Edição nº 529

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 11 de junho de 2012 a 17 de junho de 2012 – ANO 2012 – Nº 529

Emergentes podem roubar a cena, diz editor


 

O jornalista britânico Phil Baty, editor do Times Higher Education World University Rankings, vê como um “grande avanço” a colocação da Unicamp na 44ª posição entre as 100 melhores universidades com menos de 50 anos. Segundo o editor, a classificação sugere que a Unicamp tem potencial para se destacar em rankings prestigiosos quando comparada a instituições mais antigas. Nesta entrevista, Phil Baty fala sobre o ranqueamento, analisa as perspectivas do ensino superior no Brasil e projeta os rumos da universidade contemporânea.

 

Jornal da Unicamp – Fale um pouco sobre sua contribuição para esta pesquisa.
Phil Baty – Estou incumbido de planejar a metodologia e promover quaisquer outros ajustes que desejarmos fazer na lista. Todos os dados são coletados e analisados em nosso nome pela companhia Thomson Reuters, uma das agências de informação mais respeitadas em todo o mundo. Como editor, meu papel é assumir toda a responsabilidade pela metodologia. Ademais, é minha tarefa como jornalista interpretar os resultados, anualmente, por meio de inúmeros artigos analíticos.
Também recruto analistas especializados para a publicação do ranking, atuo no desenvolvimento de novos projetos fundamentados em dados desses levantamentos e contribuo com conferências sobre o ensino superior, analisando mudanças e tendências na educação.
Sou ainda editor-chefe da revista THE (Times Higher Education), publicação semanal voltada a todos aqueles que trabalham com ensino superior em âmbito internacional. Trata-se da maior publicação sobre ensino superior do mundo. Publicamos uma edição impressa semanal e também temos um site que vem crescendo exponencialmente, difundindo notícias diárias e promovendo e participando de debates. Este site, cujo endereço é www.timeshighereducation.co.uk, tem uma audiência internacional em constante crescimento, refletindo a acelerada ascendência da globalização no ensino superior.

JU – Há quanto tempo o ranking é publicado? Seu formato mudou ao longo dos anos?
Phil Baty –  O Times Higher Education tem publicado o ranking anual das universidades mundiais (World University Rankings) há oito anos, desde 2004. Seu formato sofreu, sim, alterações. Quando começamos, publicávamos os rankings com dados recolhidos pela QS – Quacquarelli Symonds. Nossos rankings eram, então, conhecidos como Times Higher Education – QS World University Rankings.
Porém, em 2009, tomamos a decisão de terminar nossa parceria com a QS. Trouxemos, a partir de então, a agência Thomson Reuters para trabalhar conosco. Desenvolvemos uma metodologia sofisticada. Apenas para efeito de comparação, enquanto a QS usava seis indicadores, o Times Higher Education World University Rankings passou a adotar 13 indicadores cuidadosamente balanceados, cuja finalidade é cobrir todos os principais aspectos das atividades globais das universidades: ensino, pesquisa, transmissão de conhecimento e internacionalização. Nossa metodologia pode ser consultada no endereço https://www.timeshighereducation.co.uk/world-university-rankings/2011-2012/analysis-rankings-methodology.html.

JU –  Que avaliação o sr. faz da posição da Unicamp na lista?
Phil Baty – A Unicamp ocupa a 286ª posição na World University Rankings. No entanto, neste último ranking sobre as melhores universidades com menos de 50 anos, a Unicamp mostrou um excelente desempenho, se comparada com outras instituições, digamos, da mesma “faixa etária”, classificando-se como a número 44 no mundo.
Trata-se de um grande avanço e sugere que há um verdadeiro potencial no futuro para ela se destacar em rankings mais tradicionais, quando cotejada com instituições mais antigas.
A Unicamp obteve excelente pontuação nos cinco indicadores de performance referentes ao ensino, e tem potencial suficiente para melhorar o impacto de sua pesquisa.

JU – O fato de o Brasil ser uma nação emergente tem algum peso neste ranking e, já projetando, nos futuros levantamentos? 
Phil Baty – As perspectivas para o Brasil são extremamente interessantes. O mundo está assistindo ao seu crescimento econômico com muita atenção – crescimento este que vem acompanhado do incremento de pesquisas básicas. Há evidências, no momento, de investigações de primeira linha oriundas do Brasil.
São muitas as demonstrações de uma crescente colaboração internacional também, o que é muito promissor. No entanto, em minha opinião, existem ainda muitos obstáculos cruciais a serem vencidos antes que as universidades brasileiras possam alcançar a próxima etapa.

JU – Quais seriam?
Phil Baty –  Creio que as estruturas governamentais precisam ser mais flexíveis e dinâmicas. Ademais, acredito que ainda falta autonomia institucional.

JU –  Que análise o sr. faz quando se compara o desempenho das instituições emergentes com o daquelas universidades mais antigas e de prestígio consolidado?
Phil Baty – Penso que essa nova lista do Times Higher Education esclarece uma coisa: as universidades consideradas mais antigas, já estabelecidas, não detêm o monopólio da excelência. Essas instituições possuem vantagens óbvias – têm tradição, foram capazes de acumular riqueza, em muitos casos ao longo de séculos, e são detentoras de redes extremamente enraizadas de contatos de alunos e ex-alunos, que vêm de muitas gerações passadas. Porém, elas não podem se acomodar e ficar apenas a reboque da história.
O ranking das universidades jovens vem mostrar que há muitas instituições emergentes – algumas como a Postech, na Coreia do Sul, ou a HKUST, em Hong Kong, com somente 20 anos de idade – que já podem ser vistas como sérias competidoras para as universidades globais de elite.

JU – Quais foram as grandes surpresas do ranking acerca das melhores universidades mais jovens?
Phil Baty – O mais surpreendente – e empolgante –, sem dúvida, é que temos 30 países representados no âmbito das cem primeiras mundiais, o que é muito mais do que existe nas 200 primeiras do tradicional World University Rankings. Isto vem mostrar que existem muitas nações se desenvolvendo, esperando pela oportunidade de roubar a cena dos países tradicionalmente dominantes, tais como os Estados Unidos e o Reino Unido.

Colaborou Suelli Loures Abson