Pelo menos uma
vez por mês o professor José Carlos Paes de Almeida Filho, do Departamento
de Lingüística Aplicada do IEL-Unicamp, reserva um dia para passar
um pouco de seus conhecimentos em lingüística aplicada a docentes
de estabelecimentos de ensino da rede pública. É quando ele reúne,
no auditório do Instituto, cerca de 50 professores participantes do Projeto
Integração Unicamp/Escolas Média e Fundamental para a Renovação
do Ensino de Línguas. Na última sexta-feira (dia 22), o encontro
enfocou o tema Duas abordagens de ensino de línguas dos nossos dias:
Sistêmica-Gramatical e Sócio-interativa/Comunicativa. Com
o apoio da Secretaria de Extensão do IEL, o seminário teve como
principal proposta a divulgação da pesquisa desenvolvida na Unicamp
destinada a professores de nível secundário e mostrar maneiras e
alternativas de aproveitamento do conhecimento que a Universidade pode repassar
aos professores. O objetivo é melhorar o rendimento em sala de aula, inclusive
em estabelecimentos de outros níveis de escolaridade. Para
o professor José Carlos, uma das propostas do encontro é colocar
à disposição dos docentes todo o conhecimento técnico
produzido nos projetos da Universidade, além dos procedimentos de ensino
e aprendizagem evidenciados como os mais relevantes, para que os docentes obtenham
êxito no cumprimento de sua tarefa como educadores em língua estrangeira.
O professor lembrou ainda a necessidade premente que o professor de escolas da
rede tem de se reciclar em virtude de problemas que enfrentam nos dias de hoje,
como condições de trabalho, remuneração, mudanças
de currículo e falta de material adequado para dar uma boa aula. José
Carlos apresentou algumas questões, consideradas problemáticas,
mas que podem ter possíveis soluções. Por exemplo, é
muito comum encontrar um professor desmotivado, desestimulado, despreparado ou
mal formado, muitas vezes sem acesso aos poucos cursos de atualização
ou de especialização, sem auxílio de material de trabalho
enviado pelo governo Federal ou Estadual. E cita, como uma das possíveis
soluções, a formação forte e mais refletida desses
professores. No
ensino de línguas sobressaem as questões voltadas para a busca de
alternativas ao ensino puro e simples da gramática e da pouca fluência
do professor na própria língua-alvo. Dessa forma, desenvolve-se
aí o combate às faculdades de beira de estrada, descompromissadas
com a qualidade e níveis mínimos para certificação,
avalia o professor da Unicamp. Ele
ressalta que, para se ter um bom exemplo, em muitas escolas a falta de livros
didáticos destinados aos alunos é uma constante. Em outras, verifica-se
que o docente fica muito preso ao livro e à forma gramatical enfatizada.
Isso acaba, no entanto, provocando pouco aproveitamento dos recursos tecnológicos
existentes, como retroprojetor, o vídeo, o computador e a internet. Uma
alternativa para a solução de problemas desse tipo seria que houvesse
maior apoio oficial à produção, à compra e à
distribuição de material didático. Nas escolas da rede,
por exemplo, falta material destinado ao ensino centrado na gramática que
valorize o uso comunicativo da língua estrangeira. Para isso, as universidades
poderiam colaborar abrindo espaço à pesquisa aplicada visando a
produção desses materiais alternativos aos que predominam hoje,
diz José Carlos.
Observa que o professor de língua estrangeira, especialmente o de ensino
público, freqüentemente acumula a função de professor
de Língua Portuguesa quando então teria maior êxito se se
dedicasse especificamente a apenas uma delas. E como solução
possível gostaria de sugerir que os currículos dos cursos de Letras
passassem por modificações para aumentar, por exemplo, a reflexão
sobre a prática, estimulando maior participação do aluno-professor
em eventos e associações profissionais. Isso no sentido de desenvolver
já antes da formatura uma competência profissional engajada e responsável,
ressalta.
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