Edição nº 651

Nesta Edição

1
2
3
4
5
6
8
9
10
11
12

Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 04 de abril de 2016 a 10 de abril de 2016 – ANO 2016 – Nº 651

Unicamp pede que MEC mantenha regras do Pibid


A Pró-Reitoria de Graduação (PRG) da Unicamp enviou ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, uma moção pelo cumprimento do que está disposto nos dois últimos editais do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e a revogação da ordem de cancelamento das bolsas de mais de 24 meses concedidas a alunos de licenciatura. “Quando este problema chegou ao nosso conhecimento, nos articulamos junto ao Fórum de Graduação do Cruesp [Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas] para que Unicamp, USP e Unesp se manifestassem sobre a importância do Pibid para as três instituições, em ofícios endereçados diretamente ao ministro. Não pedimos nada de excepcional, se não a manutenção dos editais com prazo de vigência de 2013 a 2018”, afirmou o professor Luís Alberto Magna, pró-reitor de Graduação.

A Unicamp começou a participar do Pibid no edital de 2009, seguindo a meta original de melhorar a formação dos professores que atuarão na rede de educação básica. Atualmente, grupos de diferentes áreas do conhecimento participam de 16 subprojetos envolvendo os 23 cursos de licenciatura oferecidos pela Universidade. A estrutura traz um coordenador institucional, dois coordenadores de gestão de processos educacionais, 20 coordenadores de área (docentes da Universidade), 32 supervisores (professores da educação básica), 179 bolsistas de iniciação à docência, 28 escolas públicas e 6.093 alunos atendidos (dados parciais de 2015). Até março deste ano, 436 bolsistas participaram do Pibid/Unicamp, que se desenvolve no âmbito da Comissão Permanente de Formação de Professores (CPFP), órgão subordinado à Comissão Central de Graduação (CCG) e, consequentemente, à PRG. Um blog traz um histórico do programa: https://pibidhistoriaunicamp.wordpress.com/

Guilherme do Val Toledo Prado, professor da Faculdade de Educação (FE) e coordenador institucional do programa, explica que os coordenadores de área são professores dos diferentes cursos de licenciatura que atuam diretamente com os licenciandos e as escolas, enquanto os supervisores das escolas trabalham com os bolsistas no desenvolvimento dos projetos que contemplam os alunos. “Há um acompanhamento constante das atividades através de reuniões nas escolas e na Universidade. Nosso projeto foi constituído para 240 bolsistas, mas desde 2014 tivemos uma redução grande no quadro, porque fomos impedidos de repor as vagas de muitos que saíram.”

Segundo a professora Elaine Prodócimo, coordenadora de gestão, os cortes orçamentários feitos pelo governo federal devido à crise econômica atingiram a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e, consequentemente, o Pibid. “Houve um movimento muito grande das instituições de ensino superior para que o programa não se extinguisse ou perdesse a sua proposta original, que é de melhoria da formação dos futuros docentes. Neste processo de redução de custos, a Capes impediu que os bolsistas formados, que no nosso caso são automaticamente afastados, fossem substituídos por outros – não foi por falta de demanda.”

Guilherme Prado acrescenta que a ação incisiva da Capes de cortar os bolsistas de projetos com mais de 24 meses de duração, anunciada pela Diretoria de Educação Básica (DEB), foi o que gerou um movimento nacional a partir do Fórum dos Coordenadores Institucionais do Pibid (Forbipid). “Com esta mobilização, que teve apoio tanto no âmbito das universidades (federais, estaduais e comunitárias) como de entidades como a Associação de Pesquisa em Educação, vieram audiências públicas na Câmara e no Senado, e negociações com o MEC e a Capes. Felizmente, conseguimos suspender a ação, com a manutenção de bolsas que seriam cortadas. Agora, estamos na expectativa da abertura do sistema para que possamos fazer a inserção de novos alunos.”

