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GENÔNMICA
Fabuloso
banco de dados
Integração de redes de projetos
genoma no Brasil vai permitir
que os resultados das análises sejam antecipados em anos
CARLOS
TIDEI
A
integração de redes de projetos genoma no Brasil
está permitindo a construção de um imenso
banco de dados que irá facilitar, progressivamente, estudos
de genoma de propriedades diversas em todo o território
nacional. Em um futuro próximo, toda pesquisa de genoma
contará com um banco de dados tão rico de material
que poderá antecipar em anos os resultados das análises,
somente com sistemas de busca e compatibilidade disponíveis
no arquivo.
O
progresso dessa integração ficou evidente durante
o primeiro encontro de coordenadores de nove redes de projetos
genoma brasileiros, em agosto na Unicamp, que serviu para consolidar
as pesquisas já interligadas e organizadas em rede. A
maioria direciona os dados de seqüenciamento ao mesmo banco
de memória genética, na Bioinformática
Central da Unicamp. O acesso aos dados é aberto somente
aos grupos consorciados, e através de contratos com empresas
de biotecnologia, para explorar e gerar produtos biotecnológicos.
Deve demorar muitos anos até que esses conhecimentos
sejam de domínio público. Um dos objetivos é
despertar o interesse de empresas financiadoras do projeto para
garantir direito às patentes.
Sete
dessas redes foram escolhidas em abril, pelo Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT), para distribuição
de recursos de aproximadamente R$ 26 milhões destinados
a investimentos em biotecnologia, contemplando diversas áreas.
Os governos estaduais também entrarão com expressivas
contrapartidas.
Participam
das sete redes 48 institutos e 240 cientistas. A oitava rede,
do Genoma Brasileiro, integra 25 laboratórios espalhados
pelo Brasil e envolve 160 pesquisadores, ao custo de R$ 8 milhões
financiados pelo CNPq e pelo MCT. A nona rede foi criada recentemente,
com importante contribuição de empresas privadas,
e estuda o Genoma do Eucalipto, com investimento inicial previsto
em R$ 8 milhões.
Entre
as pesquisas estão doenças de populações
pobres, como o mal de Chagas, micose, esquistossomose e leishmaniose;
bactérias fixadoras de nitrogênio, de extrema importância
para a agricultura; e a praga da vassoura-de-bruxa,
que dizima plantações de cacau. Ao todo, estiveram
reunidos 29 pesquisadores no hotel da Funcamp (Casa do Professor
Visitante).
De
cabeça Segundo Gonçalo Amarante Guimarães
Pereira, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e coordenador
do Genoma da Vassoura-de-Bruxa, os estudos de genoma no Brasil
se dividem em três fases: a primeira foi o seqüenciamento
do código genético da bactéria Xylella
fastidiosa, causadora da doença do amarelinho
na laranja, que serviu para que os pesquisadores aprendessem
a fazer a genômica, ganhando experiência na área.
Agora, numa segunda fase, com investimentos tanto do MCT como
da Fapesp e de outras instituições de pesquisa
e agências de fomento, foram direcionados os estudos para
genomas espontâneos.
A próxima etapa é o desenvolvimento de produtos
a partir dessas pesquisas. O Brasil entrou de cabeça
na era genômica, comemora Pereira. A reunião
de Brainstorm, como denominou Pereira, serviu para
aprender com a experiência dos outros, e não repetir
o que os outros estão fazendo, além de apresentar
novas ferramentas e propostas de trabalho integrado de bioinformática.
Não pretendemos reinventar a roda, mas usar as
experiências básicas em conjunto, esclarece.
Capital
Existem dois tipos de estudos de genoma, ou duas
abordagens distintas: o genoma estrutural, que investiga os
organismos para se conhecer mais profundamente suas propriedades
e extrair possíveis benefícios; e o genoma funcional,
onde se inicia o mapeamento com vistas a um objetivo pré-definido,
como é o caso do combate a doenças e pragas. A
grande vantagem dos genomas regionais espontâneos é
que se está explorando organismos em torno dos quais
já existe uma massa crítica realmente preocupada
com esses organismos, e de onde devem sair produtos de biotecnologia,
em uma área na qual o Brasil tem um potencial enorme,
mas a quantidade de empresas que realmente atuam em biotecnologia
é ínfima, praticamente nula. Temos uma massa crítica
enorme, organismos maravilhosos para se fazer biotecnologia,
potencial universitário fantástico, mas nada disso
é convertido. Precisamos atrair capital, afirma.
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Avanço
no combate à vassoura-de-bruxa
O
estudo do genoma de C. Crinipellis perniciosa (vassoura-de-bruxa)
está bastante avançado e contou com fontes de
dados de outros genomas como o do câncer. Em quatro meses
de trabalho, com quatro grupos organizados, cerca de 60% do
genoma já foram seqüenciados em cópia única,
com dois mil genes identificados, frente à estimativa
de sete a oito mil genes. O projeto entra agora na fase de construção,
a partir de alvos extremamente importantes e prováveis
de estarem relacionados com a doença. O estudo desse
genoma é coordenado por Gonçalo Amarante Guimarães
Pereira, da Unicamp.
Pereira
cita como exemplos um gene chamado cutinase, relacionado com
a celulose, usado para penetrar na planta, e genes sexuais.
Os fungos que não têm sexo são mais
difíceis de combater. Naqueles que têm, há
possibilidade de produzir estratégias de competição
sexual, ou introduzir alguma coisa que o mate. Fazer sexo é
sempre uma coisa muito perigosa, até no caso dos fungos,
brinca.
São
experiências que já estão indo a campo,
após identificação de uma quantidade enorme
de genes receptores. A presença de feromônio
(hormônio sexual) leva a crer que ele faz sexo e, se faz,
vai explicar uma enorme taxa de recombinação.
São esporos no formato de hifa, que envolve o hormônio
sexual. Trocam material genético, recombinam e criam
novos fungos com novas opções de ataque à
planta do cacau, explica o pesquisador.
Essa
é uma das maiores dificuldades no combate ao fungo. Nas
plantações contaminadas da Bahia, quando se encontra
uma planta que não foi destruída, esta é
clonada para reprodução, na tentativa de obter
variedades resistentes. Mas depois de um tempo aparece um fungo
modificado que contamina as plantas. É grande a
chance de que esses fungos trocam material para obter mais poder
de ataque, deduz Pereira.
Preconceito
O projeto do Genoma da Vassoura-de-Bruxa tem financiamento
de R$, 1,2 milhão do Governo da Bahia, R$ 800 mil do
CNPq e investimentos indiretos da Fapesp na compra de equipamentos
(que já consumiu mais de R$ 1 milhão). Os produtores,
no entanto, ainda resistem em financiar o projeto por preconceito
contra a pesquisa, que imaginam ter relação com
os transgênicos. Genoma nada tem a ver com transgênico,
mas o público não compreende e os movimentos ambientalistas
criam uma imagem temerosa, lamenta Pereira. Um programa
como este, com tantos financiamentos diretos e indiretos, reúne
de 80 a 100 pesquisadores. Em contrapartida, outros grupos também
contribuem com dados e informações, e o seqüenciamento
é feito em vários lugares simultaneamente.
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