Todas
as quintas-feiras, lá pelas duas da tarde, no terceiro andar
do Hospital de Clínicas da Unicamp, Ismar apanha o seu violão
Samick, de fabricação coreana, e passa a acompanhar o coro formado
pelo pessoal do Grupo da Terceira Idade, pacientes assistidos
pelo Serviço de Assistência Social do HC. Além de músico, Ismar
Avelar Barros é assistente social do ambulatório do hospital
e, com a sua música, acredita que pode resgatar o amor próprio
dos idosos que por ali passam.
“O
que me proponho, pelo menos por uma meia hora, é proporcionar
um pouco de entretenimento aos pacientes da terceira idade e,
para isso, eu acredito, nada melhor do que a música”, diz. Funcionário
da Unicamp há 22 anos, Ismar nunca estudou música em conservatório
e o que sabe aprendeu por conta própria. “De ouvido”, explica,
embora tenha uma boa base de teoria musical. O músico costuma
dizer que é na música que encontra o ponto de equilíbrio para
ter serenidade suficiente para poder lidar bem com a realidade
de um hospital como o da Unicamp. “É na música que encontro
um jeito de renovar as minhas energias para continuar”, diz.
Por
muito tempo tocou e cantou na noite, passou por boates, restaurantes
e barzinhos de Campinas. Recentemente cantou e tocou violão
no aniversário do então prefeito de Campinas, Antônio da Costa
Santos, o Toninho, comemorado em março na Pizzaria Monte Belo.
Hoje conta com um repertório de mais de 400 canções, que vão
da música popular brasileira, o bolero, a rumba, a guarânia,
passando pelo rock e até o axé-music. Tem ainda mais de 300
composições próprias.
“Algumas
apenas faltando letra”, explica. Na Bossa Nova, uma das músicas
que mais aprecia é Garota de Ipanema (de Tom Jobin e Vinícius
de Morais), que toca com todo os acordes que a música contém.
Aprecia Chico Buarque, Caetano Veloso, Pink Floyd, Elton John,
B. B. King, Jimmy Hendrix e Mark Knofler, da banda Dire Straits,
com o qual se diz identificar. No entanto, Eric Clapton é o
guitarrista por quem tem verdadeira admiração, e, há certas
ocasiões, que tenta imitar. É interessante observar que o acompanhamento
de Ismar não é simplificado, com dois ou três acordes. Não importa
o gênero que faça, a música que executa tende a obedecer todos
os acordes que obra exige, com todas as suas mais sutis passagens
e dissonâncias.
“Tocar
na noite é interessante porque o público que a freqüenta é um
público mais exigente, conhece e sabe a música que quer ouvir.
Daí, não dá para simplificar demais a canção. Dependendo do
público, tem que se tocar de tudo”, explica o músico. Ismar
já está na estrada há muito tempo. Diz que começou quando tinha
14 anos, quando teve o primeiro violão. Na medida em que ia
aprendendo a fazer acordes diferentes, ia também escrevendo
música. “Uma salada de ritmos e gêneros. Campricho na harmonia,
na melodia. No entanto, ultimamente ando com um pouco de preguiça
para fazer uma boa letra, algo que combine com uma melodia que
porventura eu possa ter na hora”, admite o músico.
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Jardineiro
da FCM é maratonista
Ele
já trabalhou em granja, na roça, em fábricas de papel e de
doces, numa empreiteira, na produção de sacos de papel, num
hospital. Fez serviços gerais, capinou. Foi jardineiro, auxiliar
de fabricação numa pesquisa de plantas, servente de pedreiro,
pedreiro, expedidor, montador de câmbio de carro, lubrificador,
tratorista, operador de máquinas agrícolas, empilhadeirista
e, ainda por cima, sempre fez bicos nas horas vagas. Parece
se tratar de um típico caso de workaholic, termo inglês que
significa “viciado em trabalho”. Depois de cumprir incansavelmente
esse currículo, o Seu Aristides Bianchi se aposentou.
Começou
aí sua história na Unicamp, contra-tado através da Funcamp
em 1995, como jardineiro no Setor de Jardinagem da Faculdade
de Ciências Médicas (FCM), após ter passado rapidamente pelo
Parque Ecológico. De cara, foi promovido a encarregado, mas
sem deixar de lado o capricho da poda e manutenção dos jardins
ao redor da Faculdade.
Esta
pode ser uma experiência até certo ponto comum para muitas
pessoas que se aposentam, mas o que não é tão comum é alguém,
aos 55 anos, voltar porque adora trabalhar. Depois de perceber
que sua grande qualidade é encarar múltiplas atividades ao
mesmo tempo, Seu Aristides descobriu uma nova motivação na
vida: correr, “mais ainda”, diz ele. “Sempre gostei de assistir
a maratonas pela televisão. Aos poucos, vi que as corridas
eram bem o que eu desejava fazer.”
Ao
chegar a essa constatação, a escolha veio naturalmente. “Devido
a um problema de saúde, colesterol alto, precisei perder gordura.
Foi assim que comecei a correr em torno da Lagoa do Ginásio
Multidisciplinar, a princípio aos domingos e, atualmente,
às quartas e sextas-feiras”. Vinha para a Unicamp de bicicleta
e fazia treinos por conta própria, correndo pelo menos 7 km,
conta o funcionário.“Na
primeira vez, fiz 3 km. Mais adiante, parti para as maratonas
na categoria 55 a 60 anos.”
Trajetória
de esforço – Aristides está somando agora quatro participações
em maratonas: na Integração, em 2000, fez 10 km em 53 minutos,
classificando-se entre os 100 melhores; na de Americana, fez
12 km em 60 minutos, cabendo-lhe uma 10a colocação em sua
categoria; na de Barão Geraldo, no último dia 7 de setembro,
fez 7 km em 29 minutos, alcançando o 5o lugar, sua melhor
marca; e na Integração deste ano, realizou o percurso de 10
km em 49 minutos, chegando em 76o lugar. Diminuiu o tempo,
portanto, em quatro minutos em relação à Maratona Integração
anterior.
Hoje,
além de diminuir o excesso de colesterol, Seu Aristides encontrou
uma nova paixão: “competir, mas por prazer. Vou melhorar meu
recorde, pois comecei o esporte há pouco.” O funcionário é
casado, tem dois filhos e muito orgulho de trabalhar e de
correr.
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