Equívoco

O coordenador institucional do Pibid/Unicamp ressalta que o programa veio potencializar ações de formação visando o trabalho na escola pública, mas que agora o governo tenta, de certa maneira, mudar o foco para a melhoria da qualidade da escola. “Melhorar o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado para medir fluxo escolar e médias de desempenho] implica trabalho de muito longo prazo, que este programa tinha a perspectiva de construir, pois foi pensado para quatro anos. Tanto que se tornou uma política pública, estando vinculado à LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e às metas do Plano Nacional de Educação até 2024. É preciso deixar esse ponto claro, porque a comunidade, muitas vezes, associa o Pibid à melhoria da qualidade da escola; a proposição é de melhorar a formação e, com este aprimoramento, gerar uma nova qualidade a partir da entrada desses sujeitos no campo de trabalho.”

O pró-reitor Luís Magna faz uma comparação do Pibid com o programa iniciação científica, uma tradição na Unicamp desde a criação da instituição, havendo no âmbito do CNPq o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). “O Pibic visa permitir que os alunos das diferentes ciências sejam iniciados nas práticas correspondentes à sua formação profissional. O Pibid visa o mesmo, a iniciação à docência. Vemos o programa como um laboratório de licenciatura, em que os alunos têm a mesma oportunidade ímpar oferecida aos bacharéis das ciências tradicionais.”

Ainda sobre esta tentativa por parte do governo de mudança de concepção do Pibid, Elaine Prodócimo lembra que o edital em vigor já tem dois anos e estão previstos mais dois anos, na perspectiva original de formação docente. “Outra ação proposta pela Capes, juntamente com a de retirada de alunos com mais de 24 meses de bolsa, era a suspensão deste edital e abertura de um novo, transformando o ponto central, a melhoria da formação de professores, em melhoria do Ideb da escola. Isso também motivou um movimento dos coordenadores das instituições de ensino junto ao MEC e à Capes, que recuaram da ideia, mantendo o edital anterior.”

Imersão

A professora Eliana Ayoub, também coordenadora de gestão, afirma que o corte de bolsas que começou em meados do ano passado causou forte impacto no programa, que teve 3.000 inscritos quando da sua criação em 2008 e hoje alcança mais de 90 mil bolsistas em universidades federais, estaduais, municipais, comunitárias e inclusive privadas. “O Pibid tem como marca importante o tripé formado pelo coordenador na universidade, o supervisor na escola e o bolsista, numa articulação que promove uma aproximação muito grande da instituição de ensino superior com a unidade de educação básica. Os bolsistas são escolhidos por meio de editais, com muito critério, contando com todo o apoio institucional através de outros órgãos da Pró-Reitoria de Graduação.”

Outro aspecto importante, na opinião de Eliana Ayoub, é o tripé ensino, pesquisa e extensão, o que já viabilizou a publicação de quatro livros da coleção “Formação Docente em Diálogo”, sendo que mais dois volumes estão no prelo. As publicações, acrescenta a professora, permitem uma relação ainda mais afinada entre universidade e escola, além de trazer novos elementos para aprimorar a formação docente na Unicamp. “São seis livros com diferentes artigos produzidos pelos atores do Pibid e por orientandos de pós-graduação. É bom esclarecer que não vamos à escola para aplicar metodologias nossas. Usamos muito a palavra ‘com’, na perspectiva de um trabalho feito com a escola. E é inevitável um paralelo com o estágio supervisionado dos cursos de licenciatura, com a diferença de que no Pibid esta permanência nas escolas é mais longa e construída de forma partilhada.”

Nesse ponto, Elaine Prodócimo acrescenta que há um processo de imersão do bolsista na escola, diferentemente do que ocorre no estágio supervisionado. “Os depoimentos dos alunos mostram que eles não são vistos como estagiários, ou seja, como alguém que vai até a escola, observa e volta, não fazendo parte dela. Já os bolsistas ID são recebidos de maneira diferente e se sentem parte daquele contexto, conhecendo a estrutura e os bastidores da escola, incorporando-se ao cotidiano por mais variadas que sejam suas práticas junto às crianças, e refletindo sobre a prática docente.” 

Guilherme Prado explica, finalmente, que todos os subprojetos são pensados e construídos com base no diálogo entre estudantes, coordenadores da universidade e supervisores das escolas. “As atividades são propostas em função das demandas da escola e do que os bolsistas têm condições de proporcionar neste tempo de formação, cada um dentro da sua especificidade (música, química, letras, ciências sociais), mas com participação aberta a alunos de outras áreas. É um trabalho entre áreas, característica que o Pibid da Unicamp sempre quis fomentar.”