Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 29 de outubro de 2012 a 04 de novembro de 2012 – ANO 2012 – Nº 544Uma missão na
Pediatria do HC
Pedagoga dedica-se, desde 1998, a ajudar pacientes e seus parentes em enfermaria
Polis, do grego, cidade. Assim se compõem muitos nomes como Cordeirópolis, Divinópolis, Teresópolis. Alguns compostos a partir do nome do fundador, como Junqueirópolis, terra explorada por Álvaro de Oliveira Junqueira. A modesta área de 584,4 quilômetros quadrados, entre o Rio do Peixe e o Rio Feio, em São Paulo, abriga uma população de mais de 17 mil habitantes, e é forte na produção de acerola e a as uvas. Abriga também o coração de Maura Sundfeld Iadorozza Giarola.
Quando tomou a decisão de cursar pedagogia na PUC-Campinas para “ajudar crianças”, Maura não tinha noção exata da área da Unicamp na qual poderia ser um pilar na vida de crianças, mas quis o destino que sua missão fosse cumprida na enfermaria de pediatria do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. A história com Junqueirópolis? Sim, é uma história de amor eterno, que, em algum momento, fez da despedida um episódio triste, mas Maura sabe por que os pés são virados para a frente.
Foi com essa consciência de que a vida chama a caminhar que a pedagoga da Faculdade de Ciências Médicas apresentou-se na Pediatria para uma entrevista de trabalho, em 1998, ainda que tenha precisado da companhia de uma amiga. Meses antes, seu irmão caçula, adotivo, aos 6 anos de idade, havia deixado a enfermaria para “ir viver com o Papai do Céu”, como ela crê.
Naquele momento, Maura se transferia do Centro de Convivência Infantil (Ceci) para outro setor da Unicamp quando, sem entender por que, a área de recursos humanos ligou dizendo que teria uma entrevista na pediatria do hospital. Enquanto esquecia a dor e tentava digerir a “coincidência”, pensava na quantidade de crianças e mães que, finalmente, poderia fazer mais feliz. Até que o toque do telefone lhe prega o susto do “sim”. E lhe dá a resposta: “venha para cá, Maura, que há um mundo precisando de você”.
Ela chama a escolha de propósito divino. E, a cada 20 palavras, quem está diante dela, começa a entender seus motivos para pensar assim. Chega uma mãe a pedir um brinquedo para distrair seu filho, que não pode sair da UTI. Logo, outra está à procura de um DVD para o pequeno paciente de hemodiálise e, quando um adolescente lhe pede filmes juvenis, ela exclama: “Nossa, vocês crescem. Peço doação de artigos infantis e esqueço de meus adolescentes.” Assim segue a conversa, interrompida por alguma necessidade mais urgente. Por outro lado, ao saber que ela está sendo entrevistada, as mães se alegram e pedem para ajeitar os óculos para as fotos, como se quisessem retribuir os cuidados de Maura com elas e suas crianças.
E com os olhos fixos em sua interlocutora, Maura volta a relatar histórias diversas que a mantêm na brinquedoteca, que inibem seu sofrimento totalmente imperceptível, conhecido somente quando se propõe a contar. “Minhas mãezinhas ora estão felizes, ora tristes. Preciso estar bem para ajudá-las. E não é obrigação minha ajudar, mas sim atender. Mas não sei ficar imune diante da necessidade alheia. Muitas são surpreendidas com a internação e não têm a quem pedir roupa. Quando tenho, eu trago; quando não tenho, encaminho-as ao Serviço Social do HC”. O respeito pelas mãezinhas de Maura vai além da atenção hospitalar. O café da manhã delas vem de um endereço especial: a cozinha de sua casa. “Faço e trago. Minhas mãezinhas não podem ficar sem o cafezinho da manhã”, brinca.
Festas e presentes
Na comunidade universitária, Maura ficou conhecida pelas festas de Páscoa, de Natal e também para os pacientes renais da Pediatria. O público sempre varia, pois os pacientes ficam por pouco tempo, a não ser os oito pacientes moradores, que não podem deixar o hospital. Os padrinhos devem prover os presentes de natal (uma roupa, um par de sapatos e um brinquedo). O desejo dela é que as crianças recebam bons presentes e os padrinhos tenham consciência que estão fazendo o papel de Papai Noel de seu “afilhado”.
Em determinado momento da prosa, um misto de esperança e lembrança se descortina no sempre iluminado rosto de Maura. Pede um tempo para sorrir, vibrar e, na sequência, secar os olhos ao ver um berço ser conduzido cuidadosamente por duas enfermeiras, numa linha reta que liga a porta da UTI infantil à porta dos leitos. Era a segunda transferência da UTI para o quarto naquela quarta-feira em que a população pedia chuva, enquanto algumas famílias e Maura clamavam: “cura”. Ao se recompor, cola na retina da interlocutora e revela: “É um acontecimento, para mim, esse trajeto da UTI para o leito porque a tendência é ir do leito para casa. Tento não me envolver, mas esta é a Maura”, festeja, pedindo mais um tempo para secar os olhos.
Maura sempre chamou a atenção dos amigos pela alegria, pela simpatia e pela eloquência, interrompida em alguns momentos por seus amigos da brinquedoteca ou para alguma reflexão. Quase ao final da prosa, um jovem de 20 e poucos anos se aproxima dizendo que a procurou no horário de almoço, mas como não encontrou algumas pessoas que teriam cuidado dele, voltou antes de ir treinar crianças de uma equipe de vôlei. “Tenho de visitar as pessoas que cuidaram de mim”, disse o paciente à Tia Maura. Muitos pequenos, segundo a pedagoga, acordam e vão direto procurá-la. “Eles querem carinho, querem brinquedo. Como profissional, talvez nem pudesse me envolver, mas sou assim. O que fazer?”
