Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 11 de junho de 2012 a 17 de junho de 2012 – ANO 2012 – Nº 529Unicamp, um modelo
que deu certo
Dois tipos de classificação sobre as melhores universidades do mundo criadas há no máximo 50 anos, divulgados no final de maio, merecem atenção e análise. No primeiro, elaborado pela Quacquarelli Symonds (QS), e que relacionou as “top 50 under 50”, a Unicamp é a única brasileira a aparecer na lista, ocupando o 22º lugar. No segundo, desenvolvido pelo Times Higher Education (THE), com a lista das “top 100 under 50”, a Unicamp aparece na 44ª posição no contexto global e em 1º na América Latina. No ranking do THE, além da Unicamp, também está relacionada a Universidade Estadual Paulista (Unesp), na 99ª colocação.
Não obstante as diversas limitações e problemas existentes em classificações desse tipo, as posições alcançadas pela Unicamp são relevantes e significativas. Não por acaso, os primeiros lugares são dominados por universidades asiáticas, uma vez que os países daquela região têm levado a efeito pesados investimentos em educação nas últimas décadas. É importante, porém, saber quais qualidades levaram as instituições brasileiras, em especial a Unicamp, a figurar num círculo restrito de universidades de classe mundial. No caso da Unicamp, pesaram fortemente na indicação a qualidade da educação na graduação e pós-graduação, a densidade de seus programas de pesquisa, a inserção internacional de seus pesquisadores e a capacidade de inovação.
De fato, a Unicamp responde hoje por 8% da pesquisa brasileira e pela formação de 10% de todos os mestres e doutores no país, resultados obtidos a partir do esforço contínuo na contratação dos melhores professores e na formação de estudantes que possam atuar de maneira criativa e com elevado grau de iniciativa e pensamento crítico nas diversas áreas do conhecimento. Seus 1,8 mil docentes, dos quais 98% com titulação mínima de doutor, lideram a produção per capita de artigos científicos publicados em revistas internacionais indexadas, fato que levou a universidade a conquistar, em 2011, o Prêmio SciVal Brasil da Editora Elsevier por sua produção científica.
Graças a uma política de grande interação com a sociedade, incluindo empresas públicas e privadas bem como órgãos governamentais, a Unicamp é hoje a universidade com o maior número de patentes reconhecidas e licenciadas do país. O contexto favorável à inovação e ao empreendedorismo possibilitou, nos últimos anos, o surgimento no entorno da universidade de aproximadamente 120 empresas formadas por ex-alunos ou professores. As chamadas “filhas da Unicamp” empregam cerca de 7 mil profissionais e faturam cerca de R$ 1,2 bilhão por ano.
Todos esses indicadores apontam para o sucesso do modelo implantado por seu fundador, Zeferino Vaz, que fazia da pesquisa um elemento de qualificação do ensino em todos os níveis, e das relações com a sociedade um componente intrínseco da atividade acadêmica. Foi também a partir desse modelo que a Unicamp consagrou-se como uma universidade talhada para a invenção, antecipando-se às políticas públicas para enfrentar os desafios no campo da educação, da pesquisa e da extensão de forma propositiva.
Nesse aspecto, basta citar a criação do seu vestibular próprio em 1987; o Projeto Qualidade, que a partir de 1990 passou a exigir titulação mínima de doutor para os docentes contratados e avaliação periódica dos docentes nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, independentemente do grau de hierarquia na carreira; o lançamento, em 2003, da primeira agência de inovação brasileira; a criação, em 2004, do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais), destinado a ampliar o número de alunos procedentes de escolas públicas nos cursos de graduação; e, mais recentemente, a implantação do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), que criou 120 novas vagas destinadas aos alunos que mais se destacarem nas escolas públicas; do Programa Professor Especialista Visitante do Exterior, que consiste em trazer profissionais de notório conhecimento em suas áreas de atuação; do Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)2, cujo objetivo é contribuir para o aperfeiçoamento do ensino de graduação; do Centro de Estudos Avançados (CEAv), que discute temas estratégicos para o Brasil e formas de inserção crítica nos debates do contemporâneo; e a criação de grandes laboratórios multidisciplinares.
Outro fator importante é a constante responsabilidade na gestão dos recursos públicos, principalmente após a implantação, em 1989, do regime de autonomia de gestão financeira com vinculação orçamentária, adotado pelo governo estadual nas três universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp). A Unicamp respondeu ao estatuto da autonomia com uma contrapartida que resultou no crescimento de todos os seus indicadores. De lá para cá, o número dos cursos de graduação cresceu 83%, passando de 36 para 66 e o contingente de alunos matriculados aumentou 140%, saltando de 7.280 para 17.650. Já na pós-graduação, o número de alunos teve um incremento de 124%, saindo de 6.466 para 14.532, e metade dos 144 cursos apresenta nível de excelência internacional, melhor resultado obtido por uma universidade brasileira até o momento, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Nesse contexto, merece menção o cuidado que a administração tem tido com os servidores da Unicamp. Nos últimos 12 anos, os salários foram reajustados em 152,52% contra uma inflação de 98,15% (IPC-FIPE). De fato, hoje, o salário real dos servidores da Unicamp é o maior nos últimos 12 anos.
As conquistas alcançadas revelam, portanto, um inequívoco amadurecimento institucional, mas não se pode perder de vista os desafios quanto ao futuro. Enquanto universidade pública, a Unicamp orgulha-se de pertencer ao grupo de instituições cuja atuação resulta em indiscutível contribuição à sociedade, mas sem dúvida numerosas ações são necessárias para incrementar ainda mais a excelência acadêmica e o grau de internacionalização da universidade brasileira.
É fundamental citar que nenhum país conseguiu atingir um ritmo progressivo e sustentável de desenvolvimento econômico e social sem a construção de um sólido sistema universitário. No atual contexto brasileiro, no qual menos de 14% dos jovens na faixa entre 18 e 24 anos estão matriculados num curso de nível superior, reconhecer, valorizar e incentivar o esforço da universidade pública e contribuir para a expansão do ensino superior público e sua diversidade, constituem não apenas um ato de justiça, mas, sobretudo, uma medida estratégica para o desenvolvimento do país.
Fernando F. Costa é reitor da Unicamp.