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GENÔNMICA
Uma
bactéria salvadora
Cientistas do Genoma Brasileiro já seqüenciaram
70% da Chromobaterium violaceum
O
denominado Genoma Brasileiro porque integra 25 laboratórios
espalhados pelo Brasil na rede de seqüenciamento
estuda a Chromobaterium violaceum, bactéria encontrada
principalmente no Rio Negro, Região Amazônica,
e que pode ser eficaz no tratamento de algumas endemias como
a doença de Chagas e a Leishmaniose. Ana Tereza R. de
Vasconcelos, do Laboratório Nacional de Computação
Científica (LNCC), área de bioinformática
do MCT, afirma que quase 70% do microorganismo já foram
seqüenciados.
A
Chromobaterium possui propriedades muito interessantes, com
várias aplicações práticas: na área
de farmacologia, traz uma substância que pode ser usada
contra o mal de Chagas; na biotecnologia, produz polímeros
plásticos biodegradáveis; e ainda na biomineração,
oferece cianeto que forma o ouro coloidal, num processo que
permite a extração de uma forma mais segura, sem
agredir o meio ambiente. Pode ser usada, também, para
combater um besouro que ataca as batatas.
A
bioinformática trouxe esquemas de anotações
diferentes, que em termos de análise de dados é
algo novo, e entrou na segunda fase do seqüenciamento para
fechar o genoma nos próximos dois meses. Com a caracterização
completa da bactéria podem surgir novas aplicações
e desenvolvimentos de produtos. O prazo para término
é o final do ano.
O
mais importante deste genoma não é somente a bactéria.
É a possibilidade de se integrar 25 laboratórios
para seqüenciamento no Brasil inteiro, treinando as pessoas
no trabalho de genoma, construção de bibliotecas,
análises, anotações de genoma, enfim, formando
pessoas especializadas nessa área, destaca Ana
Tereza. O projeto, que conta com R$ 8 milhões do CNPq
e MCT, integra 160 pesquisadores coordenados por Andrew Simpson,
do Instituto Ludwig para Pesquisa do Câncer. Todos os
pesquisadores vão participar da conclusão do projeto,
e o pessoal treinado realiza cursos complementares de montagem
de bibliotecas de procedimentos em bioinformática, para
depois repassar esta tecnologia de ponta.
Protozoário
espacial Um consórcio internacional tentou,
sem sucesso, a cristalização de proteínas
do protozoário Trypanosoma cruzi em micro-gravidade,
na mesma missão espacial que levou o veterano astronauta
Glen Ford de volta ao espaço. Depois, as proteínas
foram cristalizadas em São Carlos, com a difração
obtida pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron
(LNLS). Os dados dessas experiências vêm sendo usados
para se obter drogas eficientes no combate à doença.
É um trabalho desenvolvido pelo consórcio do Genoma
Chagas, integrado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e o recém-criado
Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).
Marco
Antonio Krieg, biólogo coordenador do IBMP, explica que
o objetivo desse genoma funcional é a descoberta de ferramentas
pós-genômicas a partir de novos alvos quimioterápicos
do organismo. Existem 20 milhões de chagásicos,
que não contam com quimioterapia eficiente. O controle
do inseto evita uma proliferação maior, com controle
da infecção, mas a descontinuidade das campanhas,
devido ao seu alto custo em algumas regiões, propicia
a reinfestação, explica Krieg.
Mal
latino A doença de Chagas ocorre mais na América
Latina. Na Bolívia estima-se que a metade da população
esteja infectada, o que aumenta o risco de infestação
em outras áreas. Como na malária e dengue, o sucateamento
dos mecanismos de controle dos vetores permite que essas doenças
voltem a preocupar. A análise do seqüenciamento
pode proporcionar uma droga inibitória do desenvolvimento
da doença, ou a possibilidade de usar um coquetel de
drogas para combater os parasitas mutantes, o que é uma
tendência mundial em alguns tratamentos quimioterápicos,
detalha o biólogo do IBMP.
