Edição nº 554

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 18 de março de 2013 a 24 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 554

Número de adesões atesta sucesso
do Programa Professor Visitante

Primeiro a chegar à Universidade, engenheiro cubano
passa a integrar quadro do IFGW

O engenheiro nuclear cubano Mario Bernal, primeiro participante do Programa Professor Visitante do Exterior (PPVE) a iniciar suas atividades na Unicamp, acaba de tornar-se também o primeiro a alcançar o objetivo original do mecanismo criado pela Reitoria para ampliar o grau de internacionalização do corpo docente da Universidade. De acordo com as regras do PPVE, as unidades de ensino e pesquisa anfitriãs são obrigadas a abrir concurso público na área de todos os professores visitantes que forem bem avaliados ao longo dos dois anos de duração do programa. Bernal, recebido pelo Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) no fim de janeiro de 2011, teve a oportunidade de concorrer a uma posição permanente na unidade em outubro do ano seguinte – e foi aprovado em primeiro lugar. Ele assumiu o cargo de professor doutor no IFGW no dia 1º, após a homologação do resultado do concurso pelas instâncias superiores da Unicamp.

Desde que Bernal veio para a Unicamp, o número de participantes do PPVE cresceu consideravelmente. “No começo, tínhamos de enviar os currículos que recebíamos em resposta aos anúncios publicados em veículos de divulgação científica às unidades para que elas os avaliassem, mas, com o tempo, as próprias unidades passaram a nos encaminhar currículos de pesquisadores de seu interesse”, informa o pró-reitor de Pesquisa, Ronaldo Pilli, coordenador do programa.

Até o momento, 19 professores já foram admitidos no PPVE, entre estrangeiros e brasileiros com experiência profissional no exterior. Compõem esse número os 12 professores que percorreram o caminho tradicional do programa, passando por todas as etapas do processo de seleção – análise de currículo, visita preliminar à Universidade e submissão de plano de trabalho à Congregação da unidade interessada –, e os sete que fizeram o caminho inverso: já aprovados em concurso, ingressaram no PPVE para poder iniciar suas atividades na Unicamp mais cedo, enquanto aguardam a tramitação em Brasília do processo que leva à concessão do visto de trabalho para estrangeiros.

Dos 12 professores que ingressaram no PPVE pelo caminho tradicional, apenas três não estão mais no programa: Mario Bernal, já no quadro permanente do IFGW; o russo com cidadania britânica Alexandre Alexandrov, que faleceu em agosto de 2012 antes de completar o primeiro ano como professor visitante no mesmo instituto; e o francês François Artiguenave, que retornou ao seu país em outubro desse mesmo ano depois de permanecer por 18 meses na FCM. Um professor ainda está para chegar à Universidade – o russo Artem Lopatin, recrutado pelo Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) – e os oito restantes ainda estão vinculados ao programa, espalhados por cinco unidades de ensino e pesquisa: FCM, Imecc, Faculdade de Tecnologia (FT), Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e Instituto de Geociências (IG).

Entre os sete professores que entraram no PPVE já tendo sido aprovados em concurso, o italiano Roberto Greco foi o primeiro a utilizar o programa para antecipar sua vinda para a Unicamp. Grego chegou ao Instituto de Geociências (IG) em maio de 2012, nove meses depois da realização do concurso, e não demorou a passar para o quadro permanente: em setembro, já estava efetivado no cargo de professor doutor. Os outros seis professores que seguiram o exemplo do italiano continuam vinculados ao programa, lotados em quatro unidades: no IFGW e nos Institutos de Artes (IA), de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e de Química (IQ).

Um dos últimos professores desse grupo a chegar à Unicamp foi o norte-americano Lars Hoefs, aprovado em concurso realizado pelo IA para a área de violoncelo, música de câmara e história da música em março de 2012. “A morosidade gerada pela excessiva documentação necessária para a contratação apontava para a ausência de docente para o curso de violoncelo neste primeiro semestre de 2013, situação já vivida no semestre passado, o que gerou grande descontentamento por parte dos alunos da modalidade”, relata o diretor da unidade, Esdras Rodrigues. “Tínhamos conhecimento do Programa Professor Visitante do Exterior, mas desconhecíamos a possibilidade de sua utilização numa situação como essa. A agilidade, uma vez que conseguimos confirmar a vinda do professor em menos de um mês, e o empenho da Pró-Reitoria de Pesquisa foram determinantes para que garantíssemos a presença do professor já no início do semestre”, completa.

