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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 09 de dezembro de 2013 a 15 de dezembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 586Editora da Unicamp relança obras clássicas em e-books
Além das reedições, outras duas coleções estão sendo preparadas para o ano que vemEditora da Unicamp entrará no ramo dos e-books a partir do ano que vem, lançando versões digitais dos livros de uma coleção de reedições de obras clássicas das Humanidades publicadas originalmente pela casa editorial da Universidade na década de 90. “Vamos começar a publicação dos e-books com esses clássicos, que são textos procurados universalmente”, disse ao Jornal da Unicamp o diretor-executivo da editora, Eduardo Guimarães. “Queremos começar por uma coisa altamente representativa e que vai servir muito a qualquer tipo de leitor que esteja interessado nesses aspectos do pensamento”. A coleção já conta com alguns títulos publicados neste ano, como o “Ensaio Sobre a Pintura”, do iluminista francês Denis Diderot.
O formato a ser adotado pelos e-books da Unicamp ainda está em análise, mas segundo Guimarães a tendência é de que todos os principais formatos comerciais venham a ser contemplados, para garantir que os livros estejam presentes nas grandes livrarias virtuais e nas principais ferramentas de busca. “Porque as companhias que operam com e-books têm uma potência no mercado enorme”, explica o diretor, que assumiu, em maio deste ano, o comando da editora pela segunda vez. Sua passagem anterior se deu nos anos 80 e 90.
“Não posso fazer uma seção de e-book aqui no meu servidor, não vai adiantar”, ponderou. “Tenho que fazer com empresas do ramo: porque, se a pessoa escreveu lá, ‘Morelly’, e esse livro estiver lá, ele vai aparecer”, disse, numa referência a outro título da coleção de clássicos, “Código da Natureza”, de Étienne-Gabriel Morelly.
A linha de e-books não deverá se restringir à coleção de clássicos – “os contratos novos da editora já estão sendo feitos com a permissão da utilização em e-book”, explicou o diretor – e também abarcará a reedição, em formato digital, de obras de autores contemporâneos já publicadas anteriormente em papel pela Unicamp.
“Vamos começar pelos clássicos porque acho que isso marca um gesto importante”, disse Guimarães. “Mas depois vamos começar a generalizar. E aí várias coisas são interessantes. Por exemplo, temos manuais das áreas de ciências exatas e de engenharia, que são livros extremamente bem vendidos em papel, e os alunos dessas áreas são muito afeitos ao manuseio desses formatos eletrônicos. A ideia, então, é levar os e-books mesmo aos livros atuais das áreas técnicas”.
A questão do uso de recursos interativos nesse tipo de edição, por exemplo, para a correção automática de exercícios em livros-texto, está no horizonte, mas a adoção dessas formas mais sofisticadas de publicação digital não deve ocorrer no curto prazo. “Se a gente for trabalhar isso, uma coisa que teremos de fazer é voltar aos autores e conversar com eles”, explicou o diretor.
“A ideia, se pensamos a médio e longo prazo, muito possivelmente será isso: todo livro que sair em papel deve ter uma versão em e-book. E ter um preço correspondente. Sem nenhuma mágica: se o papel custa X, a edição em e-book custa X-Y”, disse Guimarães. “E não é porque estamos dando desconto, é porque não tem o papel, não tem impressão, tem uma série de elementos da produção que, em princípio, vão fazer o livro mais barato”.
A Editora da Unicamp também prepara uma estratégia de ação em redes sociais, e é parceira da Unesp na implementação de sua livraria virtual. “A internet não é o nosso canal principal de venda, mas estamos tentando aumentar isso. Temos um mecanismo de venda virtual, nosso, mas estamos entrando junto com a Unesp num projeto de livraria online. E aí não é só uma livraria dos nossos livros, são os livros de todo mundo, como uma livraria comum”. Este novo meio de vendas pode estar online ainda neste ano.
Autores nacionais
A visão de Guimarães para a editora também contempla o que ele chama de construção de autorias nacionais na área de Humanas. “Nós temos, nas editoras privadas, grandes autores brasileiros, e temos isso também nas editoras universitárias, mas eu gostaria que a gente tivesse um peso maior nesse cotejo com as editoras privadas, nessa capacidade de trazer para cá esses autores”, disse ele.
“Uma editora universitária precisa ficar na história dela mesma como uma editora que foi capaz de publicar não só os clássicos, no sentido daquilo que já está na história, mas de fazer com que, no momento presente, se produza um novo clássico”, afirmou. “Alguém que, daqui a algum tempo, vai ser lembrado como um clássico no domínio dele. E que teve sua primeira edição pela Editora da Unicamp”.
