte
de orientação on-line seja bastante dinâmica, levando o
cursista a fazer uso de tecnologias em atividades interativas
que servirão para suas aulas e seu futuro. O curso vai muito
além da leitura estanque na tela ou da mera busca no Google”.
GGTE
Os professores José Valente e Vera Solferini, do GGTE,
informam que o grupo foi criado para propiciar, apoiar, articular
e promover ações institucionais relacionadas ao uso de tecnologias
na educação e no desenvolvimento da educação a distância
nos níveis de graduação, pós-graduação e extensão da
Unicamp. Em relação a esses cursos de especialização,
especificamente, o GGTE terá participação fundamental na
implantação de infraestrutura como servidores e salas multimídia,
manutenção do ambiente virtual de aprendizagem, formação
dos tutores e na adaptação e implantação do material de
apoio a ser utilizado nos cursos.
Conforme Munir Skaf, os cursos
são exclusivos para os professores atuantes na rede estadual.
“É preciso diploma de ensino superior e, feitas as pré-matrículas,
a Secretaria de Ensino irá validar se os nomes da lista integram
seu quadro de docentes. Caberá ao governo estadual decidir
quando assinamos o convênio e damos início ao projeto. Da
nossa parte, estamos prontos para arregaçar as mangas”.
Na opinião do pró-reitor Euclides
Mesquita, a forma privilegiada de fazer ensino, pesquisa e
extensão é por meio da formação de recursos humanos. “Se a
Unicamp, nessas quatro décadas, exerceu a prática do ensino
presencial na graduação e na pós-graduação, está na hora
de estender sua experiência para outros níveis. Já estamos
fazendo algo diferente nos últimos anos, iniciando convênios
de cursos semipresenciais que vão ajudar diversas prefeituras
e instituições”.
O pró-reitor ressalta que,
dadas as dimensões do quadro de educadores da rede estadual
de ensino, é importante o envolvimento da Universidade nesta
oferta de cursos de qualificação e educação continuada. “O
desafio está posto e o engajamento da Unicamp, bem como o
currículo dos nossos coordenadores, trazem a certeza de que
seremos bem-sucedidos, imprimindo um novo paradigma bastante
positivo para o país”.
Coordenadores falam
sobre o conteúdo
Cada curso de especialização oferecido
pela Unicamp – História, Física, Língua Portuguesa e
Matemática – possui oito disciplinas em quatro módulos,
sendo que o desenvolvimento de conteúdos exigirá o empenho
de oito professores autores. A proposta do curso de
Educação Física, coordenada pelo professor Jocimar Daólio,
foi aprovada pela congregação da Faculdade de Educação
Física e deverá se somar aos demais cursos após apreciação
das instâncias superiores. A seguir, os coordenadores
fazem breves comentários sobre o conteúdo dos cursos:
História
“Partindo de um currículo clássico (Brasil Colônia,
Império e República, e história antiga, medieval, moderna
e contemporânea), a proposta é diminuir as dificuldades
do professor em relação a novas abordagens, pensando
sobre teorias e metodologias relacionadas ao ensino
desta matéria. Queremos aproximar a Universidade e o
professor da rede, buscando apresentar o que se produz
de mais recente sobre esses temas clássicos em uma unidade
de excelência em pesquisa como é o curso de História
da Unicamp. Muitas vezes o docente da rede identifica
fragilidades em sua própria formação, quer mudar, mas
se pergunta por onde começar. O curso é uma grande oportunidade
para isso.
Nossa proposta não é revolucionária,
porém bastante exequível para a realidade de uma sala
de aula do Estado de São Paulo. A questão principal
é tomar os conteúdos conhecidos e submetê-los à
crítica historiográfica, numa análise que vise atingir
os alunos da rede pública. As abordagens das diferentes
correntes interpretativas do conhecimento histórico
são fundamentais para que o professor identifique que
a história é dinâmica e seus conteúdos e saberes
são constantemente revistos.
Para isso, uma junção entre questões teórico-metodológicas
e propostas de execução na sala de aula será priorizada,
auxiliando-os a selecionar, recortar e especificar conteúdos
e abordagens, e interpretar documentos históricos de
diferentes naturezas, tais como escritos, imagens, filmes,
cultura material, relatos orais etc. O fundamental é
permitir que o professor da rede perceba quais são
os conteúdos prioritários e, sobretudo, possa apropriar-se
desse conhecimento e fazê-lo chegar a seu aluno.