A alegria esconde alguns percalços, mas Maura se diz uma mulher de fácil perdão e... Avante, Maura. Fala, sem chorar, de uma infância rica e uma adolescência pobre, mas não menos feliz. A estabilidade econômica, mantida enquanto o pai sustentava a família com o bom salário de professor da década de 1970, foi comprometida com a separação dos pais. Mas, sempre avante, Maura colheu as coisas boas para sua fase adulta: a adolescência ao lado do pai, com quem escolhera ficar, as visitas frequentes da mãe, os presentes e a querida Junqueirópolis, de onde saiu na década de 1980, com “dorzinha” no coração. Saiu para não voltar, para conhecer Campinas, a Unicamp, para se casar com Ronald Giarola, dar à luz a querida Samantha e ser feliz com uma história somente sua.
Conheceu o marido em 1984, em 1985, foi aprovada em concurso da Universidade, ingressando na Diretoria de Recursos Humanos e, em 1986, tornou-se esposa de Ronald. Se tivesse conhecido o hospital antes, talvez Maura fosse assistente social, mas quando se deu conta da importância de ter uma graduação, não conhecia a profissão. Ao tomar conhecimento do currículo de pedagogia, escolheu atuar entre as crianças, mas hoje se vê em dois papéis, pois não consegue parar de ajudar. Antes de ir para a pediatria, atuou com as crianças do antigo Centro de Convivência Infantil (Ceci), hoje Dedic.
Maura sente falta de algumas pessoas importantes no seu crescimento pessoal e profissional e na amenização de suas dores, como o pai e o pastor “Chico”, que, conforme sua crença, “foram morar com Papai do Céu”. Além da força espiritual, pastor Chico era um companheiro nas ações da brinquedoteca, principalmente nas festas de fim de ano. Muitas das atividades da comemoração foram suprimidas pela falta de “Chico” e pela saída de algumas crianças, cujas mães ajudavam na organização. Mas Maura faz questão de dar aos pacientes da pediatria o direito à comemoração de natal.
Comentários
Tia Maura
Essa mulher sempre foi maravilhosa cheia de vida, quando tia no CECI todas as crianças mesmo as que não estavam em sua turma tinham muito carinho por ela.Meu filho hoje com 21 anos até tempos atras, lembrava olha onde a tia Maura mora mãe, pois ele é amigo até hoje do sobrinho que ela tem o Matheus(Mateusão como os amigos o conhecem).Parabéns pela sua escolha e sua dedicação pelas crianças e familias que tanto precisam de seu sorriso e seu carinho
Beijos
Rose(IQ)
reportagem
Maura, boa tarde!
Emocionante seu relato! Eu tambem conheci o Pr Chico, pessoa muito especial. Em que posso ajuda-la? Enviei uma mensagem para Denise(esposa do Chico) gostaria de alguma forma ajudar a suprir esta lacuna!
Abç Eliana(Lia)
Parabéns
Oi Maura
Primeiro gostaria de dar os parabéns pelo belo trabalho que desenvolve junto às crianças no HC e dizer que é um prazer conhecer vc, apesar de fazer um tempo que não nos encontramos. A Bia não esquece de vc qdo ficou com ela no CECI, tem muitas recordações. Abraços e continue sempre essa pessoa maravilhosa.
Parabenização
Gostei muito de ler sobre a sua história. Sou evangélica e estou cursando o 2º ano do curso de Química na Unicamp.
Que Deus continue te abençoando no seu trabalho! É realmente um trabalho muito lindo! Parabéns!!!
Maura Giarola
Tive o privilégio de ser companheira de trabalho, no inicio de sua jornada na UNICAMP. É uma delícia olhar para trás e ver como Maura cresceu profissionalmente e como mulher! Entretanto, sua essência, sua alegria, sua bondade continua a mesma! Saudades de ter alguém assim por perto... Maura é única!!!
PARABENIZANDO
Chorei, como em todos os momentos que estamos juntas. Vc me emociona. Te amo!!!!!
Parabéns querida!
Tanta doçura, tanto carinho, tanta fé, tanta força...
A Maura faz com que cada um que dela se aproxime, pelo motivo que for, se sinta alguém muito especial, amado, valorizado.
Ela é assim, feita de amor...
Parabéns Maura!
Conhecí você fora do HC e do CECI, mas sei bem do seu trabalho e dedicação c/ as crianças. Realmente é uma pessoa humana, alegre e está sempre de bem com a vida.
Fiquei feliz c/ a homenagem, você merece.
Beijos.
Essa Maura ...
A Maura é assim mesmo, essa criatura doce e generosa, exemplo para tantos. Que sorte a do Ronald e ela que se encontraram, pois ambos se merecem, pela alegria e exemplo que dão no contato com as pessoas. E a Unicamp também tem sorte de poder contar com uma funcionária tão rara como ela, pois as mães e as crianças precisam dela! Parabéns pra você, querida!
Olá amiga! Parabéns pela sua
Olá amiga! Parabéns pela sua dedicação! Que Deus nos ilumine sempre nessa nossa missão na pediatria! Aqui não se trata de um emprego apenas. Muito bom trabalhar na pediatria com alguém como você!
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