Edição nº 554

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 18 de março de 2013 a 24 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 554

Estudo identifica atividades antioxidantes na macaúba

Fruto da palmeira é avaliado do ponto de vista nutricional e terapêutico

A forte tendência de aumento no consumo de alimentos funcionais vem levando a comunidade científica a estudar cada vez mais as propriedades bioativas de plantas brasileiras, sobretudo de grandes biomas como a Amazônia e o Cerrado. Entretanto, o fruto da macaúba – palmeira nativa encontrada em extensa área do território nacional – ainda não tinha merecido a devida atenção dos pesquisadores, até que a engenheira de alimentos Priscila Becker Siqueira decidiu avaliar seu potencial para utilização nas indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos. O que já vinha sendo estudado é seu aproveitamento para a produção de biocombustível.

“O fruto da macaúba é característico do Cerrado, mas muito pouco pesquisado do ponto de vista nutricional e terapêutico, apesar do bom potencial científico e tecnológico. Decidimos, então, fazer esta investigação”, conta Priscila, que defendeu em novembro a tese de doutorado envolvendo a “Caracterização bioquímica e compostos bioativos de macaúba (Acrocomia aculeata)”, junto à Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, com a orientação da professora Gabriela Alves Macedo.

Professora da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) em Cuiabá, a autora da tese afirma que a macaúba é abundante em áreas do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e também do território paulista. “A polpa e a amêndoa da fruta podem ser consumidas in natura. Com ela também se faz doce, sorvete ou licor, sendo que algumas comunidades, como as indígenas, produzem farinha da polpa seca e paçoca da amêndoa.”

Segundo Priscila Siqueira, o uso da macaúba como biocombustível vem despertando maior interesse dos pesquisadores devido a sua composição lipídica, já que o fruto é rico em ácido oléico e ácido palmítico. “Já existem plantações com esta finalidade, como no Mato Grosso do Sul, mas ainda em fase de pesquisa, não se iniciou nenhuma produção industrial deste biocombustível. Em relação ao óleo da amêndoa, existem outras potencialidades, como seu uso em cosméticos ou em alimentos; é muito parecido com azeite de oliva e óleo de palma (dendê), sendo usado na culinária doméstica.”

CARACTERIZAÇÃO

A pesquisa da engenheira de alimentos teve duas vertentes. Uma delas foi caracterizar o fruto de macaúba do ponto de vista enzimático, procurando saber quais enzimas estão presentes na polpa e amêndoa e em que quantidades. “Esta caracterização é importante para a produção enzimática industrial, visando alimentos, detergentes ou medicamentos. O fruto é rico, por exemplo, em enzimas oxidativas (polifenoloxidase e peroxidase), que causam escurecimento do alimento se não houver um tratamento prévio para inativá-las”.

Priscila encontrou outras enzimas como lipase, celulase e pectinase, estudando especificamente a lipase no extrato bruto da polpa, por conta da maior atividade e de perspectiva para aplicação tecnológica. “Fiz a caracterização bioquímica desta enzima para conhecer propriedades como temperatura ótima de atividade e estabilidade, pH ótimo e de estabilidade, o efeito de íons e de alguns ativadores e inibidores de atividade enzimática, e sua estabilidade em solventes orgânicos. Também descrevo a possibilidade de aplicação desta lipase em reações de hidrólise e síntese de ésteres.” A outra vertente da tese de doutorado foi investigar a presença de compostos bioativos no fruto de macaúba, visto que outras pesquisas apontaram quantidades importantes de tocoferóis (vitamina E) e de beta-caroteno. “Como essas pesquisas ficaram nisso, pensamos em procurar propriedades antioxidantes e talvez antimicrobianas. E encontramos atividades antioxidantes devido à presença de compostos fenólicos e flavonoides, que somados aos tocoferóis e betacaroteno fazem com que o fruto tenha interessantes características nutricionais.”

EXTRATIVISMO

O primeiro problema a ser vencido para disseminar o consumo do fruto da macaúba, na opinião de Priscila Siqueira, é que sua exploração ainda se dá de forma extrativista. “O coco é duro e a polpa, muito aderida ao endocarpo da amêndoa, precisa ser retirada a faca pelas comunidades locais, num processo demorado. Antes de tudo, seria necessário viabilizar equipamentos para a extração. A Associação de Pescadores Artesanais de Iscas de Miranda, no Pantanal, que recebeu uma despolpadeira desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa, extrai a polpa e a fornece para uma franquia de sorvetes de sabores exóticos.”

Quanto ao sabor da fruta in natura, a pesquisadora afirma que agrada bastante às pessoas que já cresceram em contato com a macaúba. “Quem a experimenta pela primeira vez pode estranhar o sabor marcante e aromático da polpa. Já a castanha, redonda e parecida com a noz pecã, é saborosíssima, uma unanimidade. Acho que a importância do meu estudo está em mostrar que este fruto pode oferecer retorno econômico para a indústria e gerar renda principalmente para as comunidades mais carentes. Há fazendeiros que querem eliminar a macaúba de suas propriedades por considerá-la quase uma praga que não traz qualquer benefício para eles.”

Publicações

Tese:“Caracterização bioquímica e compostos bioativos de macaúba (acrocomia aculeata (jacq.) lodd. ex mart.)”
Autora: Priscila Becker Siqueira
Orientação: Gabriela Alves Macedo
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)