Edição nº 578

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Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 07 de outubro de 2013 a 13 de outubro de 2013 – ANO 2013 – Nº 578

Fábio, da Ponte Preta ao Mexa-se

Torcedor fanático, fisioterapeuta foi um dos criadores de programa para funcionários

– A desculpa do fiel torcedor é estar com o clube do coração na vitória ou na derrota. Sofrer é o verbo quando a admiração, em fase próspera, torna-se amor eterno e, depois de algumas décadas, o time se equilibra na corda bamba.  É este o verbo aplicado pelo fisioterapeuta Fábio Martins, do Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) da Unicamp, quando declara seu amor pela Ponte Preta.

– Hoje eu sofro. Dérbi, então, não consigo assistir. Nasci em 13 de outubro, dia do fisioterapeuta. Dia também em que a Ponte Preta perdeu a final para o Corinthians, em 1977. Sempre há uma explicação para a paixão futebolística, e a de Fábio começou em tempos áureos da alvinegra, na classificação para a final do Paulistão contra o Corinthians, em 1977. Tempos áureos, porém, com resultado triste, facilitado, dizem, pelo centroavante Ruy Rei, da Ponte, naquele 13 de outubro, que foi expulso no início da partida vencida pelo time paulistano. 

Também, o pai, José Martins Filho, ex-reitor da Unicamp, tinha de escolher justamente a “porta” do estádio para fixar residência, em 1967, ao ser aprovado no concurso para a Faculdade de Medicina de Campinas?

– Rua José Marchetti. Nasci na rua do estádio, em 1968.

Fábio cresceu de olhos bem abertos para a movimentação da torcida e da vizinhança que, se não falha a memória, era quase 100% “Ponte Preta sempre, sempre, na derrota ou na vitória”. O jeito era vestir a camisa e convencer o pai, chegado de Santos, litoral paulista, torcedor da Portuguesa Santista, a levá-lo ao jogo da final. Seria somente uma partida de futebol, mas se tornou uma data inesquecível.

– Era meu aniversário de 9 anos, então pedi de presente que me levasse à partida em que a Ponte poderia ser campeã. “Não pude comparecer, ainda bem.” Aprendi ali que seria difícil, porém, para sempre.

Depois desse indesejado resultado, Ruy Rei seguiu em frente, e Dulcídio Wanderley Boschilla, o juiz que o expulsou, passou a ser o terror do torcedor pontepretano. A cada atuação sua em torno na “Nega Veia”, como ainda chamam alguns torcedores, o clima era de apreensão. 

Da Ponte Preta, ele lembra de tudo, inclusive de usar as cores do time na decoração da casa. Paredes e objetos denunciam a adoração, mas quem quer esconder mesmo? Tanto não esconde, que já aceitou ser fonte para matérias jornalísticas em momentos importantes do time.

E pontepretano declarado não pode atuar no campo como fisioterapeuta, na opinião de Fábio.

– Até pode, mas se conseguir evitar envolvimento emocional quando, por exemplo, tiver de dizer ao atleta que ele vai demorar a jogar novamente.

 

Cuidando de atletas

E Fábio conhece de perto essa experiência, pois, além de fazer parte do conselho administrativo do clube durante um período, atuou como fisioterapeuta, tratando inclusive vários atletas em sua clínica, na maioria das vezes sem receber nada por isso. Viu de perto o melhor em campo ter de ser substituído em partida importante. Mas, para os veneradores, o nome da Macaca será “uma glória, sempre, sempre, na derrota ou na vitória”. 

Venerar é pouco. No espaço gourmet de sua casa, onde costuma elaborar e experimentar cardápios variados para receber família e amigos, a TV transmite apenas dois canais de esporte. Um deles, claro, especial para a Macaca. 

– Nem adianta alguém querer assistir outra coisa, não conseguirá. É meu momento.

Até porque o esporte foi introduzido em sua vida na infância. Ou melhor, na primeira infância.

– Há foto de meu pai comigo, ainda bebê em 1968, no terreno onde hoje é a Faculdade de Educação Física (FEF), onde começou minha paixão pela educação física. Meu pai sempre nos incentivou a buscar qualidade de vida e atividades físicas, e trago isso para a vida de meus filhos desde pequenos. Tive uma infância que as crianças de hoje não têm, de fazer o próprio brinquedo, brincar na rua, subir em árvores, comer produtos naturais, nadar sem aula.