Bastante familiarizado com Brasil, para onde viajava anualmente desde 2004 para participar do festival Rio International Cello Encounters e onde chegou a viver durante todo o ano de 2009 por conta de uma participação especial na Orquestra Sinfônica Brasileira, com sede no Rio de Janeiro, Hoefs diz ter “altas expectativas” com relação ao trabalho que desenvolverá na Unicamp. “Dá para fazer muita coisa boa aqui”, afirma, em bom português. “A área não é tão desenvolvida no Brasil, mas tem potencial. Estou animado para submeter projetos de pesquisa e espero mandar meus alunos para o próximo Cello Encounters.”

O número total de participantes do PPVE pode chegar a 21 nos próximos meses, com o término dos processos de seleção de dois candidatos estrangeiros. Um deles é o ucraniano com cidadania finlandesa Sergiy Kyrylenko, indicado para o programa pelo Instituto de Biologia (IB); o outro, o espanhol Jesús Angulo, indicado pelo IQ. Kyrylenko veio conhecer a Unicamp em fevereiro e Angulo deverá chegar à Universidade para uma visita de dois dias na primeira semana de abril.

‘A Universidade é muito boa’

Meses depois de conhecer o professor Pedro Gonçalves, do IG, em uma conferência na África do Sul sobre educação em geociências, Roberto Greco recebeu dele a informação de que a unidade abriria concurso para professor doutor justamente nessa área. Greco juntou todo o material necessário para a inscrição e enviou-o ao colega brasileiro, mas, quando se aproximou a data do concurso, ficou em dúvida sobre se viria ou não fazer as provas. O motivo da indecisão foi a época em que o concurso seria realizado: meados de agosto de 2011, pouco mais de um mês antes do início da Olimpíada Internacional de Ciências da Terra na cidade de Modena, que Greco, como funcionário do Ministério da Educação italiano, estava encarregado de organizar.

O jovem doutor pela Universidade de Modena e Reggio Emilia acabou vindo prestar o concurso e voltou para a Itália poucos dias depois já sabendo que havia sido aprovado. Preocupado com o que ouvira de conhecidos a respeito do Brasil, Greco viu na opção de permanecer por alguns meses no PPVE uma ótima oportunidade para descobrir como seria a vida no país antes de resolver mudar-se definitivamente para cá.

Foram necessárias algumas idas até o Consulado-Geral do Brasil em Milão para que o italiano finalmente conseguisse o visto temporário que lhe permitiria ingressar no programa. Ele chegou ao Brasil na manhã do dia 16 de maio de 2012 e, poucas horas mais tarde, já estava no Centro de Convenções da Unicamp participando de uma das mesas redondas do Fórum Permanente de Arte e Cultura dedicado ao tema “A Aprendizagem por Livre Escolha e o Papel da Universidade”.

Alguns dias depois de sua chegada, foi supreendido pela notícia de que um grande terremoto havia causado estragos em sua terra natal, a algumas dezenas de quilômetros ao norte de Modena. “Meus pais ficaram assustados e dormiram durante um bom tempo em uma barraca no quintal”, recorda. “Como trabalho com ensino de geociências, preparei uma coletânea de atividades educativas, incluindo algumas que tratam de terremotos, que vai ser impressa na Itália neste mês e distribuída gratuitamente aos professores de ciências da região afetada.”

Afora esse conturbado período inicial, tudo correu bem nos cinco meses em que Greco permaneceu vinculado ao PPVE. “A Universidade é muito boa, tenho um bom relacionamento com as pessoas, o clima é agradável e ainda me surpreendo com as plantas e animais que vejo na natureza”, diz ele, explicando por que decidiu ficar na Unicamp e assumir a posição para a qual foi aprovado em concurso.