O diretor lembra que a Unicamp já publicou autores que ficaram como marcos em suas áreas. “Mas quero ver o aumento disso”, disse. “O que significa, às vezes, dar atenção a autores que a gente já publicou e que você precisa reiterar – ou seja, publicar outras coisas desse mesmo autor. Porque a construção do autor se faz pelo fato de que a obra dele vai se mantendo presente para todo mundo. Às vezes é importante insistir em publicar outras coisas de certos autores, para que o seu gesto de editor construa a história deles”. Ele disse que não tem um nome específico em mente. “Nós temos muitos desses autores que estão aí. Em muitas coleções nossas, há gente que já está sendo publicada. Então, temos que ir trabalhando essa questão, transformando isso e, ao mesmo tempo, tentando captar outros nomes que ainda não se apresentaram para a editora”.
Ele acredita que as principais editoras universitárias brasileiras, entre as quais a da Unicamp, têm de se lembrar de que algumas das mais importantes editoras do mundo são ligadas a universidades. “Entre as grandes do mundo estão editoras como a de Cambridge, a de Oxford, que são padrão de ação editorial. Claro, eles têm 400, 300 anos, nós só temos 30, 40 anos, mas é preciso pensar com essa perspectiva”.
Guimarães vê ainda a necessidade de reforçar o catálogo da Editora da Unicamp em algumas áreas específicas das Humanidades, citando especialmente as de estudos da linguagem e antropologia, mas não contempla a possibilidade de publicar ficção nacional tão cedo, ao menos não fora do contexto paradidático.
“Esse é um universo difícil”, disse. “Entrar na literatura de modo geral é complicado, porque isso exige uma estrutura muito diferenciada. Porque aí tem que jogar, fazer valer uma questão de volume, de quantidade. Você não pode publicar um autor sozinho, isso é o mesmo que matar o autor”. Ele lembra que, em sua passagem anterior pela Editora da Unicamp, chegou a publicar livros de poesia. “Publiquei uma coleção de poesia, de poetas brasileiros, inclusive a Editora da Unicamp foi a primeira a publicar o Zuca Sardan. Recentemente ele foi publicado e isso foi tratado pela mídia, por uma forma de esquecimento, como a primeira publicação dele”.
Coleções
Além da coleção de reedições de clássicos das Humanidades, que já está sendo lançada e que, a partir do ano que vem, dará origem à primeira série de e-books da Editora da Unicamp, outras duas estão em preparação: uma de textos literários clássicos em edição bilíngue português/espanhol, com trabalhos de autores como Machado de Assis e Cervantes, e a Biblioteca Latina, organizada por especialistas de seis universidades – além da Unicamp, há a participação de pesquisadores da USP, UFES, Unesp, UFMG e UFPR.
Essa coleção apresentará, em volumes temáticos (19 já estão planejados) – alguns títulos previstos incluem Poesia Épica, Fábula, Tragédia – a literatura latina clássica. Os livros trarão antologias de textos clássicos, em edição bilíngue português/latim, além de um estudo do tema e comentários. O objetivo é que o conteúdo da coleção seja acessível ao estudante do ensino médio.
“A divulgação científica nas humanidades é menos comum que em outras áreas, e a ideia é a gente trabalhar com isso”, disse Guimarães, sobre a Biblioteca Latina. “Trata-se de uma certa tradição clássica, muito importante, mas o conhecimento a respeito às vezes chega de uma maneira muito esparsa e pouco razoável para as pessoas. A ideia é fazer isso chegar de uma maneira mais trabalhada e mais razoável, ou seja, mais fidedigna, de um pensamento menos afetado por distorções e erros grosseiros”.
O objetivo da iniciativa, segundo ele, é produzir obras que não apresentam um conhecimento novo, mas o conhecimento já estabelecido, só que com originalidade e de modo capaz de interessar o jovem. “Esperamos poder levar esse tipo de iniciativa para outras áreas. Mas aí vamos ver se a gente é capaz. Porque há o problema: seremos capazes de, além de fazer o livro, de fazê-lo circular?”
A internet é uma aposta nesse sentido. “Na nova direção da editora, na questão de para onde ir agora, é preciso pensar nisso: em como está o mundo do livro hoje. A internet não é um adversário. Entrar nessa de que a internet é o adversário é uma bobagem. Aí é que você vai fechar a sua capacidade de trabalho. É o contrário: a internet é um novo caminho, que se soma aos já existentes”.