Plano diretor disciplina expansão,
projeta o futuro e detecta gargalos
ALVARO KASSAB
A Unicamp vai implementar, até fevereiro do ano que vem, seu primeiro plano diretor. Segundo o pró-reitor de Desenvolvimento Universitário, professor Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva, este é o projeto mais ambicioso já desenvolvido na Universidade para equacionar os problemas de infra-estrutura e de ocupação de espaço do campus de Barão Geraldo. Dados coletados por uma força-tarefa formada por funcionários e alunos bolsistas estão sendo armazenados num sistema de informações geográficas. As edificações, os componentes do sistema viário e todas as árvores do campus já foram cadastrados. Essa massa de números não apenas norteará as intervenções a serem executadas como vai dar a dimensão dos gargalos existentes.
“Trata-se de um dos objetivos estratégicos da Pró-Reitoria porque servirá de base para todo o planejamento futuro”, revela Rodrigues da Silva, um médico pediatra familiarizado com grandes estruturas o docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) foi por três vezes superintendente do Hospital das Clínicas da Unicamp (HC). Na avaliação do pró-reitor, o plano diretor vai atenuar os problemas advindos do crescimento desordenado da Cidade Universitária nos últimos 40 anos.
“Não se trata apenas de uma exigência burocrática. Rigorosamente, muitos dos nossos prédios foram erguidos sem que fossem consideradas especificações elementares de infra-estrutura, entre os quais o suprimento de energia”, alerta. O pró-reitor pondera que a maioria das edificações, em razão do caráter emergencial das obras, foi concebida quando não existiam fibra ótica e computador e suas respectivas redes de água e esgoto foram implantadas sem registro. O titular da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário lembra que a planta original do campus de Barão Geraldo não previa esse crescimento. Toda área da saúde, por exemplo, não constava do plano inicial, sendo estruturada a partir da desapropriação de terrenos contíguos ao núcleo original.
Os efeitos da expansão desordenada são visíveis. O mais preocupante deles, na opinião do pró-reitor, é o estrangulamento do sistema viário. O número de veículos que circulam no campus aumentou muito nos últimos anos. Além do tráfego intenso em algumas áreas, faltam vagas de estacionamento. Distorções já foram reveladas em levantamentos preliminares feitos pela equipe de trabalho coordenada pelo arquiteto Lauro Luiz Francisco Filho, docente da Faculdade de Engenharia Civil (FEC). Em alguns dos estacionamentos fechados por cancela, por exemplo, a taxa de ocupação está na casa de 20%, enquanto na maioria das áreas falta vaga. Ademais, esclarece o pró-reitor, a situação provocada pela expansão das edificações repete-se na malha viária. “Na parte central do campus, no Ciclo Básico, não estava prevista a circulação de veículos, mas apenas de pedestres. Isso nunca foi respeitado”.
Mapas inteligentes
Segundo o pró-reitor, o plano diretor é prioritário por também inserir-se no âmbito das linhas mestras do Planejamento Estratégico (Planes), entre as quais a de ordenar o uso e a ocupação do solo e integrar ações que proporcionem qualidade de vida no campus. “O planejamento é fundamental. A partir de agora, o plano diretor norteará todas as decisões relacionadas à infra-estrutura do campus. Trata-se de uma ferramenta que contribuirá para que tenhamos uma escala de prioridades. Ele será atualizado periodicamente”. Alguns dos dados coletados pela equipe de trabalho, sobretudo os relacionados à parte “visível” do campus, foram apresentados na última reunião do Conselho Universitário (Consu), realizada no último dia 26.
Quatro grandes temas fundamentam o levantamento: sistema viário, uso do solo, meio ambiente e infra-estrutura (veja texto nesta página). Para cada um deles, há uma equipe de trabalho. Uma outra cuida do armazenamento e da tabulação dos dados. Segundo o professor Lauro Luiz, coordenador do plano diretor, o sistema de informações geográficas é dinâmico e torna inteligentes os mapas. “Trata-se de um sistema que não só interliga informações como também cria cenários”.
Depois de montado todo o sistema, explica Lauro Luiz, ele funcionará como suporte à gestão do campus. Por intermédio do banco de dados, todas as pessoas envolvidas com a administração do campus terão acesso às informações. Para isso, será criado um setor para gerir e atualizar essa base. “Os gestores terão informações de quaisquer naturezas e em qualquer momento”.
O plano diretor será consubstanciado a partir de um conjunto de diretrizes que serão transformadas em portarias. “O sistema de informações será a nossa base, a nossa fundação. Sobre ele construiremos o edifício, que será o plano diretor”, compara Lauro Luiz. “A diferença entre o projeto e um plano diretor, é que no projeto o engenheiro elabora todo um conjunto de plantas, fecha, entrega e constrói. Já o plano diretor é um projeto que chamamos de ciclo aberto. A partir da elaboração de um conjunto de diretrizes, são definidas ações que serão implementadas ao longo do tempo. Ele passa a ser contínuo e permanente”. O futuro da Unicamp começa a ser delineado.
Os quatro temas do plano
Sistema viário
Um macro-zoneamento dividiu o campus em quatro áreas: a central, no Ciclo Básico, que apresenta ruas bem direcionadas, sendo possível desafogar o trânsito; a das vias próximas à Reitoria; a da área da Saúde, onde há maior demanda de veículos cerca de 30 mil trafegam por ali diariamente e é a mais problemática de todas, por ser a menor; e a região da Feagri. Não havia articulação entre elas, o que está sendo implementado. A equação mais difícil, porém, é a relação entre espaço e o grande número de veículos incorporados anualmente à malha viária. Esse aumento é causado, segundo Lauro Luiz, em razão do crescimento vegetativo do campus e pela mobilidade social a facilidade na compra de automóveis praticamente duplicou a demanda por espaço. São duas frentes a serem tratadas: o tráfego intenso, sobretudo nos horários de pico, e a de vagas em estacionamentos.
Uso do solo
Segundo Lauro Luiz, se o adensamento do campus continuar nesse ritmo, daqui a 20 anos “ele vai ficar parecido com uma cidade medieval”. Por outro lado, há a necessidade de novos prédios serem incorporados. A saída, segundo o engenheiro, é promover a verticalização de forma disciplinada. As abordagens passam por duas frentes: a primeira, solucionando os problemas das antigas edificações, e a outra disciplinando as novas construções a serem erguidas em áreas hoje ociosas. “O prédio terá de ser projetado para suportar três ou quatro pavimentos, mesmo que num primeiro momento não seja possível terminar a obra”. Foram cadastradas e mapeadas as condições de 853 prédios.
Meio ambiente
Serão priorizadas a preservação o campus tem áreas protegidas, com espécies raras da flora e a realidade urbana (paisagística). Neste último caso, por exemplo, existem árvores que foram plantadas em locais inadequados, causando problemas nas redes elétrica e de esgoto. Foram quantificados e qualificados todas as espécies do campus, com a respectiva catalogação.
Infra-estrutura
Segundo Lauro, o mais complicado de todos temas em razão dos dois níveis de intervenção. O primeiro, de infra-estrutura, abrange rede de esgoto, fornecimento de água, drenagem fluvial etc. No nível de suporte estão telefonia, eletricidade, dados etc. “Muitas vezes ocorrem problemas, sobretudo quando atuamos no subsolo. A rede de esgoto original, por exemplo, tem tubulações obsoletas”.