No caso da História, a partir da liberdade
curricular experimentada no período pós-ditadura militar,
várias propostas de ensino foram experimentadas e os
resultados nem sempre foram satisfatórios. Há um interesse
por parte dos docentes da rede estadual em rever procedimentos
e conceitos. Nossa proposta, portanto, evidencia a observação
dos conteúdos clássicos, mas com abordagens recentes
e inovadoras, preservando a autonomia dos professores,
as diretrizes curriculares propostas pela Secretaria
de Educação e, sobretudo, a dinâmica realidade da sala
de aula”.
(José Alves
de Freitas Neto, professor do Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH)
Língua
Portuguesa
“Em Língua Portuguesa, tivemos mudanças recentes no
currículo, mas é uma área privilegiada porque tais mudanças
são relativamente consensuais. Isso levou à elaboração
de propostas curriculares estaduais (como em São Paulo
e Santa Catarina), que são ainda estranhas a professores
que não foram formados para as unidades de trabalho
ou objetos de ensino estabelecidos pelos novos parâmetros.
Além disso, o Estado de São Paulo elaborou
cadernos que o professorado está utilizando com dificuldade,
havendo muita queixa justamente porque a formação deve
estar defasada em relação às mudanças. Nossa proposta
visa abordar esses pontos centrais ligados pelo gênero,
teoria do texto, letramento digital, multiletramentos.
A ideia é que, durante as oito disciplinas
e no TCC, sejam discutidos com os professores o material
e o próprio currículo do curso de especialização, aproximando-o
o máximo possível da prática em sala de aula. Queremos
capacitar para os desenvolvimentos que os professores
formados há mais tempo ou em unidades menos qualificadas
não dominam”.
(Roxane Helena Rodrigues
Rojo, do Instituto de Estudos da Linguagem – IEL)
Física
“O curso proposto apresenta algumas facilidades para
sua implementação, porque o que se vê em física no ensino
médio é muito parecido com o que vemos em física nos
anos iniciais da Unicamp. Isso faz com que os problemas
sejam bastante conhecidos dos nossos docentes.
Outra
característica é que os parâmetros curriculares nacionais
definem muito claramente o que se espera da disciplina
e, no caso do material produzido pela Secretaria do
Estado de São Paulo, o coordenador foi o professor Luís
Carlos de Menezes (da USP), o mesmo que trabalhou nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Há muito material
desenvolvido no país sobre esses conceitos de física
e sobre essa forma de abordagem.
É
importante lembrar que o Instituto de Física da Unicamp
possui uma tradição em física experimental, o que deve
se refletir na abordagem do curso. O material da Secretaria
já correlaciona a Física com o cotidiano, fica faltando
estabelecer as relações entre o desenvolvimento teórico
e suas aplicações, e é esse o ponto principal onde iremos
atuar. É também o ponto mais difícil, associado ao que
chamamos de transposição didática: pegar um material
mais abstrato e transformá-lo em algo possível de ser
compreendido”.
(Maurício Urban
Kleinke, do Instituto de Física Gleb Wataghin – IFGW)
Matemática
“Trabalhei no ensino médio durante 12 anos da minha
vida e, aqui na Universidade, lá se vão mais de 20 anos,
sempre querendo trabalhar com a minha antiga área. Atuei
no vestibular e em alguns projetos, mas vejo nesse curso
de especialização uma possibilidade de realmente chegar
ao professor que está na rede pública. Eu sei o que
é dar aulas nos ensinos fundamental e médio – e hoje
é muito pior.
Existem,
pelo menos na matemática, aquelas pessoas conservadoras
em relação ao ensino a distância. É uma resistência
que precisamos vencer, pois acho que não tem mais retorno
e o ensino a distância tende a crescer, e muito.
Minha
equipe está praticamente montada, com a metade dela
composta por docentes aposentados. Como coordenador
do curso, almejo que o professor da base, através desse
material, consiga passar ao aluno um tostão da experiência
de um docente da Unicamp. Se ele conseguir, eu me aposento
feliz”.
(Edmundo Capelas
de Oliveira, do Instituto de Matemática,
Estatística e Computação Científica – IMECC)
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