O hábito acabou virando compromisso. Fábio foi treinar futebol ainda criança. Adivinhem onde?

– Comecei brincando. Quando vi, estava conquistando campeonato paulista de futebol de salão pelo Tênis Clube, inclusive fui convocado para a seleção.  Depois atuei na equipe de juniores da Ponte Preta. Mas também joguei pelo Guarani, na equipe profissional. Mais tarde, fui para Portugal e acabei voltando para o futebol de campo lá.

Com pai e tio a incentivar, que menino fugiria do destino? Fábio nunca teve tempo de questionar se era bom ou ruim. Único homenzinho na família, era levado também pelo tio, diretor da Portuguesa Santista por muito tempo. Sem filhos, fez questão de ensinar ao sobrinho como é dominar aquele objeto tão cobiçado pela maioria dos garotos.

Mas a prática de esportes tinha de ser aliada à dedicação aos cadernos e aos livros, o que para Fábio não era problema. A irmã acaba de ser campeã de hipismo em Denver.

– Quando queria brincar, meu pai autorizava, mas deixava claro: “Na quinta-feira, vou perguntar o que entenderam do livro”.  

Kri, Chokito, Prestígio e outros chocolates à mesa, e o pai perguntava:

– Querem comer isto? Mas antes tem esse prato de legumes para consumir.

Estes recados nunca abandonaram a vida de Fábio, que relembra com carinho as cenas.

– Agradeço muito. Sempre li muito e, quando quis estudar fisioterapia, passei com tranquilidade no vestibular.

Da história do pediatra e da psicóloga, ele não perde nem o silêncio da pausa. 

– Minha mãe é do Recife, estudou psicologia. Meu pai nasceu em Santos. Casaram-se em 30 de dezembro de 1967 e, logo em seguida, ele soube que teria uma Faculdade de Medicina em Campinas e prestou concurso. Foi morar justamente naquela casa, na frente do Moisés Lucarelli. Mas os militares chegaram ao poder, e tivemos de mudar para a Europa. Passamos dois anos fora. Assim que voltamos, comecei a frequentar o estádio. 

Apaixonou-se pela fisioterapia ortopédica ao observar o profissional que lhe oferecia tratamento para uma lesão no joelho. Depois, decidiu fazer educação física, com foco em medicina esportiva, e especializou-se em reeducação postural global (RPG) no método original francês, com o criador Phillippe Souchard. 

Hoje, além da dedicação aos pacientes da Unicamp, para não se distanciar da paixão esportiva, forma fisioterapeutas e educadores físicos em uma universidade. 

O acúmulo de atividades não incomoda, pelo contrário, Fábio quer contagiar as pessoas a sua volta, principalmente para participar do projeto “Mexa-se”, de que faz parte ao lado de muitos profissionais da Universidade. O prazer de ver a paciente, que chega quase descrente, dar seus primeiros e tímidos passos e ficar na ponta do pé é indescritível, segundo o fisioterapeuta. 

Algumas pessoas devem se lembrar do período de reabilitação de uma funcionária que vinha para a Universidade com o auxílio de um andador. Hoje, ao vê-la caminhando sem ajuda, saibam: Fábio fazia parte da equipe. 

– Sou um dos “fundadores” do Mexa-se. Tentamos introduzir atividade física para servidores, docentes e alunos. Eles são multiplicadores. Começamos com grupos terapêuticos. Percebi que as pessoas vinham do mesmo lugar, se queixando das mesmas dores, então, não percebemos que o problema eram as pessoas, mas sim o lugar. Então, a equipe começou a atuar na área de ergonomia, fazendo trabalho de profilaxia e ginástica laboral. Isso evita muitos males, inclusive a necessidade de cirurgia. 

Na Unicamp desde 1997, Fábio sente-se honrado por trabalhar em uma instituição (e uma equipe) que se preocupa com a saúde de seus colaboradores. E facilita o acesso à qualidade de vida. 

– Todo mundo pode fazer.  Não existe roupa especial, cobrança. Oferecemos alongamento, dança de salão, passeio ciclístico, grupos de hipertensão e obesidade, com equipe multidisciplinar. 

