Uma
dose de esperança
Depois
de três abortos, a auxiliar de cozinha Sueli Tereza dos Santos, mãe
do pequeno Alexandre, ainda teve que enfrentar a descrença do marido, que
estava prestes a desistir de ter filhos. Encheu-se de coragem e convenceu o parceiro
a participar do programa capitaneado pelo obstetra e ginecologista Ricardo Barini.
Sem o marido, seria mais difícil conseguir a vacina para o tratamento,
produzida no Laboratório de Histocompatibilidade do Hemocentro da Unicamp
a partir dos linfócitos do sangue do esposo ou de um doador não
aparentado.
O
programa de imunoterapia, fonte de esperança para muitos casais que arriscam
nova concepção se espelhando em histórias de vida como a
de Sueli, só se tornou possível na Unicamp graças à
parceria com o Laboratório de Histocompatibilidade, onde são realizados
estudos para a seleção imunológica de doadores de órgãos
(rim, coração, fígado, medula óssea), bem como os
fatores envolvidos na rejeição. Se a gente for pensar bem,
a gestação é uma situação muito particular
na qual um transplante de um doador geneticamente não idêntico é
bem tolerado pelo sistema imune da gestante, comentou a responsável
pelo setor de cultura de células do laboratório, a doutora Sofia
Rocha Lieber.
Logo
que Barini trouxe o programa dos Estados Unidos para a Unicamp, o Hemocentro passou
a exercer papel fundamental no processo. Antes de iniciar o tratamento vacinal,
havia a necessidade de avaliar o estado de pré-sensibilização
da paciente aos antígenos de histocompatibilidade do esposo. Esta avaliação
passou a ser feita pela prova cruzada, conhecida como Crossmatch,
no qual o soro da paciente é misturado com linfócitos do esposo.
Caso a prova venha a ser positiva, significa que a paciente já possui os
anticorpos necessários para facilitar o desenvolvimento da imunotolerância,
não havendo motivo para fazer a vacinação. Caso a prova se
apresente negativa, é indicada a imunoterapia vacinal.
Cada
dose da vacina utilizada no programa de prevenção contra abortos
recorrentes é fabricada a partir de 80ml de sangue do marido. No Laboratório
de Histocompatibilidade são separados os glóbulos brancos do sangue
e os linfócitos que são acondicionados em seringas e encaminhados
à equipe de Barini, responsável pela aplicação das
vacinas nas pacientes, por via subcutânea.
Inicialmente,
as mulheres tomam duas doses, com intervalo de um mês. Trinta dias após
a segunda dose é repetida a prova cruzada. Se o resultado acusar que a
mulher desenvolveu anticorpos, ela fica autorizada a engravidar. Depois da concepção,
a paciente continua tomando a vacina durante os primeiros meses da gestação
em geral, mais quatro doses com intervalo de um mês. O tempo
crítico é o período compreendido entre os três primeiros
meses, durante a implantação das células embrionárias
na mucosa uterina, comenta Sofia. Das primeiras mulheres que se submeteram
ao tratamento com a vacina na Unicamp, 81% conseguiram levar a gestação
até ao final. Entre elas, está Sueli. Mãe de Eduardo, de
7 anos, um dos primeiros bebês a nascer na Unicamp por meio do programa.
Mãe do recém-nascido Alexandre, a confirmação do sucesso
do tratamento. E berço de razões para acreditar na vida.
Contato
Ricardo
Barini