Greco acabou de assumir uma das disciplinas do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) e diz-se impressionado com o alto nível dos alunos da turma de 2013. Entre seus principais projetos para o futuro está a organização da primeira olimpíada nacional de geociências a partir da experiência já acumulada pela Unicamp na montagem de competições similares nas áreas de história e informática. Ele pretende, ainda, dedicar-se com afinco ao estudo do português, idioma no qual vem se aperfeiçoando com a ajuda de amigos interessados em aprender, em troca, o italiano. “Na minha atividade de pesquisa, trabalhando com professores, com escolas, é preciso falar muito bem e saber escrever bons projetos“, justifica.

‘A sensação foi de alívio’

Em seu último dia como professor visitante, Mario Bernal recebeu do IFGW um carimbo com seu nome e uma placa de identificação para pendurar na porta de sua sala no prédio do Departamento de Física Aplicada (DFA). Os dois objetos, sobre os quais Bernal fala com orgulho, simbolizam a concretização de um sonho antigo do professor. “A sensação foi de alívio”, diz ele, descrevendo o que sentiu ao entrar no IFGW pela primeira vez na condição de professor concursado. “A estabilidade é muito importante, tanto profissionalmente como para a família.”

Desde que saiu de Cuba em 2000 para seguir um programa de mestrado em física médica na Venezuela financiado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e direcionado exclusivamente a alunos da América Latina, Bernal vinha tentando estabelecer-se de forma definitiva no exterior. “Sou daqueles imigrantes que nunca pensaram em voltar”, afirma.

Embora o programa de mestrado previsse o retorno dos alunos aos seus países de origem no momento de escrever a dissertação final, Bernal decidiu permanecer na Venezuela. Depois de defender o mestrado, doutorou-se pela Universidade Simón Bolívar e tornou-se professor dessa instituição. Ao todo, foram dez anos no país, de onde decidiu sair em razão de seu descontentamento com os baixos salários pagos aos jovens professores universitários e da falta de perspectivas de melhorar de vida.

Graças a contatos estabelecidos com um professor brasileiro dos tempos do mestrado, Bernal conseguiu uma bolsa de um ano, sem possibilidade de prorrogação, para atuar como pesquisador visitante na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O futuro era totalmente incerto, mas, mesmo assim, o cubano recebeu com entusiasmo a notícia e seguiu para o Rio com a esposa e o filho venezuelanos em janeiro de 2010.

O professor soube do PPVE por meio de um anúncio publicado no site da American Physical Society. Aprovado no processo de seleção, conseguiu encadear o encerramento da bolsa no Rio com o início das atividades na Unicamp, estendendo por mais dois anos o tempo de permanência da família no Brasil.

No primeiro semestre de 2012, já com o segundo filho nascido em Campinas, Bernal passou em primeiro lugar em concurso para professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A greve nas federais, porém, não permitiu que ele assumisse o cargo de imediato e deu-lhe tempo para prestar o concurso do IFGW.

A decisão de permanecer na Unicamp foi tomada com base em fatores profissionais, como a familiaridade com o ambiente da Universidade e o acesso a boas fontes de financiamento para pesquisa, e também pessoais, como a qualidade de vida em Campinas. Antes de assumir, Bernal ainda recebeu um convite para trabalhar na respeitada Universidade McGill, do Canadá, mas preferiu continuar na Unicamp.

Do ponto de vista da rotina diária, o professor acredita que pouca coisa vá mudar agora que é concursado. “Eu já recebia a carga didática normal de qualquer docente do IFGW”, explica. Por outro lado, ele terá a segurança necessária para assumir a orientação de alunos de pós-graduação e investir de forma consistente os recursos que já recebeu da Fapesp para seu projeto de pesquisa. Bernal não tem planos de sair da Unicamp. “Quero trabalhar, produzir pesquisa com o maior impacto possível e progredir na carreira universitária”, diz. “Minha próxima meta é fazer concurso de livre docência e tornar-me professor associado.”

Comentários

Comentário: 

Parabéns pela reportagem e congratulaçõoes à Unicamp. O programa é inteiramente maravilhoso não só para a universidade, mas para toda a sociedade brasileira.