Ser fisioterapeuta também tem as gratificações, segundo Fábio.

– É o profissional que mais recebe ovo de páscoa. O contato com o paciente é quase diário, semanal, enquanto em outras áreas, o retorno demora de 30 a 90 dias. Isso propicia a amizade entre os profissionais e os pacientes. Fui a casamento de pacientes. Sou padrinho de filha de paciente. Essa gratidão deles não tem preço.

E não é somente de sua crescente rede de amigos que Fábio se orgulha:

– Quando fazemos laboral não estamos somente realizando trabalho de promoção à saúde, mas oferecendo uma atividade social. Bastam algumas aulas para que eles comessem a convidar um ao outro para festas e alguns eventos. E sempre mostro isso como exemplo no ambiente de trabalho. Sempre pergunto às pessoas se elas se relacionam fora daqui, ou se conhecem a família do outro, a data de aniversário da esposa do outro. O trabalho do fisioterapeuta acaba sendo abrangente e a fisioterapia ortopédica me proporciona retorno rápido também.

Ao ver o índice de tabagismo e alcoolismo despencar na Unicamp, Fábio comemora o sucesso do Programa Viva Mais. 

– Vejo diminuir o tabagismo. Diminuir o sedentarismo. E constato que depois de dez anos a saúde do colaborador está melhor. Nossa, fiquei chocado ao ver como as pessoas engordaram com a introdução da informática na Universidade. Esses programas têm sido muito benéficos para as pessoas.  E quanto mais a empresa economiza em programas de qualidade de vida, mais gasta para remediar. Posso mensurar pelo menos 500 pessoas que evitaram cirurgias e ainda colocaram a família para andar.

E acentua:

– Hoje, é possível fazer exercício sem gastar dinheiro e sem precisar de uma terceira coisa. Pode fazer de forma natural. E sem sofrer.

Até porque sofrer com prazer só mesmo pelo estandarte preto e branco, o qual o filho mais novo, de 9 anos, Felipe, já aprendeu a admirar, apesar de Fábio ter se esforçado desde o encontro na maternidade para ter dois “pontepretaninhos” em casa.

– Fiz a carteirinha de sócio-torcedor deles antes de fazer a certidão de nascimento. É brincadeira, mas só não fiz porque precisava da certidão – brinca, assim como faz com cada paciente que entra na sala para se despedir. Afinal, participa da vida dos pacientes também em momentos bem distintos: na derrota (quando chegam) e na vitória (quando saem curados).

Comentários

Comentário: 

Fábio, parabéns pela matéria e pelas conquistas! Continue passando os seus ensinamentos da vida. Hoje, estou fazendo com o Fábio, acompanhamento para reabilitação de uma luxação no cotovelo, onde tem me motivado muito há não desistir e que logo voltarei a jogar. Sendo pontepretano até jogou no Guarani!!!rsrs... Um abraço.

Comentário: 

Muito boa reportagem , com um profissional sério e apaixonado peço que faz !!!
Parabéns !!!

silvana_r.o@ig.com.br

Comentário: 

Parabéns pela matéria, Fábio! Sei o quanto ama sua profissão e o seu time do coração... Continue na batalha pela saúde, pois ela vale a pena, não é? um beijo.

Comentário: 

Parabéns por sua entrevista e pelo destaque como profissional; ... mais do que merecido!
Otimismo + Persistência + Qualidade de Vida + Paciência....= A SER FELIZ (Lembra ??)
Motivação + Exigência + Profissionalismo + Aceleração + Competência... = Dr. Fábio Martins
( rsrsrs...brincadeirinha hein )!
Mais você é realmente um grande profissional e uma excelente pessoa; te desejo muito sucesso !!!
Um grande abraço
Cris

Comentário: 

Muito bom te ver nesta matéria, você merece todos os elogios pois é muito coração em tudo que faz e como trata as pessoas. Estou aposentada mas sempre lembro de você nas orientações de alongamento quando dizia pra gente observar os bichos quando acordam e se esticam o dorso e as patas antes de começar o seu dia.
Um grande abraço

Comentário: 

Fá,parabéns pela matéria!!Sempre com garra, determinação e muita disciplina. Você merece todo sucesso do mundo, sempre, pela sua dedicação, digo tudo isso de coração! Bjosss

karenfranchi@hotmail.com