O
trabalho de Carlos Chagas, médico que descobriu a causa
da doença, é inédito na história
da medicina porque identificou o inseto (Triatoma infestans,
conhecido por barbeiro) como vetor da doença
e a causa de contaminação (infecção
parasitária provocada pelo Trypanosoma cruzi). Com a
descoberta de novos alvos nos próximos dois anos
tempo previsto para conclusão da pesquisa será
possível obter um avanço significativo no combate
à doença, que ainda causa óbitos em casos
mais graves. (C.T.)
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Biotecnologia
faz surgir uma nova área do Direito
Biodireito
é uma área em nascimento que abrange todas as
possibilidades de defesa dos produtos de biotecnologia: defende
patentes através de legislações internacionais,
e contratos entre universidades e órgão de pesquisa.
A única forma de se garantir que não haverá
apropriação indébita de propriedade intelectual
e científica é a prevenção com registro
da pesquisa.
Esta é uma das principais razões porque os dados
de estudos de genoma não estão disponibilizados
ao público. A corrida por informações genéticas
é acirrada em todo o mundo. As patentes de produtos biotecnológicos
possuem um mercado mundial de valor inestimável. A lei
de propriedade industrial possibilita a defesa de espaços
do que vai se tornar uma futura patente, para resguardar os
direitos do autor ou autores.
Existe
um capital mal-intencionado de olho nessa tecnologia, aguardando
tirar proveito sem grandes esforços e investimentos,
alerta Leonardo Grecco, que presta serviços de consultoria
jurídica aos pesquisadores de genoma.
Os cursos de direito ainda não possuem disciplina nesse
ramo e existem poucos profissionais voltados para o Biodireito,
talvez uma dezena no Brasil. Uma boa parte trabalha em defesa
de grandes empresas que pesquisam novos produtos genéticos.
O grande problema dos transgênicos é a ignorância
das pessoas em relação às reais propriedades
de determinados produtos. O direito se limita ao mundo dos fatos
e nesse contexto é fácil liberar alimento transgênico,
afirma Grecco.
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Como
funcionam os seqüenciadores
Os
equipamentos utilizados para os estudos de genoma são
basicamente seqüenciadores e amplificadores de DNA. Embora
não estejam entre os mais modernos, os seqüenciadores
377, robustos e confiáveis, são os mais usados.
Segundo Gonçalo Pereira, ainda é um Fórmula-1
nas pesquisas. Três novas ferramentas de informática
que auxiliam no processo de seqüenciamento e mapeamento
genômico estão sendo desenvolvidas na Unicamp.
Uma delas é um sistema de agrupamento de genes por palavra-chave;
a outra é uma anotadora automática baseada em
domínios perfeitos; e a terceira é complementar
às outras duas. Os programas utilizados como ferramenta
até então eram, e ainda são em alguns casos,
três aplicativos SQLBlaste.
O
seqüenciador decifra a estrutura molecular do organismo,
informando, através de uma série de reações,
qual a seqüência das bases. Feito isso é obtido
um gráfico que define as probabilidades de aquilo ser
exatamente o que se pretende pesquisar. Esses arquivos, chamados
cromatogramas, são enviados para o processamento. Ao
receber esse material, os computadores analisam a estrutura
por meio de vários programas ligados em série.
Como
os genomas são muito grandes, não é possível
analisá-los por inteiro. Por isso, são quebrados
em partes, para análises independentes. Com as várias
seqüências definidas, elas são relacionadas
de acordo com a compatibilidade de ligamentos. Nesse momento
está se montando o genoma e, então, os programas
fazem o seqüenciamento, explica Fernando Tsuzumo,
um dos responsáveis pela bioinformática na Unicamp.
Depois de montado o genoma é realizada uma série
de avaliações e estudos da inferência dos
genes, baseados em similaridade com outros genes já montados.
Essa integração é melhor administrada com
o sistema de busca, um programa desenvolvido na Unicamp. Quanto
maior for o banco de dados como o do genoma do câncer,
que catalogou aproximadamente 1,1 milhão de seqüências,
com uma média de 400 a 500 bases cada uma , mais
fáceis ficam a pesquisa e a antecipação
dos trabalhos de seqüenciamento de outros genomas.
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