A
natureza descritiva da pesquisa e os diferenciais
regionais não permitiram, obviamente,
definir em que parte do Brasil as mulheres
adoecem mais. Afinal, a base dos estudos no
campo da morbidade foram os registros de internações
hospitalares femininas pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), que está longe
de ter uma padronização de qualidade
e alcance em todo o território nacional.
Essa limitação, entretanto,
não impediu que se visualizasse o Sudeste
como recordista em internações
de mulheres. A região contribui com
a maior proporção (38%) do total
das 6,4 milhões de hospitalizações
via rede pública de saúde que
fechou o ano de 1996.
Nota-se,
nessa parte do trabalho, um avanço
temporal em relação ao período
fechado para a análise geral do livro.
É que, quando as pesquisadoras do Nepo
e seus parceiros no estudo multicêntrico
partiram para a avaliação da
morbidade feminina no Brasil, constaram ser
possível avançar em pelo menos
um ano quanto ao grau de atualidade dos dados.
Isso, porque as informações
disponíveis mais recentes, obtidas
junto ao SUS, remetiam-se exatamente a 1996.
Nesse
ranking de internações hospitalares
femininas, a região nordeste apareceu
em segundo lugar, com 32%. O sul registrou
16%. A menor proporção de mulheres
hospitalizadas no sistema público foi
detectada nas regiões norte e centro-oeste,
com um percentual de apenas 7%.
Em
termos de tipificação das enfermidades,
foi possível observar que, para mulheres
a partir dos dez anos de idade no Brasil e
nas grandes regiões, foi o trinômio
complicações da gravidez, do
parto e do puerpério que respondeu
pelo maior peso relativo das internações
hospitalares.
Ainda
dentro do capítulo complicações
da gravidez, do parto e do puerpério,
as cesarianas representaram 15% do total de
internações hospitalares no
País, concentrando-se nas idades de
30 a 34 anos, faixa etária na qual
o índice ultrapassou a casa dos 18%.
As
internações por aborto no Brasil
equivaleram a 8% do total das hospitalizações,
em 1996. A pesquisa permitiu observar ainda
que essa é uma causa de morbidade que
aumentou a sua importância relativa
dentro do conjunto de dados na medida em que
também aumentava a idade das pacientes.
Na faixa etária de 15 a 19 anos, a
taxa alcançou 7% e, nas mulheres de
45 a 49 anos, chegou a representar 26%.
Os
partos normais, juntamente com as afecções
obstétricas de ordem direta, se mostraram
responsáveis por uma taxa superior
a 40% do total de internações
femininas no Brasil.
Em segundo lugar no campo da morbidade feminina
evidenciaram-se as doenças respiratórias,
seja no País ou nas cinco regiões
principais; sendo que a partir da terceira
posição é que passaram
a transparecer as especificidades regionais.
A maior quantidade dessas internações
se concentrou no grupo de mulheres de 20-24
anos, representando 17% do total, e 13% nos
dois grupos próximos a este.
Depois
dos 45 anos Ao ultrapassar os 45
anos de idade, foram as doenças do
aparelho circulatório as que causaram
maior número de internações
femininas, seguidas pelas doenças do
aparelho respiratório (com destaque
para pneumonias, asma e bronquites). No mesmo
patamar foram encontradas as enfermidades
de natureza cerebrovascular.
As investigações relativas às
internações de mulheres sob
diagnóstico de doenças mentais
convergiram para uma concentração
mais significativa no grupo etário
de 35 a 55 anos, independentemente da região
onde moravam as pacientes incluídas
nos registros. Porém, chamou a atenção
o fato de que na região norte do Brasil,
essa tendência também ganhou
destaque em relação às
mulheres mais jovens, embora com menor intensidade.
Como
a área de saúde mental no Brasil
passou por radicais transformações
nas últimas décadas, ganhando
um espaço significativo a corrente
de pensamento dentro da psiquiatria defensora
da chamada desospitalização,
não é descartável a hipótese
de que essa mudança tenha embaralhado
as estatísticas ao longo dos anos pesquisados.
A socióloga Estela Maria, contudo,
evita tecer comentários a respeito,
pelo fato de o mesmo não ter sido desenvolvido
dentro da proposta metodológica adotada
para o estudo multicêntrico.
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