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Apoio psicológico pode evitar
recaída após cirurgia bariátrica


RAQUEL DO CARMO SANTOS

O psiquiatra e psicanalista Ronis Magdaleno Junior: investigando as vivências emocionais das pacientes (Foto: Antoninho Perri)O psiquiatra e psicanalista Ronis Magdaleno Junior alerta para a importância do acompanhamento psicológico no pré e pós-operatório de mulheres que se submetem à cirurgia bariátrica – ou cirurgia de redução de estômago, como é popularmente conhecida. Para ele, há o risco de que a paciente volte a engordar ou apresentar complicações psicológicas importantes, decorrentes de vários fatores identificados em estudo apresentado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Neste sentido, o psiquiatra indica a necessidade de a equipe de saúde estar instrumentalizada para compreender e atuar de modo eficiente junto ao paciente.

Ronis Magdaleno foi orientado pelo professor Egberto Ribeiro Turato, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria. Para fundamentar a pesquisa, ele entrevistou sete mulheres que passaram pelo procedimento no Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do Hospital das Clínicas da Unicamp. Seu objetivo foi investigar as vivências emocionais destas pacientes, bem como as profundas modificações físicas e psicossociais pelas quais passaram.

A cirurgia bariátrica é indicada no tratamento da obesidade mórbida, principalmente quando existem doenças já instaladas no organismo. A busca pelo procedimento tem crescido de modo expressivo nos últimos anos, visto que os resultados são significativamente melhores do que outras terapêuticas conservadoras. A melhora nas condições de saúde para os portadores de diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e problemas osteoarticulares são exemplos de resultados positivos da cirurgia. No entanto, demais aspectos psicossociais como, por exemplo, a melhora da auto-estima e experiências de re-inserção social, têm um forte impacto como motivação para a decisão pela cirurgia.

“O obeso é, muitas vezes, discriminado e sofre com a inadequação social por conta de um apelo estético muito forte na sociedade contemporânea. Por isso, a crescente procura por tratamentos que minimizem ou eliminem esta condição”, destaca o psiquiatra.
No estudo, foi identificada uma série de questões delicadas e complexas relacionadas a novos conflitos experimentados pelas mulheres após o emagrecimento proporcionado pela cirurgia. Segundo ele, algumas mulheres apresentam expectativas irreais, chegando a acreditar que o procedimento e o consequente emagrecimento serão a solução para os mais diversos problemas de suas vidas. Imaginam, por exemplo, resolver conflitos emocionais e conjugais ou até mesmo relativos à imagem corporal. Também acreditam na melhora da timidez e, nestes casos, o risco de desilusão com a cirurgia e seus resultados é muito grande, o que pode levar a uma desmotivação em manter o desafio de manter a perda de peso.

Outra questão apontada pelo pesquisador diz respeito às alterações do impulso alimentar e da fome. Sabidamente, o paciente portador de obesidade mórbida apresenta problemas relacionados ao controle do impulso alimentar, muitas vezes utilizando o alimento como tentativa de resolver angústias de outra natureza. Após a cirurgia bariátrica, esta via é impedida de modo significativo pela diminuição da capacidade volumétrica do estômago, sendo a sensação de saciedade experimentada rapidamente, mas não a satisfação alimentar.

Se este aspecto não for adequadamente trabalhado do ponto de vista psicológico, o paciente pode desenvolver outras estratégias para preencher este vazio ou insatisfação, criando mecanismos compensatórios que podem resultar em desvios da compulsão alimentar para outras vias, como o alcoolismo, por exemplo. Outra destas vias seria a busca de alimentos altamente calóricos, de fácil passagem pelo estômago diminuído pela cirurgia, ingeridos em pequenas quantidades e continuamente durante o dia. Deste modo, mesmo sem ingerir grandes quantidades de alimentos por vez, o insumo calórico é muito alto, resultando em aumento de peso.

Algo que também chamou a atenção do psiquiatra foi o sentimento de desproteção que as mulheres apresentam após o emagrecimento. Ao se sentirem olhadas e admiradas pelos homens e por outras mulheres, sentem-se expostas, o que faz recrudescer conflitos relacionados à sexualidade. Os sentimentos de inveja, ciúme e competição – que estavam encobertos pela obesidade – passam a ser comuns, o que as expõe a situações novas com as quais não estão, muitas vezes, aptas a lidar.

O cuidado psicológico é uma regra no Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do HC da Unicamp, assim como a preocupação em oferecer acompanhamento pré e pós-operatório por uma equipe multidisciplinar. O preparo para a cirurgia é longo e inclui a perda de peso antes do procedimento, o que diminui muito os riscos no pré e pós-operatórios. Estes aspectos acabam por selecionar candidatos com motivações realísticas relacionadas à cirurgia.

A realidade, porém, não é uma regra fora do âmbito universitário. Para o pesquisador, somente a cirurgia não é suficiente para um bom prognóstico e uma perda de peso sustentada ao longo dos anos, sendo fundamental o acompanhamento psicológico antes e depois da cirurgia por profissionais habilitados.


 
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