Quando a universidade incomoda, é porque ela está 
                            viva. A frase pode ser dita a propósito de 
                            eventos quase diários do cenário econômico, 
                            social e político: raros são os dias 
                            em que alguém lastreado na academia, uma inteligência 
                            que se dedica a ensinar e a investigar fenômenos 
                             enfim, a pensar  não sai a campo 
                            para atuar como consciência crítica da 
                            sociedade. 
                          
                          Não foi outra coisa o que 
                            aconteceu no dia 17 de junho, quando o documento intitulado 
                            A agenda interditada  uma alternativa 
                            de prosperidade para o Brasil, chegou à 
                            opinião pública com o peso de 305 assinaturas 
                            de intelectuais e economistas e, como uma bomba de 
                            efeito moral positivo, obrigou a uma reflexão 
                            sobre os rumos da economia, da sociedade ou do que 
                            se poderia chamar um projeto nacional de desenvolvimento.
                          
                          A gênese desse documento, 
                            que ficará como uma manifestação 
                            da intelligentsia brasileira num dado momento de sua 
                            história, seja qual for a sorte do país 
                            nos próximos anos, muito deve à iniciativa 
                            intelectual do economista Plínio de Arruda 
                            Sampaio Filho, que nele se revela, mais que um articulador 
                            de idéias e propostas, um catalisador da insatisfação 
                            da esquerda que durante décadas julgou-se portadora 
                            de um projeto distinto para o país e que, de 
                            acordo com o manifesto, não é este que 
                            se esboça em 2003. 
                          
                          Se os signatários da Agenda 
                            interditada têm razão ou não, 
                            só o tempo dirá. Mas a simples existência 
                            de uma peça de reflexão como esta já 
                            basta para qualificar o debate brasileiro e restabelecer 
                            uma tradição que corria o risco de ficar 
                            esquecida, que é o hábito do contraditório. 
                            O Jornal da Unicamp busca chegar lenha ao calor da 
                            discussão através da bela entrevista 
                            de Clayton Levy com o professor Plínio, colhida 
                            em sua sala no Instituto de Economia da Unicamp.