A Unicamp chega aos 40 anos com muitos motivos para comemorar, principalmente no que toca ao seu ensino de pós-graduação. Nas últimas quatro décadas, a pós só fez crescer em tamanho e qualidade. Alguns números atestam essa evolução. A Universidade soma atualmente 25 mil dissertações e teses defendidas e responde por cerca de 10% da produção nacional na área. Além disso, seus cursos detêm a melhor nota média do país, conforme avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação. Vinte e quatro deles têm conceitos 6 e 7 da Capes, os mais altos de sua classificação. “Nosso principal desafio, com vistas ao futuro, é aprimorar esse nível de excelência. Uma das questões a serem trabalhadas é estimular ainda mais a interação entre as diversas áreas do conhecimento”, afirma a pró-reitora de Pós-Graduação da Unicamp, professora Teresa Dib Zambon Atvars.
O ensino de pós-graduação na Unicamp é diferenciado desde os primórdios da instituição, que já nasceu com a proposta de aliar o ensino à pesquisa. Aliás, essa tradição surgiu antes mesmo da fundação da Universidade, por mais pitoresco que possa parecer. É que o primeiro curso de mestrado teve início em 1962, portanto quatro anos antes do lançamento da pedra fundamental do campus de Barão Geraldo, por iniciativa da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), que seria incorporada à Unicamp apenas em janeiro de 1967. Em 1969, a Faculdade de Engenharia de Alimentos instituiu os cursos de mestrado em Tecnologia de Alimentos e Ciências dos Alimentos, que receberam autorização para funcionar em dezembro daquele ano.
Hoje, a Unicamp oferece 65 programas de mestrado e doutorado, englobando todas as áreas do conhecimento. Um dado que surpreende na pós-graduação é o fato de ela abrigar perto de 14 mil alunos, contingente que equivale a praticamente metade (49%) dos estudantes da Universidade. Esses pós-graduandos são responsáveis pelo desenvolvimento de pesquisas que geram conceitos, processos e produtos que colaboram tanto com o desenvolvimento do conhecimento, quanto para a geração de riquezas ao país. Outro aspecto importante do trabalho de qualificação realizado pela Universidade diz respeito ao potencial multiplicador do pessoal que se forma por aqui.
Embora os números oscilem um pouco a cada ano, entre 25% e 30% dos estudantes de pós-graduação da Unicamp são de outros estados do Brasil. Assim que deixam a Universidade, essas pessoas normalmente retornam aos seus locais de origem, onde atuarão em universidades, empresas privadas, institutos de pesquisa e órgãos governamentais. “Ademais, nós temos formado no decorrer dos últimos 40 anos expoentes nas mais variadas áreas do conhecimento. Esses especialistas têm sido responsáveis pela formulação e execução de importantes políticas públicas, seja na esfera federal, seja nos estados ou municípios”, lembra a pró-reitora de Pós-Graduação.
De acordo com a professora Teresa Atvars, o sucesso da pós-graduação se deve a três fatores fundamentais. Um deles é a qualidade dos professores. Outro, a boa infra-estrutura de pesquisa. O último aspecto, mas nem por isso menos importante que os anteriores, refere-se à alta capacidade dos alunos. Por considerarem a Unicamp como um centro de excelência, freqüentemente os melhores estudantes do país fazem questão de ingressar nos programas oferecidos pela Universidade.
Internacionalização
Uma iniciativa que tem ajudado a conferir ainda mais qualidade ao ensino de pós-graduação é o esforço da Unicamp no sentido de internacionalizar as atividades nessa área. Embora a participação em congressos no exterior e a publicação de trabalhos científicos nas mais renomadas revistas do mundo já fizessem parte da tradição dos professores, até há pouco tempo a Universidade dispunha de poucos mecanismos que possibilitassem aos estudantes viajar ao exterior. Isso tem sido progressivamente superado por meio de algumas ações, como o estabelecimento de intercâmbios com instituições estrangeiras. Há aproximadamente um mês, por exemplo, foi firmada parceria que permitirá o envio de 20 alunos dez da graduação e outros dez da pós para o cumprimento de estágios em escolas de nível superior da Espanha, por períodos de até seis meses.
Além disso, a Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) tem intensificado conversações com universidades estrangeiras, inclusive da América Latina, com o objetivo de abrir novos canais de intercâmbio. Atualmente, algo como 3% dos estudantes da pós-graduação da Unicamp são latino-americanos. A intenção é ampliar essa participação, bem como elevar o número de alunos brasileiros nos programas mantidos pelas instituições estrangeiras. “Essa vivência internacional é extremamente importante. Não só do ponto de vista profissional, mas também pessoal. É fundamental conhecer outras culturas e idiomas. Imagine visitar uma universidade européia que foi fundada antes mesmo do descobrimento do Brasil? Isso é enriquecedor”, analisa a professora Teresa Atvars.
Interdisciplinaridade
O fato de ter galgado uma posição de destaque no cenário nacional não significa que a pós-graduação da Unicamp esteja dispensada de buscar o aprimoramento. Um dos desafios a serem enfrentados no futuro é estimular a interação entre as diversas áreas do conhecimento. De acordo com a professora Teresa Atvars, isso já acontece em algum grau, graças à iniciativa dos professores, que encontram mecanismos de colaboração mútua. “Entretanto, ainda temos algumas barreiras formais que precisam ser superadas”, admite. Dois bons exemplos de cooperação entre áreas diferentes são os cursos de Planejamento Energético, ministrado em parceria pelo Instituto de Geociências (IG) e Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), e o de Relações Internacionais, este de caráter multiinstitucional, envolvendo Unicamp, PUC de São Paulo e Unesp.
Na visão da pró-reitora, a tendência é que a Unicamp adote novas medidas para favorecer essa abordagem interdisciplinar. “Atualmente, diversas áreas do conhecimento tradicional já não conseguem mais dar conta sozinhas de um problema científico de modo global. Assim, a colaboração entre vários segmentos do saber é a única maneira de cobrir esse problema em toda a sua complexidade, em todas as suas facetas. Quando se fala em ações voltadas ao planejamento energético, por exemplo, estamos falando numa diversidade de aspectos que precisam ser estudados, como gestão, equipamentos, meio ambiente, impactos sociais etc”, explica.
Um outro desafio que a pós-graduação terá de enfrentar, embora este dependa menos da Unicamp e mais das agências e órgãos governamentais, é a questão da concessão de bolsas de estudos. O atual número (algo próximo de 3,4 mil para mestrado e doutorado) não é suficiente para atender a demanda. À exceção da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que tem ampliado os investimentos nessa área, tanto a Capes quanto o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) têm cumprido caminho inverso. “Esse problema nos preocupa muito, assim como nos preocupa a falta de investimentos públicos na renovação do nosso parque instrumental. Sem bons instrumentos, não se faz ciência de ponta. No limite, se isso não for corrigido no médio prazo, penso que ficaremos distante da fronteira do conhecimento, o que nos colocará fora do mercado global”, adverte a professora Teresa Atvars.